A exibição de seios femininos, mesmo em fotos que exaltavam a autoestima, sempre foi um assunto que carregava um certo tabu no Instagram. Em diversas ocasiões, usuárias da rede social protestaram por não poder compartilhar imagens em que aparecia, por exemplo, parte da mama.
Mas, a partir desta quarta-feira (28), o Instagram coloca em prática uma política chamada breast squeezing, o ato de agarrar os seios em tradução livre. Em comunicado, a rede social avisa que serão mantidas no feed fotografias em que seios nus femininos sejam exibidos caso se enquadrem em três casos: quando a pessoa estiver abraçando, segurando ou acariciando suas mamas.
"Se houver dúvidas sobre o conteúdo, pediremos aos revisores que ele não seja removido", diz a empresa, em comunicado. "Estamos comprometidos em fazer a coisa certa e continuaremos a trabalhar com especialistas e com os membros da nossa comunidade para seguirmos melhorando".
E em que casos imagens de seios femininos não serão permitidas?
Apesar das mudanças na política de nudez da plataforma, fotografias em que os seios estejam sendo "apertados" seguem sendo proibidas. Segundo a plataforma, nestes casos, o algoritmo entende que a imagem é associada a conteúdo pornográfico.
"Imagens que contenham seios sendo apertados, em um movimento de agarrar com os dedos dobrados e onde há uma clara alteração no formato dos mesmos, continuam violando as nossas políticas e serão removidas", garante o Instagram.
Vale lembrar que a exibição de mamilos masculinos continua sendo permitida pela empresa.
Mas, afinal, por que a mudança?
Há algum tempo, o Instagram é alvo de protestos sobre o excesso de pudor e a falta de objetividade na aplicação de suas regras sobre nudez. De famosas a anônimas - incluindo, recentemente, a chef Bela Gil, diversas mulheres já reclamaram publicamente por terem tido imagens excluídas da plataforma. Não há dúvidas de que essas críticas contribuíram, mas a nova atualização das regras têm a ver, especificamente, com o protesto de pessoas gordas - e isso foi reconhecido pelo próprio Instagram no comunicado.
Ao explicar a mudança - e fazer o adendo sobre as fotos que mostram os seios apertados -, a plataforma assumiu que há problemas na hora do sistema julgar e vetar uma foto, sobretudo, quando diz respeito a mulheres gordas:
"Não autorizamos seios sendo apertados, já que isso costuma ser associado a conteúdo pornográfico, mas sabemos que cometemos erros na forma como isto é aplicado, especialmente em relação à comunidade plus size", declarou um porta-voz da rede em comunicado enviado à AFP.
O movimento que ajudou a rever a política de nudez do Instagram foi capitaneado pela modelo britânica Nyome Nicholas-Williams, que defende uma moda inclusiva. Em junho, a influenciadora digital compartilhou um clique em que aparecia segurando os seios, parcialmente cobertos - pose que é típica de ensaios fotográficos. Porém, ao publicar o clique, feito pela fotógrafa Alexandra Cameron, sua foto foi removida pela plataforma. A alegação foi que infringia as regras de nudez do Instagram.
"Milhões de fotos de mulheres brancas e magras nuas podem ser encontradas no Instagram todos os dias, mas uma negra gorda celebrando seu corpo está proibida? Foi chocante para mim. Eu sinto que estou sendo silenciada" respondeu Nyome.
Assim nasceu a campanha #IWantToSeeNyome, que ganhou força nas redes sociais - e garantiu resultados na prática. Além da hashtag, também foi criado um abaixo-assinado online, que reuniu mais de 22 mil assinaturas sob o tópico: "Instagram, pare de censurar mulheres negras gordas".
O anúncio das mudanças na política de nudez foi visto com entusiasmo pela modelo:
"Esperamos que essa mudança de política ponha fim à censura aos corpos negros e gordos", comemorou ela, em seu perfil na rede social.
A fotógrafa Alexandra também se manifestou:
"No dia 28 de outubro vai haver uma mudança nas políticas oficiais que deve ajudar diretamente para que imagens de mulheres plus size deixem de ser removidas por serem consideradas inapropriadas ou de conteúdo sexual”, disse ela. “Tem sido maravilhoso ver as fotos que eu fiz serem reintegradas, imagens das quais tenho tanto orgulho e que representam um grupo de pessoas que frequentemente é silenciado ou censurado".