Camila Maccari, especial
Todo janeiro é uma oportunidade para se fazer um balanço de percurso: aquele momento em que você traça metas e vê onde quer avançar no ano que se inicia. Nessa parada, é importante definir prioridades que envolvam também o cuidado e a atenção com a saúde mental. Para isso, foi criado o Janeiro Branco, campanha de setores da saúde mental que busca conscientizar e ajudar você a ter uma vida mais saudável e feliz.
A iniciativa é voltada para todos, já que milhares de pessoas enfrentam doenças e desafios como depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Mas especialmente as mulheres devem estar atentas a questões relacionadas à saúde mental e à autoestima. Um relatório da ONU de 2015 mostra que elas têm duas vezes mais depressão do que os homens, por exemplo.
– Isso é resultado de diversos fatores. As mulheres são mais cobradas socialmente, frequentemente precisam dar conta de três turnos de trabalho e ainda vivem sob a tirania de um ideal estético que mina a autoestima e as deixa mais suscetíveis. Elas também precisam lidar com flutuações hormonais mais frequentes, como a tensão pré-menstrual, sem contar o medo constante de sofrer violência – explica a psicóloga Antonieta Lopes Bridi.
A seguir, Antonieta e a psicoterapeuta Carmem de Oliveira destacam seis atitudes para cuidar da mente e da autoestima.
Converse com alguém
Expresse o que sente e nomeie seus problemas em uma conversa franca com alguém em quem confia. Se você ainda não se sente à vontade para se abrir, mantenha um diário sobre os seus sentimentos e as questões pelas quais está passando.
– Fazer isso de forma interativa, compartilhando com o outro, é ainda mais efetivo porque o olhar externo parte de outro ângulo, de outras vivências e de outras experiências. A troca é importante – explica Carmem.
Defina suas prioridades
Às vezes, é importante abrir mão de alguma coisa em detrimento de outra que você quer mais. A sobrecarga apenas gera ansiedade e faz com que você se frustre por não dar conta de tudo. Está na hora de dar uma aliviada no trabalho para se dedicar mais à família? Ou, pelo contrário, seria uma boa escolher uma escola de turno integral para seus filhos enquanto você dá conta da sua vida profissional?
– Assim, você vai conseguir se conectar mais com o que está fazendo no momento e ter mais satisfação naquilo. O excesso de demandas faz com que nunca consigamos estar verdadeiramente em um lugar. Se estou aqui, agora, já estou pensando no que preciso fazer daqui a pouco, por exemplo. Mas, se estar aqui for sua prioridade, você tem chances de estar mais de acordo com isso – explica Antonieta.
Tenha paciência
A saúde mental é algo a ser construído, alimentado. Demanda tempo e dedicação.
– É um conjunto amplo que precisa de investimento. Olhe para si mesma aos poucos, com honestidade e responsabilidade. Leva tempo até entender quem você verdadeiramente é e o que, de fato, quer. Mas, a partir do momento em que acessa essas informações, vai conseguir lidar melhor com suas escolhas e seus resultados – diz Antonieta.
Aceite o desequilíbrio
Para as psicólogas, estar mentalmente saudável passa pela capacidade de aprender a viver com o desequilíbrio. Não quer dizer ser feliz o tempo inteiro – aliás, desapegue dessa ideia – mas, sim, aceitar e lidar com seu estado de espírito nesse momento.
– Aceitar não quer dizer resignar-se, mas, sim, entender que a vida é uma mudança constante e que nós estaremos sempre mudando. É preciso ser capaz de aproveitar o aqui e o agora: quando as coisas estiverem boas, saber desfrutá-las com calma e tranquilidade. Quando estiverem ruins, saber que isso também é passageiro e perguntar-se o que está em suas mãos para encarar a situação da melhor forma – ensina Antonieta.
Descubra o que quer
Já aconteceu de você perceber uma insatisfação constante? Como se nada do que fizesse ou conquistasse fosse bom o suficiente e, mal um objetivo é alcançado, você já tem que começar a correr atrás de outro? Sem aproveitar a alegria da conquista, sem descanso, sempre na correria. Para Carmem, esse sintoma é resultado direto da lógica de uma sociedade que nos estimula a estar sempre querendo mais – sem perceber o quanto já realizou e o que realmente se quer.
– É preciso parar essa engrenagem e saber o que é verdadeiramente importante para você. Às vezes, o que você quer são capturas de desejos que vêm de fora. A baixa autoestima tem um papel muito forte nessa busca sem fim: quanto menor, maior necessidade de reconhecimento social. Tente, aos poucos, manter uma distância do olhar do outro sobre si mesma para poder acessar o que você verdadeiramente quer – afirma Carmem.