O timming sorriu para Ana Furtado neste 2023. Depois de mais de cinco anos em tratamento contra o câncer de mama, a apresentadora, jornalista e atriz de 49 anos teve a alegria de tomar o seu último comprimido de bloqueador hormonal no dia 30 de setembro – momento que compartilhou com os seguidores em um vídeo nas redes sociais. Dessa forma, a carioca declarou a batalha encerrada de vez e entrou no Outubro Rosa, mês de conscientização sobre a doença, ainda mais vitoriosa e aliviada.
– Acabou! Acabou! Ah, que alegria, consegui! Conseguimos! – comemora no vídeo, onde aparece emocionada ao lado do marido, o diretor de TV Boninho.
A jornada até o final feliz é contada por Ana no livro Até Nunca Mais: Como Aceitei, Resisti e Superei um Câncer, lançado em 2 de outubro pela editora Planeta. Nas primeiras páginas, a apresentadora define o câncer como um “visitante indesejado”, alguém que resolveu bater a sua porta sem combinar antes, sem avisar por mensagem e quando ela sequer tinha tempo para pausar a rotina e lhe fazer sala. O diagnóstico veio em 2018, ano que considera o mais duro da sua vida até agora. Durante o banho, Ana sentiu um nódulo em uma das mamas e foi movida pela intuição a investigar mais a fundo um cisto que já havia aparecido numa mamografia recente, mas não tinha preocupado os médicos. Por insistência sua, fez a biópsia que revelou o tumor maligno.
— Por toda a minha vida tive que provar o meu valor e capacidade de dar o melhor em tudo, e o câncer me deu a real. Reavaliei toda a minha vida e as minhas escolhas. O câncer, no fundo, me salvou. Entendi a lição de que ganhei uma segunda chance para ser e viver melhor — afirma em entrevista à Donna por email.
Depois do diagnóstico vieram a cirurgia e as sessões de quimioterapia e radioterapia. Embora se mantivesse confiante na cura e motivada a sobreviver – por si mesma, pela filha de 11 anos à época e pelo combinado de envelhecer ao lado do marido –, revela que o processo todo foi um baque à autoestima. Acostumada a se mostrar sempre impecável diante das câmeras, ver sua beleza impactada pelas medicações a fez se sentir frágil, a ponto de não conseguir assumir que usou próteses capilares durante o tratamento — informação que trouxe à público somente na semana passada, em entrevista a Ana Maria Braga:
— De repente ser considerada uma mulher com câncer, e a minha vaidade ser abalada dessa forma, eu não sabia o que falar. Eu tinha medo. Hoje já não tenho medo nenhum — disse.
O livro recém-lançado é um dos novos projetos que está tocando desde que encerrou a parceria de 26 anos com a Rede Globo, no ano passado. A renda arrecadada com a venda será destinada ao Instituto Protea, entidade da qual é embaixadora e que oferece suporte ao tratamento contra o câncer de mama para pacientes de baixa renda. No currículo que já tem uma infinidade de trabalhos na TV — esteve, por exemplo, no elenco de Caminho das Índias (2009) e de A Dona do Pedaço (2019) e participou de programas como Vídeo Show (2002–2006) e É de Casa (2015–2022) – Ana está agregando novas experiências. É o caso da função de embaixadora awards do TNT Brasil, onde está encarregada de comandar transmissões como a do Grammy e do Oscar no canal fechado.
No bate-papo a seguir, Ana projeta o futuro, detalha seu processo de cura e os desafios do tratamento que ficou no passado. E explica como a doença foi sua professora, ensinando sobre humanidade e a fazendo se colocar no topo das suas prioridades.
Qual é a sensação de encerrar o tratamento?
A sensação é de vitória, alívio e alegria por ter acabado, e de gratidão por ter passado por isso e saído mais forte. São muitas as sensações, mas a maior delas, sem dúvidas, é a de gratidão.
Como reagiu ao receber o diagnóstico em 2018?
