O produtor de Hollywood Harvey Weinstein foi demitido, neste domingo, de seu estúdio cinematográfico, a Weinstein Company, após ser acusado de assediar mulheres sexualmente ao longo de várias décadas, informou a imprensa americana.
"À luz de novas informações sobre a má conduta de Harvey Weinstein que surgiram nos últimos dias, os diretores da The Weinstein Company - Robert Weinstein, Lance Maerov, Richard Koenigsberg e Tarak Ben Ammar - determinaram e informaram Harvey Weinstein de que seu emprego na companhia acabou", declarou a diretoria da empresa em uma nota citada por jornais americanos.
Esse desfecho ocorreu depois de uma matéria publicada pelo jornal The New York Times no início da semana, segundo a qual Weinstein, cujo estúdio produziu sucessos de bilheteria como "O Discurso do Rei" e "Django Livre", teria assediado jovens que pretendiam ingressar na indústria do cinema.
Várias mulheres, entre elas as atrizes Ashley Judd e Rose Mcgowan, o acusam de tê-las obrigado a vê-lo pelado, de tentar fazer com que o massageassem, ou mesmo de propor ajudá-las em suas carreiras em troca de favores sexuais.
Na quinta-feira, Weinstein se desculpou publicamente e anunciou que tiraria uma licença.
Em nota, disse respeitar todas as mulheres e que espera ter uma segunda oportunidade, apesar de admitir que "deveria fazer muito para merecê-la".
O escândalo também tem um toque político que beneficia o Partido Republicano do presidente Donald Trump.
Harvey Weinstein, muito envolvido financeiramente em campanhas de candidatos democratas, apoiou Hillary Clinton na última campanha presidencial.
Trump declarou que conhecia Weinstein "há muito tempo" e que não estava "nada surpreso" com essas revelações.
- Quem sabia? -
"As mulheres que escolheram falar sobre o assédio sexual que sofreram por Harvey Weinstein merecem a nossa admiração. Não é divertido nem fácil. É corajoso", declarou a atriz Lena Dunham, militante da causa feminista.
Em declarações ao Huffington Post, a vencedora do Oscar Meryl Streep insistiu que "nem todo mundo sabia" do padrão de má conduta do produtor.
"Não acredito que todos os repórteres investigativos por décadas tenham omitido escrever sobre isso", disse a atriz, acrescentando que o abuso de poder de Weinstein é imperdoável.
Mas um crescente número de vozes disse que suspeita que houve um esforço conjunto em Hollywood para proteger o produtor de cinema.
"Lemos relatos sobre o seu temperamento e sua volatilidade, mas também ouvimos histórias de que era, sem papas na língua, grotesco: o tipo de pessoa que promete a alguém torná-la uma estrela em troca de sexo, fazendo uso de seu poder na indústria para se assegurar que ninguém falará sobre isso", escreveu a jornalista do BuzzFeed Anne Helen Petersen.
O The New York Times escreveu que a maior parte das mais de 40 pessoas da indústria do entretenimento contactadas para comentar a revelação da história se negou a fazer uma declaração para publicar.
No entanto, Sharon Waxman, criadora do site The Wrap, acusou o The New York Times de inicialmente encobrir o escândalo.
Em um editorial, disse que o jornal a enviou em 2004 para investigar uma acusação de conduta sexual inapropriada de Weinstein, história que não foi à frente pela "intensa pressão" do produtor, segundo Waxman.
O NYT rebateu essas afirmações em declaração à AFP.
"A redação do Times tem um longo histórico de expor acusações de corrupção e abuso de pessoas poderosas e instituições. Nossa redação foi a primeira a publicar uma investigação meticulosa do senhor Weinstein que revela inúmeras acusações por assédio sexual", indicou o jornal.
"Nossa ex-colega Sharon Waxman escreveu sobre uma história que foi publicada no Times em 2004. Ninguém atualmente no Times tem conhecimento de que tenha havido uma decisão editorial naquele artigo. Mas, em geral, a única razão para que uma história ou informação específica não seja publicada é que não cumpra com os padrões".
- Pilar de Hollywood que desvanece -
Cinco dos nove membros do conselho de administração da Weinstein Company, todos homens, renunciaram devido ao escândalo.
No momento, não há indicações sobre o que será feito com as ações que Weinstein tem na empresa.
Harvey Weinstein, fundador junto com seu irmão Bob das produtoras de cinema Miramax e The Weinstein Company, acumulou os prêmios mais reconhecidos da indústria cinematográfica.
Seu primeiro grande sucesso foi em 1989 com o filme "Sexo, mentiras e videotape" de Steven Soderbergh, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
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* AFP