Por Pati Pontalti*
Madonna postou uma selfie usando muleta e fazendo topless. O resultado? Reações indignadas que só confirmam algo que a sociedade machista insiste em reproduzir e que toda mulher depois dos 40 anos enfrenta mais cedo ou mais tarde: o preconceito ao envelhecimento.
“Você devia agir como uma pessoa da sua idade” ou “você não tem mais idade para essas porcarias” ou “desesperada por atenção” são exemplos de comentários na foto no Instagram da cantora que, ao contrário do que infelizmente se espera de uma mulher de 61 anos, se mantém como sempre foi: provocativa, ousada, fazendo do próprio corpo um manifesto de suas ideais, uma extensão do seu discurso, de sua linguagem. Madonna deveria mudar porque é uma sexagenária? Mulheres mais velhas não podem mostrar o corpo? A sexualidade se apaga depois de uma certa idade?
Claro que não. Isso é ridículo. Isso é um preconceito que aprendemos desde sempre e, muitas vezes, reproduzimos sem nem nos darmos conta, a não ser quando chegamos ao momento no qual vamos começar a sentir nas próprias rugas o peso dessas regras ultrapassadas que limitam nosso jeito de agir, pensar, ser. E ele tem nome: ageísmo.
A mulher parece que perde as habilidades, as possibilidades, as características femininas quando cruza a fronteira dos 40 anos – e só piora a partir daí. Passamos a nos tornar invisíveis, sendo ainda mais questionadas quando insistimos em nos manter como protagonista de nossas decisões, de nossa beleza, à frente do espelho em todos os sentidos. Essa decisão de ser produtiva e bela depois dos 40 torna-se quase uma agressão ao olhar alheio, inclusive para uma diva como Madonna.
Sim. Como Madonna, somos criticadas por homens e mulheres (que tristeza) ao dizer não a esses estereótipos babacas de que mulheres a partir de uma certa idade não podem protagonizar nada, mudar de vida, começar uma carreira, fazer uma selfie mostrando os seios. Muita gente se incomoda com o fato de Madonna e de tantas de nós lutarem contra esse preconceito.
Não vamos – e nem podemos – parar de ser quem somos por causa de um número em uma certidão de nascimento.
PATI PONTALTI
Mas precisamos lutar. Precisamos dizer não. Precisamos defender Madonna e quem quer que seja desde sempre. E não. Não queremos usar pantufas e sermos senhoras gentis. Queremos, sim, ir pra frente do espelho, fazer selfies, ousar nas roupas, desbravar novas carreiras, amar com volúpia, recomeçar sempre que quisermos.
E tu aí que acha estranho ver uma velha gostosa, abusada e bem-sucedida, comece já a rever seus preconceitos porque nós estamos mudando o mundo pra você! Respeito e empatia! Com Madonna, com todas nós! Não vamos – e nem podemos – parar de ser quem somos por causa de um número em uma certidão de nascimento.
Pati Pontalti é jornalista, curadora e consultora de moda. Mãe da Clara, casada com o Lucas e corredora, acredita que a vida pode ser bem melhor com elegância e respeito. Escreve semanalmente em revistadonna.com.