Autocuidado foi uma das palavras de 2020. Inclusive aqui em Donna: falamos em inúmeras reportagens sobre a importância de olhar para si com mais carinho em um ano tão desafiador. Na carona dessa prática que ganhou força na pandemia, o exercício do amor-próprio e a busca pela autoaceitação também ficaram em evidência – não é por acaso que influenciadoras digitais com a pegada "mulher real" conquistaram ainda mais espaço. Agora, o desafio é olhar para frente: como exercitar esse viés amoroso em 2021?
Quem propõe uma visão mais realista sobre o corpo e a vida, fugindo da idealização, é Mari Bridi (@maribridicardoso). Casada com o ator gaúcho Rafael Cardoso, com quem tem dois filhos, a catarinense de 36 anos figurou nas manchetes no ano passado após um desabafo falando da pressão sobre sua forma física. Ela postou uma mensagem abrindo o jogo acerca da autoaceitação acompanhada de uma foto de biquíni ao lado da família na praia – e o post viralizou na internet.
– Só me libertei de padrões, mudei mesmo, quando engravidei da Aurora (filha mais velha), e foi justamente quando comecei a ficar mais exposta nas redes. Ficava chateada pelas pessoas acharem que era só isso (a aparência) que importava, mas nunca foi uma coisa que me deixou grilada mesmo – lembra Mari. – Passei a ter pena, dava vontade de falar: "Gente, o Rafael é casado comigo porque ele quer. Ele não é obrigado a ficar comigo. O que mais tem é opção".
Hoje, Mari se define como "uma encorajadora da liberdade feminina". Lançou, em parceria com a amiga e consultora de estilo Carol Fajardo, o perfil Todas Nós, focado em conteúdos sobre mulheres diversas e reais. Com seus mais de 500 mil seguidores, divide sua busca pela melhor versão, fala dos desafios na rotina com a família, sobre o quanto a autoestima vai muito além do corpo e como faz questão de ignorar os comentários negativos – muitas vezes, revestidos de "vou te dar um toque sobre isso". Mari conta que passou por dois quadros de depressão, embora não enxergue sua relação com a aparência como uma questão que a incomodou ao longo da vida. Mas reforça que insatisfações com a imagem existem e que está, como qualquer outra mulher, aprendendo a lidar com elas:
– Quando estou perdida, procuro pessoas que sei que vão falar coisas nas quais acredito. Que vão me devolver coisas produtivas, não me botar para baixo. Fazemos o nosso melhor, o que dá. E é o suficiente.
Autora do livro Se Amar, Amar e Ser Amado, a psicóloga Pamela Magalhães explica que uma das chaves para viver em paz com a autoimagem é aprender a olhar além do que se vê:
– As pessoas associam a autoestima a levantar, passar um batom, vestir um vestido Versace e sair para abafar. E não é isso. É de dentro para fora, o quanto gosto de mim, me trato com carinho, abraço a minha história, me quero bem. Exercitar o autoconhecimento é a base. O trio é autoconhecimento, autoestima e amor-próprio.
Diversidade nas redes
Gorda e negra, a influenciadora baiana Bell Rocha (@bell_rocha), de 31 anos, inspira mulheres a não se limitarem pelo julgamento do outro. No Instagram, posta fotos de biquíni, compartilha seus trabalhos como modelo e fala sobre moda e beleza. Mas não foi sempre assim.
Na adolescência, era tão insatisfeita com seu corpo "fora do padrão' que só usava roupas largas. Ouvia que gorda não podia usar branco, roupa curta e precisava lidar com os questionamentos do tipo "E aí, não vai parar de engordar, não?". Também conta que não havia mulheres com as quais pudesse de identificar e se inspirar.
– É um processo difícil entender que meus traços são bonitos, que tenho beleza, que sou bonita exatamente assim. Hoje, há mais representatividade, principalmente com conteúdos na internet, e conseguimos nos identificar. Isso faz muita diferença – avalia Bell.
A influenciadora conta que sua virada com relação à autoestima se deu por volta dos 24 anos. E partiu de uma decisão consciente de mudar sua perspectiva sobre si.
– Demorei para virar a chave, mesmo com o apoio da família. Sei que vão ter dias em que não vou acordar bem, mas, hoje, me considero estável. Dificilmente acordo infeliz por ser quem sou.
Essa visão realista sobre a autoestima, com altos e baixos, é essencial para não cair em outra armadilha: a de viver um 'autoamor fake". Na onda do body positive, a aceitação precisa ser uma vivência intencional e genuína, e não forçada. Por isso, destaca a psicóloga Fabíola Luciano, a corrente do body neutrality – uma visão neutra sobre a aparência e focada nas experiências proporcionadas pelo corpo – surge como um caminho alternativo.
– A ideia de neutralidade tira, em alguma medida, a pressão. É passar a olhar para o corpo como ferramenta para ter uma experiência afetiva com as pessoas, não uma vitrine. Acolher as dificuldades, e não fingir que elas não existem – afirma a especialista em terapia cognitiva comportamental pela USP.
Quer saber como exercer um novo olhar mais amoroso sobre si mesma na prática? Confira a seguir uma série de dicas que podem fazer a diferença.
Para se amar mais em 2021
Reunimos abaixo as principais dicas das quatro entrevistadas desta reportagem para ajudar você a transformar sua relação com a autoestima neste novo ano:
Tome uma decisão
É difícil mudar um padrão de pensamento automaticamente, ainda mais quando se pensa nos ideais de beleza intrínsecos na cultura. Portanto, entenda que esse processo de autoamor passará por uma decisão consciente e que será tomada todos os dias.
Rede de apoio
Cerque-se de pessoas que a ajudarão no processo de autoaceitação. Que vão incentivar uma mudança de perspectiva, e não uma busca desenfreada por se encaixar em padrões irreais.
Instagram do bem
Faça uma limpa nas suas redes sociais. Tudo bem seguir a blogueira fitness, mas é preciso acompanhar perfis de mulheres que prezam por uma vida mais real. Influenciadoras que expõem vulnerabilidades e inseguranças e que não vendem vidas perfeitas.
Autoamor real
Ok, você quer se amar mais, mas ainda odeia aquela dobra na barriga ou as estrias que ficam evidentes quando usa um biquíni. Tudo bem! Autoamor não é passar a se achar perfeita da noite para o dia, mas entender que você é uma mulher real, única e que seu corpo deve ser amado justamente por isso. Não se cobre por uma autoaceitação idealizada.
Comparação é cilada
Comparar-se com a fulana do Instagram ou com a colega de trabalho que acorda às 6h da manhã para malhar é um caminho para a autossabotagem. As pessoas têm histórias, corpos e vidas diferentes. Nem tudo o que funciona para uma mulher irá servir para a outra.
Quer mudar? Mude!
Você se ama, mas quer fazer aquela plástica no nariz. Ou acredita que colocar silicone vai ajudar a se sentir mais segura com o visual. Tudo bem! Você é livre para decidir o que quer fazer com seu corpo. O desafio é buscar a sua melhor versão, e esse caminho é diferente para cada mulher. O ponto de alerta é o que está por trás: quero fazer isso por minha causa ou porque quero agradar os outros?
E nos dias ruins?
Acordei e me senti péssima. E agora? Primeiro: essa sensação faz parte da vida de qualquer pessoa. A questão é como lidamos com esse sentimento. A dica é se respeitar, dar nome ao que está sentindo e encarar o fato. A ideia é que não controlamos o que sentimos, mas é nossa decisão alimentar esse sentimento ou não. Escolha encará-lo, mas não potencializá-lo.