Enquanto algumas famílias optam por manter a imagem dos filhos afastada das redes sociais pelo maior tempo que conseguirem, o casal Maju Mendonça, de 41 anos, e Arthur Luis Cardoso, de 48, escolheu compartilhar com o público online alguns extratos das brincadeiras da filha e da rotina familiar.
Também pudera, a dupla de comunicadores — ela jornalista, ele diretor de uma rede de rádios — trouxe ao mundo uma garota que, aos quatro anos, fala pelos cotovelos e tem uma desenvoltura que parece de gente grande, a encantadora Lulu. "No próximo mês, ela faz 30 anos", brinca uma seguidora em um dos muitos comentários de um dos vídeos postados, no qual a pequena conversa com os pais sobre a importância de ter amor por todas as coisas.
Há cerca de dois anos, o jeitinho de Luísa Mendonça Benedito vem conquistando as redes sociais, de modo que hoje, somando os números das redes sociais dos pais — onde são publicados todos os vídeos de Lulu — já são 15 milhões de seguidores. A convite de Donna, a mãe, Maju, topou conversar sobre os desafios de ter uma "míni-influencer" em casa e explicar o que há de bom nessa dinâmica e os cuidados que tomam quanto ao que mostrar ou manter na privacidade da família.
— Talvez para as pessoas pareça muita coisa, mas só postamos uma pequena parcela do nosso dia. O que acontece de melhor no nosso dia a dia a gente não grava — afirma Maju.
A família mora em Brasília e recebeu Lulu com surpresa, já que Maju teve uma suspeita de pré-menopausa e chegou a achar que não poderia engravidar. A menina veio para transformar por completo a vida e a carreira da mãe, que fez uma transição do ofício de jornalista para o de influencer sobre maternidade e família:
— Eu já estava muito realizada profissionalmente quando descobrimos a gestação da Lulu, então decidi me dedicar à maternidade. E aí, de forma inesperada, foram acontecendo as coisas do digital. Hoje, a nossa família poder ser uma fonte de alegria nos dá a sensação boa de que estamos fazendo algo de bom pelos outros.
Na avaliação da mãe, o que tem vindo de melhor da experiência no digital é perceber que os conteúdos servem como inspiração ou revigoramento para um público diverso: vai de mães a meninas, garotos adolescentes, pais e senhoras de 90 anos. As redes sociais de Maju e Arthur são lugares para buscar ideias de maternidade, paternidade, relacionamento familiar ou simplesmente para se divertir com as peripécias da Lulu.
No mês passado, quando o Rio Grande do Sul clamava por ajuda para combater os efeitos da enchente, Maju explicou para a menina sobre a situação do Estado e Lulu gravou, então, um vídeo pedindo para os seguidores doarem produtos de higiene, água potável e colchões. Só no Instagram, são mais de 16 milhões de plays.
— Que bom que temos esse espaço, essa voz que chega até as pessoas e que pode conscientizar sobre algo que está acontecendo. Não tem como não fazer isso, o Rio Grande do Sul está aqui do nosso lado e vivendo um momento muito difícil que poderia ser com a gente. E ter essa oportunidade de ensinar a Lulu a olhar e cuidar do próximo é um privilégio — avalia Maju.
Confira a entrevista com Maju Mendonça:
Como começou essa presença no digital?
Foi de forma totalmente inesperada, não me dedicava muito ao digital inicialmente e não postava coisas da Lulu. Estava focada na maternidade, até porque era pandemia e nós não tínhamos rede de apoio em Brasília. Lulu estava com dois anos quando postamos o primeiro vídeo que viralizou, bem despretensioso. Fizemos mais para quem é próximo da gente, postamos no TikTok do Arthur que tinha poucos seguidores, uns 300 amigos e familiares.
Do que falam nesse primeiro vídeo?
Sou eu entrevistando a Luísa. Foi num sábado em que acompanhamos o Arthur no trabalho na rádio, a Lulu sempre via o pai apresentando podcast e programas. Aproveitamos que tinha um estúdio vazio e gravei uma entrevista de brincadeira com ela, "Qual é o seu nome?", "Quantos anos você tem?", "O que você gosta de comer?". Editei rapidinho no celular e postamos. Na manhã do dia seguinte, vimos que já tinha mais de um milhão de visualizações e que a galera do Instagram estava repostando esse vídeo lá. Foi aí que começou.
As pessoas comentam que a Lulu parece uma "adultinha" falando. De onde acham que vem a desenvoltura dela?
Acho que foi a junção de duas coisas. Sempre conversamos muito com ela e a estimulamos contando muita história, ouvindo muita música. E ela sempre foi muito comunicativa, expressiva. É claro que até certa idade se comunicava do jeito dela, como uma bebê, "dá dá dá, tá lá lá", falava muito só que ainda não dava para compreender. Mas ela nunca teve receio de falar mesmo sem saber pronunciar. E aí com dois anos parece que ela virou uma chave com relação à fala e à pronúncia. Passou de uma criança que falava palavrinhas pela metade — médico era "mé", o carro era "cá" — a alguém que forma frases completas com oito, nove palavras.
Algumas mães e pais preferem não infantilizar a voz para falar com a criança. Vocês fizeram algo nesse sentido?
