Bom, o mesmo vale para assédio. E, infelizmente, vale para o assunto que começou a circular - junto com imagens - ontem por aqui. Para contextualizar: uma mulher desacordada foi violentada por um desconhecido que, além de tudo, ainda fez vídeos do crime e divulgou em grupos de redes sociais.
Sei que lendo as matérias, muitos vão pensar "ora, mas tava praticamente pelada dentro do carro. Ora, pediu pra acontecer, né? Sem roupa de madrugada e na rua", etc. São essas ideias machistas e patriarcais que responsabilizam a mulher pelo assédio que ela sofre em qualquer espaço - da rua ao próprio quarto-, pela forma como ela se veste ou pelo fato de estar sozinha por aí.
Vamos esclarecer novamente uns pontos, pois parece que, mesmo em 2019, algumas coisas não estão sendo compreendidas:
- De roupa ou sem roupa, se uma pessoa não te deu permissão para fazer qualquer coisa com o corpo dela: é assédio. Um toque para ser um estupro. É crime.
- Uma pessoa saindo de uma festa depois de beber umas "coisinhas a mais" (e você não tem nada a ver com isso), não é uma permissão para ser tocada, violentada, gravada. É assédio. Um toque para ser um estupro. É crime.
- É assédio se você está inconsciente. É assédio se você está desacordada. É assédio se alguém te incomodar com atos ou falas obscenas. Nunca vai ser um elogio se você está constrangendo outra pessoa.
É assédio se aquele puxão cabelo for incômodo, se aquele aperto no braço depois de uma "negativa" à abordagem acontecer. É assédio se ela queria ontem e hoje não quer mais - nem amanhã. Poderia ficar horas citando situações que nós, mulheres, vivemos constantemente. De Carnaval a Carnaval, tudo é assédio quando não tiver consentimento. É assédio e pronto. Nesse caso, foi um estupro. Sexo forçado, como se a vida daquela mulher não valesse nada, como se o corpo dela - um lugar sagrado - fosse descartável, tratado como lixo.
Para piorar, teve gente certamente se divertindo com a situação. Repassando um vídeo que, além de ser prova de um crime, ainda é uma forma de humilhação e ferramenta para um dano psicológico terrível para a vítima. Vale lembrar que, além do estuprador em si, também pode ser penalizado quem for identificado repassando vídeos, fotos e qualquer material com conteúdo íntimo e sem autorização dos participantes.
E finalizo essa coluna, uma triste coluna, com um pequeno, mas importante lembrete: a rua é pública, o ônibus é público, aquela praça do final de semana é pública. Os nossos corpos – de uma vez por todas –, os nossos corpos, não.
Respeitem as mulheres. Respeitem todo mundo.
Ps: a culpa nunca vai ser sua.
Jordana Laitano é publicitária, produtora de conteúdo, feminista, entusiasta das conversas de bar e das histórias de amor. Escreve quinzenalmente sobre sexo e relacionamento em revistadonna.com.