Certa vez, entrevistei um homem que pegou as suas economias e resolveu empreender. Sua ideia era produzir alho negro, um tipo de especiaria. Investiu numa pequena cozinha, comprou os ingredientes e fez várias tentativas. Mas não acertava o jeito. A grana estava curta e, decepcionado com a falta de sucesso no projeto novo, deixou as panelas com o alho depois da fermentação e foi embora. Voltou depois de um certo tempo e lá estava o alho negro, perfeito como ele desejava. Depois de envelhecido, o produto estava repleto de sabores e aromas como uma especiaria no seu auge.
E o que tudo isso tem a ver com por ideias em prática? Entender o tempo de maturação das coisas é tão importante quanto começar algo. E o que chamo de a lição do alho negro.
Todos os elementos da receita estavam certos, mas faltou esperar um pouco mais. Na pressa que vivemos, poucas são as vezes que esperamos algo frutificar. Se não funciona, já descartamos. Se não dá resultado logo, já não serve. Assim como a evolução da vida no planeta Terra, não existem grandes saltos disruptivos, mas sim um desenvolvimento lento e gradual.
O norte-americano Steven Johnson, autor do best-seller “De onde vêm as boas ideias”, conta que em anos estudando processos e casos de inovação descobriu o que chama de palpite lento: não existe um momento de epifania ou eureca em que você simplesmente descobre tudo. Para ele, além do processo, que é o tempo do desenvolvimento das ideias, existe o que ele chama de possível adjacente, que é o quanto a conjuntura está pronta para receber aquela ideia. Atrevo-me a chamar de "timing" essa diferença que muitas vezes separa o sucesso do insucesso de ideias exatamente iguais. Veja o caso do Youtube, que se tivesse sido lançado nos anos 90 teria fracassado, já que a internet da época não comportava o modelo de negócios que fez da plataforma o que todos nós sabemos o que é hoje.
O momento atual, no entanto, comporta novos modelos e jeitos de empreender. Prova disso é o número crescente de mulheres com disposição para serem donas do próprio negócio, de colocar em prática as ideias e ter lucro com isso. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (2016) mostrou que o empreendedorismo feminino cresceu 34% nos últimos 14 anos no Brasil. Outro estudo, este feito pela Rede Mulher Empreendedora, chamou atenção para o perfil de mulheres que querem virar empresárias no Brasil: têm em média 39 anos e 70% delas já concluíram o ensino superior. Além disso, trabalham mais de 9 horas por dia e estão na luta para pôr suas boas ideias em prática.
Afinal, há alguma boa maneira de saber como colocar boas ideias em prática e empreender?
Uma maneira apenas, não. Há várias. E cada pessoa, ao se testar, vai encontrar a sua. Sugiro que você se decida por uma e comece. Monitore seus pequenos avanços diários rumo à realização do seu projeto e não desista da ideia antes de entender o tempo de maturação das coisas ao nossa redor. Se dê um prazo e faça a travessia. Construa a ponte que irá nos ligar de onde estamos e quem somos para onde queremos estar e quem desejamos ser. Meu desejo é que chegar lá signifique estar mais perto da realização e juntar-se ao grupo de mulheres que já põe em prática o empreendedorismo feminino.
Attraversiamo! Vamos atravessar, como ensina a escritora Liz Gilbert no seu livro “Comer, Rezar e Amar”. Arriscar sem medo de conhecer o novo.
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