Ela nunca teve receio de falar mesmo sem saber pronunciar. E aí com dois anos parece que virou uma chave com relação à fala e à pronúncia
MAJU MENDONÇA
mãe da pequena Lulu
Sim, a gente sempre conversou com ela de forma amorosa, mas muito natural e sempre trazendo ela para dentro do núcleo familiar, sem deixá-la à parte da nossa rotina. É, por exemplo, chegar do trabalho e contar as coisas, "papai hoje estava no trabalho, foi assim e tal", ou "a vovó ligou para saber como você está", etc.
Por que acham que as pessoas estão interessadas em consumir os conteúdos que vocês postam?
Acho que tem a ver com a verdade, porque eles refletem muito o que nós somos como família mesmo, como pais, como casal, transmitimos valores como amor, afeto, carinho, respeito. E recebemos muitas mensagens falando "seus vídeos estão mudando a minha relação com o meu filho". Queremos ajudar as pessoas, seja no sentido de fazê-las se sentirem felizes, se emocionarem, acharem algo fofo, seja incentivando a pararem para pensar "olha, o desfralde da Lulu foi assim, de repente posso tentar isso com a minha filha", "acho que pode funcionar essa introdução alimentar", então também ser informativo nesse sentido.
Tem vídeos fofos em que Lulu diz que o pai "está um gatinho" e que você "é a coisa mais linda". Vocês tentam construir a noção de que o filho também pode elogiar os pais?
Eu e Arthur sempre tivemos uma relação de muito apego, carinho, de estar sempre junto, é o nosso jeito de ser e viver. Quando Lulu nasceu, ela veio para se somar a isso, então a gente faz tudo em família, sempre juntos e estimulando essa questão do carinho, do elogio, do afeto, do apego. Gostamos de estar juntos, tem quatro quartos na nossa casa, mas gostamos de estar os três grudados no sofá.
Há famílias que optam por uma dinâmica de redes sociais bem diferente da de vocês, não postam fotos e vídeos que mostrem os filhos. O que pensam sobre a exposição nas redes?
A gente jamais imaginou que as coisas tomariam a proporção que tomaram e, embora tenhamos uma preocupação em mostrar a nossa verdade, entendemos que têm coisas que não devem ser expostas. Por exemplo, não expomos momentos de frustração da Lulu porque entendemos que é o momento de acolher os sentimentos e cuidar dela, não tem por que mostrar. Até para preservar ela, porque amanhã ou depois, quando ela assistir aos vídeos, vai se orgulhar do que está ali. Verá amor, aconchego e exemplo. E temos um cuidado muito grande com o corpinho dela. Recentemente fizemos uma ação para uma marca de xampu em que ela está de maiô, mas você verá que não tem imagens da perninha dela aparecendo, só a parte de cima do maiô.
Quanto dessa dinâmica parte da própria Lulu?
É 100% dela. Os vídeos que postamos a gente só grava quando ela quer gravar, no momento dela. E se você perceber, muitos são apenas um recorte do momento, não tem um roteiro, é raro haver algo pensado anteriormente. Por exemplo: de uma brincadeira que ela está fazendo, a gente registra um minuto e posta, mas a brincadeira na verdade durou uma hora.
Sempre há o debate de como ficam os lucros que vêm do trabalho de atrizes e influenciadoras mirins. Como vocês pensam essa questão?
A Lulu tem a conta dela, para onde vai o que é destinado para ela, já tem os seus investimentos. Então a gente tem esse cuidado e essa preocupação que é superimportante.
E ela recebe hate?
Acho que o hate faz parte, a gente lida com isso. Mas é uma parcela mínima, e quando a pessoa lança um hate normalmente são contas fakes. Acredito que o comentário maldoso diz muito mais sobre a pessoa que parou ali para fazer do que propriamente sobre nossa família.
De jeito nenhum a Lulu acessa as redes sozinha
MAJU MENDONÇA
Como é a relação da Lulu com esse posto de influencer?
De jeito nenhum a Lulu acessa as redes sozinha, e a gente tem uma vida muito comum, temos os mesmos amigos, fazemos as mesmas coisas, frequentamos os mesmos lugares. Claro que hoje na rua é um pouco diferente, a gente recebe um carinho a mais, mas procuramos não dar para essa situação um valor além do que ela tem. Somos gratos, mas tentamos muito ensinar para a Lulu que a nossa realidade continua sendo a mesma, com os mesmos valores que queremos passar para ela sobre o que é mais importante na vida, o que realmente vale a pena.
Vocês está grávida do José Vicente, que deve nascer em agosto. Como está pensando na chegada dele com relação à presença digital?
Imagino que naturalmente vai acontecer de ter conteúdo, porque faz parte da rotina da família e porque sou jornalista, gosto de informar e ajudar. Já fui mãe de primeira viagem, cheia de dúvidas, então acho que é uma oportunidade de levar experiência sobre esse tema, há um leque de assuntos importantes que podem ajudar outras mulheres com filhos. E é interessante também porque sei que a segunda gestação não é igual à primeira, portanto em vários aspectos serão primeiras vezes para mim também. Hoje provavelmente várias coisas da maternidade estão diferentes, e aí a gente vai se atualizando e vivendo um momento juntas nas redes sociais, compartilhando conhecimento.