Percebi que tinha algo estranho fazendo autoexame durante o banho. Esse momento é ideal para apalpar, das mamas até as axilas, e assim investigar se tem algum caroço ou algo diferente ali. A partir daí foi tudo muito rápido. Corri para minha ginecologista e mastologista, fiz exames de imagem que incluíram mamografia, ultrassonografia e ressonância, fiz uma autópsia e, dentro de três dias, descobri que se tratava de um câncer. Eu tive muita sorte, peguei logo no início. Autoexame não substitui os exames de rotina, pois nem todos os tumores são palpáveis, mas a prevenção é fundamental.
E o que fez para se manter confiante?
Nem sempre consegui me manter confiante. Fui aos poucos aprendendo e entendendo. E tendo muita fé, isso sempre tive.
Qual foi o maior desafio e o maior aprendizado desse período?
Foi a própria doença, lidar com o medo, com a insegurança e até mesmo com minha vaidade. Mas nada foi maior do que o foco em me cuidar e em seguir o tratamento com muita determinação. A doença já era um grande desafio, precisei reconhecer, aceitar e respeitar minhas limitações e fragilidades. Ela me ensinou muito, principalmente, sobre nossas fraquezas. Mas saí mais forte do que nunca.
Como ficou a questão da queda de cabelo?
Eu usei próteses e na época não consegui admitir. Achei que era algo que não ia me incomodar tanto, mas tive mais um aprendizado. No meu caso a crioterapia, uma touca que resfriava o couro cabeludo, funcionou. Mas, como eu digo sempre: não foi fácil, mas possível.
Grupos de apoio são uma rede à qual muitas mulheres recorrem no tratamento. Fizeram parte da sua rotina?
Tive uma rede de apoio muito linda, em tempo integral, e sei que nem todo mundo tem a mesma sorte que eu neste sentido. Então minha recomendação é sim, busque apoio em alguém, se possível. Inclusive apoio de instituições, como o Instituto Protea, que dão suporte para mulheres em tratamento. Busque ajuda. Você não está sozinha.
Cinco anos é um tempo longo. De que forma a Ana de 2023 está diferente da de 2018?
Em tudo. Além do câncer, o meu tratamento termina de fato poucas semanas antes de eu completar 50 anos, então mudei por dentro, por fora, mudei profissionalmente. E hoje só quero fazer o que me faz bem. Entendi que se não for assim, não vale. O câncer me salvou me dando um novo olhar e uma segunda chance para ser e viver melhor. Estou nesse momento.
Você tem um conselho para quem ainda está na luta contra a doença?
Tenha fé, busque ajuda e saiba que você não está sozinha nessa. Você vai sair dessa, vai se curar e, com fé, ainda mais forte. E que a cura também seja sua.
Você escreveu um livro sobre sua jornada com o câncer de mama. O que compartilhou ali?
Tudo. Escrevi meu processo inteiro nesse livro, inclusive aqueles mais dolorosos. Se ele tocar e ajudar uma pessoa que seja, terei cumprido meu objetivo.
E sobre novos projetos, o que está no horizonte? Ouvi falar que vêm um programa e um podcast por aí...
Está sabendo com muita antecedência! (Risos) Mas sim, meu próximo projeto envolve programa para as minhas redes. Estamos pensando. Já já eu conto mais.
E na TV? Pensa em voltar a se comunicar por ali?
Claro, por que não? Mas por enquanto o novo projeto está criado para o digital. Saí da TV aberta com o objetivo de fazer coisas diferentes, então sigo nesse desejo. Além disso, sigo como embaixadora das premiações do TNT. Estou amando esse papel de representar o público numa festa de premiação. Junto com comentaristas e especialistas, fica uma festa bem boa. Então quem quiser me ver na TV, temos mais alguns encontros ali.
Em outubro, você celebra 50 anos de vida. Como chega a esse marco?
Com gratidão e desejo de viver ainda mais.
Quais têm sido seus rituais indispensáveis para cuidar do corpo e da saúde mental?
Comer bem e me exercitar sempre. “Vai que dá!” é meu lema quando a preguiça chega. Além disso, levar uma vida de paz, fazer o que me faz feliz e ter fé. Pode parecer clichê, mas tudo isso exige dedicação diária. Meu foco é nisso!
Outro número importante é o da relação com Boninho, com quem você é casada há mais de 20 anos. Qual é o segredo dessa parceria?
Boninho é meu grande parceiro, meu grande amor e meu melhor amigo. O segredo é querer todo dia estar junto.