Há 10 anos, quando a administradora gaúcha Marilice Carrer se aposentou e, na mesma época, ficou viúva, viu a vida perder um pouco do sentido. Com depressão e a autoestima baixa, descobriu uma doença crônica pulmonar e se mudou para o Rio de Janeiro para fugir do inverno sulista. Em solo carioca, em cinco meses voltou ao mercado de trabalho publicitário e, quando percebeu, estava se sentindo cada vez melhor e participando de concursos de beleza da maturidade.
— A cada concurso, fui me sentindo uma mulher mais bonita, mais poderosa — conta ela.
Renovada, acumulou 41 títulos e virou referência de modelo na sua faixa etária. Foi essa a experiência que deu à ela a ideia de criar o Divas da Alegria em 2015, grupo em que Marilice, hoje com 61 anos, promove uma "oficina de autoestima" para mulheres a partir de 60 anos - apenas esse ano, admitiu uma aluna de 57 anos, que ajuda na produção dos eventos. A iniciativa conta com aulas de passarela, de costura, de vestimenta e até de etiqueta social, além de palestras e eventos.
– A mulher madura, que viuvou ou separou, e os filhos estão criados, ou viu surgir alguma doença, tem uma tendência a desenvolver baixa autoestima e depressão. O Divas da Alegria veio porque senti a necessidade de passar a minha vivência para outras. São mulheres que estavam na mesma situação que eu, depressivas, com baixa autoestima, não tendo mais objetivos na vida — relata.
Junto com as aulas, Marilice promove, em paralelo, ações solidárias. O grupo, antes da pandemia, tinha o costume de visitar asilos, centros de recuperação e hospitais para "levar carinho, amor e alegria" para as pessoas. Nesta quinta-feira (17), lançou o seu mais novo projeto: o Calendário 2021 do Divas da Alegria, que une a autoestima das participantes com a solidariedade intrínseca ao grupo.
Com o tema Um Dia de Estrela, todas as participantes foram fotografadas em trajes de gala no Theatro São Pedro. Com a coordenação de Marilice e produção de San Lopez, todos os envolvidos, da maquiagem à locação, trabalharam de forma voluntária. O lucro obtido com a venda dos produtos será destinado a instituições sociais de Porto Alegre, como a Casa Rosa, o Café Social, o Centro Vita e o asilo Padre Cacique. Para Marilice, a escolha do local foi perfeita.
— Não podia ser outro espaço. Primeiro pelo tamanho, por conta do período que a gente está vivendo, é um ambiente amplo. E pelo tema do calendário, Um Dia de Estrela. Não teria outro lugar, um cenário de tapete vermelho. Ficou perfeito.
Sobre a diferença do grupo na vida das alunas, Marilice, em entrevista a Donna por telefone, diz ficar arrepiada ao pensar no assunto. Para ela, o importante da iniciativa é fazer com que as mulheres se vejam com outros olhos e se amem em primeiro lugar.
— As mulheres se preocupam muito com marido, com filho, com neto, com todo mundo, menos com elas. Aqui todo mundo prega a mesma energia. Energia boa, de autoestima, de saúde — resume.