— Ken não é só um acessório da Barbie — defende, rindo, o jornalista Bernardo Guedes.
Para alguém que tem um acervo impressionante, como ele, é claro que a figura masculina que apareceu como companheiro da boneca pela primeira vez em 1961, é protagonista. Morador de Novo Hamburgo, Guedes é apaixonado pelo personagem e é considerado o maior colecionador de Kens do país pelo Rank Brasil – uma espécie de Guinness para recordes nacionais.
Quando conquistou o título, em 2019, comprovou que tinha 101 exemplares. Hoje, ele não divulga o total da coleção, mas garante que são centenas, no plural. Barbies, só “as que acompanham o Ken na caixa”.
— No mundo do colecionismo a gente não costuma revelar. É uma estratégia para não vir outro querendo tirar o troféu de mim. Também tentei entrar paro o Guinness internacional, mas desisti, pois a inscrição é bem cara — explica.
Guedes tem 45 anos de vida e há 13 acumula bonecos. Mas a sua história com Ken começa ainda criança, quando queria muito ter um, mas não podia, pois a família considerava “brinquedo de menina”.
Com muita insistência, acabou conseguindo uma barganha com a avó: se tirasse sempre boas notas e mantivesse o quarto arrumado, ganharia.
— E fazia tudo, porque queria muito ter. Ganhei o boneco, mas ele tinha que ficar escondido em uma gaveta, porque ninguém podia saber que eu tinha um brinquedo de menina. Amava brincar com ele, mas tinha que ser bem escondido. Assim foi a minha infância inteira, era o brinquedo de que mais cuidava — relembra.
Quando cresceu, Guedes deparou-se com uma exposição da Mattel em um shopping de Porto Alegre, onde conheceu Carlos Keffer, um dos maiores colecionadores de Barbies do Brasil. “Você não é mais criança, agora pode comprar” foi o incentivo que recebeu ao contar sobre sua paixão. Foi o começo da sua trajetória no colecionismo.
— Comecei a comprar enlouquecidamente! Eu sempre quis ter o Ken e sempre me espelhei nele, nas roupinhas e tudo o mais, assim a paixão foi crescendo. Sempre gostei de glamour, sofisticação, e o mundo Barbie tem muito disso. Também gosto da crença de que “Você pode ser tudo o que quiser” — afirma o jornalista.
Ele já participou de programas da TV aberta, o que tornou sua coleção mais conhecida e o conectou com outros fãs desse universo. Também criou, em 2019, a Pink Tour, um grupo que reúne apaixonados pelos personagens, bem como imitadores – Barbies e Kens humanos.
Juntos, já visitaram cidades como Curitiba, Porto Alegre e São Paulo, participando de eventos onde fazem fotos com crianças e adultos, além de arrecadar alimentos para iniciativas sociais.
O filme
Para comemorar o lançamento do primeiro live-action da Barbie, Guedes e os membros da Pink Tour estarão em São Paulo no dia 20 de julho. O plano é assistir ao filme em sua pré-estreia no cinema e conferir uma casa gigante da boneca que será montada em um shopping da cidade. E, claro, aproveitar para tirar fotos com fãs.
— Minha expectativa pelo filme está tão alta que só espero que ele não me decepcione (risos). Pelo que vimos, ela vai sair da Barbielândia, vir para o mundo real e perceber que as crianças não estão mais brincando de Barbie. Acho que esse vai ser o grande lance do filme e é uma das bandeiras que defendo, que criança tem que brincar com o que quiser. A menina pode, sim, jogar futebol, o menino pode brincar de panelinha. Experimentar mundo e possibilidades é muito melhor do que limitá-los — declara.
Os protagonistas
A seguir, Guedes lista os três exemplares mais valiosos de seu acervo. Confira:
Bob - 1984
Quando começou a ser fabricado pela Estrela no Brasil, em 1984, Ken tinha um nome diferente, relembra o colecionador. Chamava-se Bob. O motivo da mudança foi o fato de "Ken" assemelhar-se muito à palavra do português “quem”.
A fabricante teria entendido que seria melhor ter uma opção mais fácil de pronunciar. Durou pouco: em 1987, ele passou a ter por aqui a denominação original, como em outros países.
— A Mattel abriu a concessão para a Estrela fabricar as bonecas durante alguns anos aqui no Brasil, nas décadas de 1980 e 1990. E, hoje em dia, essas bonecas são raras e muito caras. Todo mundo quer os bonecos da Estrela, porque são muito ricos em detalhes. E o Bob nunca mais foi fabricado. Isso acontece muito no mundo do colecionismo. Fatos e histórias que tornam os brinquedos raros — afirma.
E não é só por raridade que o exemplar de 1984 está na lista dos mais valiosos do jornalista, mas, sim, porque foi esse o primeiro boneco que ele ganhou, presente da avó.
Ken Pop Life - 2009
As cores fortes e estampas geométricas dos anos 1960 aparecem na linha Pop Life, lançada pela Mattel em 2009, quando Barbie completou 50 anos. O boneco foi desenhado pelo designer americano Bill Greening.
— Foi uma coleção especial, só tem 999 iguais a ele no mundo. Foi um dos primeiros Kens de coleção e um dos mais fashionistas — detalha Guedes.
Na época em que o adquiriu, o jornalista investiu cerca de R$ 1 mil. Hoje, nos market places de colecionadores, o boneco é oferecido por cerca de R$ 2,5 mil.
Casal Real – 2012
Para comemorar o aniversário de um ano de casamento do casal real britânico príncipe William e em Kate Middelton, a Mattel lançou bonecos inspirados no visual dos dois na cerimônia. Ela usa o vestido noiva e ele a túnica vermelha de coronel da Guarda Irlandesa.
A dupla chegou à mãos de Bernardo Guedes em novembro de 2012, quando um grupo de amigos fez uma vaquinha e lhe deu os bonecos como presente de aniversário. O produto tem o selo Gold Label, o que significa que foram produzidas somente 20 mil cópias. Para comprar um pela internet hoje, o preço é de aproximadamente R$ 2,6 mil.