Ilustração: Felipe Tognoli Ilustração: Felipe Tognoli Ilustração: Felipe Tognoli
Camila Maccari
Quantas vezes você já ouviu - ou até mesmo já disse - que uma atitude qualquer "não é coisa de menina"? A frase acaba saindo naturalmente e até pode não ter nenhuma má intenção. Afinal, é tão repetida que a gente acaba, automaticamente, reproduzindo.
Mas definir hábitos adequados para cada gênero pode limitar o desenvolvimento da criança - principalmente das meninas, que têm que ficar sentadinhas com as pernas fechadas enquanto os meninos estão correndo livres por aí.
Incentivada pelo impacto que essas frases e comportamentos têm no desenvolvimento das jovens, a pedagoga e pesquisadora de gênero Ana Paula Sefton desenvolveu o projeto Meninas Incríveis, uma coletânea de histórias que conta os feitos de garotas normais que subvertem os papeis de gênero e não se importam nada com isso.
– A ideia é incentivar cada vez mais jovens a fazerem o que quiserem, independente de ouvir alguém apontando o fato de serem meninas como impeditivo. Pelo contrário, a ideia é que elas vejam que ser menina é, na verdade, um multiplicador de energia para seguirem em frente.
As narrativas que estarão no livro – e que podem ser conferidas continuamente no Facebook pela página "Meninas Incríveis - coletâneas de história" – foram colhidas através da internet. Em maio deste ano, Ana criou o perfil, que acumula 2,5 mil curtidas, e fez um chamado para quem quisesse contar sua história, sempre com a autorização dos pais ou responsáveis.
A partir deste convite, passou a ser procurada por pais, professores e até mesmo jovens que se identificavam com a busca e queriam dar o seu relato. Ao todo, a primeira edição do projeto vai trazer 15 narrativas, com uma linguagem lúdica e suave, de acordo com Ana, perfeita para ser entendida pelas crianças mas também pelos adultos - especialmente em histórias que contam com uma segunda camada.
Como é o caso da Menina do Cabelo Verde que, aos 16 anos e com uma ajuda especial, descobriu que nem tudo o que as pessoas fazem é bom e que, às vezes, os sentimentos ruins podem vir de outras pessoas e ficar na gente. Entender isso foi uma espécie de liberdade, estampada na própria imagem depois de pintar o cabelo de verde para comemorar a compreensão.
O projeto também traz histórias de meninas que, desde cedo, se envolvem com assuntos relacionados ao feminismo. Como a garota de dez anos que mora em uma comunidade rural na cidade de Ouro Branco, em Minas Gerais, e que, depois de escutar uma música que falava sobre empoderamento feminino, decidiu criar um projeto na própria escola para levar o assunto aos colegas.
E tem, é claro, aquelas que desafiam os próprios medos e limitações para ir atrás de metas que colocam para si mesmas, como a menina que, aos 10 anos, foi a pessoa mais jovem a chegar ao final de uma via de oitavo grau - considerado um nível avançado em dificuldade - em escalada em rocha.
Com todas as 15 histórias selecionadas, quatro ilustradores voluntários - entre eles Felipe Tognoli, que assina as imagens que você vê nesta matéria - vão desenhar as jovens nas situações narradas. As histórias serão compartilhadas, semanalmente, na página do projeto no Facebook, junto com a ilustração correspondente.
No final do ano, o material será reunido em um livro, publicado em formato digital e papel.
– A ideia é a de seguir a rede criada por essas histórias, desmistificando conceitos sobre gênero, ainda mais no atual contexto do país. É um grão de areia em todo trabalho extenso que se faz para que se crie uma sociedade mais igualitária. Mas imaginar que meninas e mulheres possam pegar o livro, se identificar com as histórias e, a partir disso, fazer alguma diferença, é animador – destaca Ana.
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