Harvey Weinstein (Foto: AFP) #EuTambém por aqui
Como bem sabemos, casos de assédio sexual no ambiente de trabalho não são exclusividade de Hollywood. Depois de uma onda de denúncias contra o produtor de cinema Harvey Weinstein, mulheres de diferentes países se uniram em uma corrente de apoio, contando suas histórias pela hashtag #MeToo (ou #EuTambém), e passando uma mensagem clara: não vão mais se calar.
Dessa vez, a rede de denúncias #MeToo foi criada pela atriz Alyssa Milano, famosa pela série Charmed. Pelo Twitter, ela sugeriu que mulheres que também sofreram abusos respondessem dizendo "me too" (eu também) para que todos entendessem a dimensão do problema. Desde o domingo (15 de outubro), o tuíte recebeu mais de 60 mil respostas, 45 mil curtidas e 22 mil retuítes.
O movimento foi criado depois que o jornal The New York Times revelou que Weinstein vinha abafando diversas acusações ao longo dos anos. Desde a reportagem, muitas atrizes quebraram o silêncio e denunciaram casos de estupro, sexo oral forçado, abuso sexual e assédio moral. A lista de vítimas do produtor inclui celebridades como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Ashley Judd, Cara Delevingne, Léa Seydoux, Rose McGowan, Lysette Anthony, Romola Garai e Lena Headey.
Outras atrizes também abriram o jogo e revelaram terem sofrido abusos sexuais e psicológicos em seus ambientes de trabalho. É o caso de Reese Witherspoon, que contou ter sido assediada por um diretor quando tinha 16 anos, e Jennifer Lawrence, que foi colocada seminua em um “paredão” com outras atrizes durante uma seleção.
Essa não é a primeira vez que mulheres se reúnem em campanhas nas redes sociais. Confira outros movimentos recentes:
- Em 2015, a hashtag #MeuAmigoSecreto ajudou a expôr pensamentos machistas cotidianos. Alguns meses depois, manifestações de assédio a uma participante de 12 anos do programa MasterChef Júnior resultaram na hashtag #MeuPrimeiroAssédio, relatando casos ocorridos na infância.
- Em março deste ano, a campanha#MexeuComUmaMexeuComTodas surgiu depois que a figurinista Susllem Tonani acusou o ator José Mayer de assédio sexual dentro do camarim da TV Globo. Depois da revelação, diversas atrizes e produtoras da empresa vestiram a camisa da campanha e apoiaram outras mulheres.
- No início de outubro, a modelo americana Cameron Rusell lançou, em seu Instagram (@CameronRussell), a campanha #MyJobDoesNotIncludeAbuse (meu trabalho não inclui abuso). Em apenas cinco dias, ela divulgou mais de 80 histórias que incluem casos de estupro, assédio verbal, abuso sexual e psicológico. Todas os casos ocorreram em ambientes de trabalho por outros profissionais da área da moda como fotógrafos, designers, assessores e agentes.
Inspiradas pelo movimento das redes sociais, convidamos mulheres a dividirem suas histórias e opinarem sobre a campanha #EuTambém. O resultado não fugiu do esperado: seja em reuniões de trabalho, no ônibus indo para escola, com adultas ou crianças, o assédio é cotidiano e ocorre em todo tipo de ambiente.
"EuTambém: aos 11, quando um cara achou ok se masturbar em sua bicicletas, olhando crianças irem pra escola; depois aos 12, 13, 14, 15... e assim todos os anos, com conhecidos ou desconhecidos, até o mais recente, na semana passada, quando um senhor passou falando 'Que coisinha mais gostosa' pra uma menina na rua, Daniela Cavalcante, Letícia De Camargo Oliveira e eu replicamos, o homem voltou, nos chamou de qualquer coisa, quis brigar, achou que estávamos cometendo um grande desrespeito ao confrontá-lo, ao dizer que ele estava sendo nojento. Voltou gritando “que foi? Quer ver?” Atravessamos a rua e ficamos cada uma na sua sensação de impossibilidade. Queria dizer 'eu não', 'eu nunca', mas não é possível."
NATALIA BORGES POLESSO, escritora
"Na época em que eu era estudante, sofri bastante com os 'encoxadores”'no busão! Era menina, com 16 anos, e estudava em uma escola no Centro Histórico de Porto Alegre, naquela época esse não era um assunto abordado pelos pais ou dentro de casa, era um tempo de menos violência e de muita inocência. Lembro que muitas vezes passei por situações de ser 'roçada', geralmente por homens mais velhos, quase o caminho inteiro e ficava com muita vergonha de abrir o bico, porque não tinha certeza se era um assédio ou se era porque não havia espaço para mexer lá dentro. Infelizmente, sou parte da grande estatística e hoje estou junto na luta para que isso acabe e não aconteça mais com nossas meninas e meninos."
VANESSA UFLACKER, cantora da dupla Claus e Vanessa
"O grande ponto dessa hashtag é trazer consciência para uma questão muito importante: ter que conviver com assédio não é desafio para algumas poucas mulheres. Não só somos muitas como somos TODAS. Somos mulheres crianças, que começam a ser assediadas anos 9, 10 anos, somos mães, somos idosas, enfim. Infelizmente basta ser mulher. Gostam de dizer que somos loucas e que fazemos mimimi, né? Pois então somos todas loucas o que torna nossa dor e nosso protesto mais legítimos ainda."
BABI SOUZA, criadora do Movimento Vamos Juntas
"Seria difícil não escrever #EuTambém #MeToo hoje no Facebook. Foi um dos dias em que eu estava mais feliz na vida. E um milésimo de segundo depois eu senti um dos maiores medos da minha vida. Foi em Santiago do Chile. Foi um movimento. Um toque destruidor no meu universo. Uma aproximação que me tirou o chão. Eu nunca contei isso pra ninguém. E dormi, naquela noite, sozinha no quarto do hotel, de olhos abertos, vigiando a porta e pensando na fragilidade das coisas. Eu me livrei. Mas quantas não conseguem?"
LU THOMÉ, editora literária
"Eu apoio este movimento, mesmo sem nunca ter sofrido nenhum caso assim. Acredito que tornar público casos como as das atrizes de Hollywood encoraja todas as mulheres a enfrentarem os medos das consequências das denúncias de assédios ou estupros. É a sororidade ganhando força. As mulheres se unindo têm muito mais poder."
FERNANDA CARVALHO LEITE, atriz
"Eu e minha irmã trabalhávamos juntas, eu com 23 anos, ela com 20. Éramos só eu e ela mulheres no local em uma reunião de homens de aproximadamente 50 anos. O assunto da reunião acabou e começaram a falar de diversos assuntos, um deles que mulheres eram fracas e submissas, que precisavam de homens de poder do lado para se destacarem e, em resumo, que a maioria não passava de só um corpo. Me deixou envergonhada e triste por minha irmã ter que ouvir aquilo também."
DUDA BUCHMANN, autora do blog Negra e Crespa e colunista de Donna
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