Por Rossana Silva, especial
Quando o "felizes para sempre" tem um desfecho diferente do planejado, um período no fundo do poço parece ser inevitável – e até necessário – antes de superar os fatos. A separação é um dos acontecimentos com maior potencial para colocar qualquer pessoa para baixo. E a questão, de acordo com a psicóloga Lisandra Zanuto, coach de relacionamento e divórcio, é como e quanto tempo você vai precisar para sair dessa situação. E Lisandra fala de cadeira.
Depois de enfrentar dificuldades para reestruturar a vida após o fim de um casamento, Lisandra foi estudar nos Estados Unidos e descobriu iniciativas específicas para assessorar recém-separados. Decidiu criar no Brasil o Separei, e agora?, um programa para ajudar pessoas (em sua maioria, mulheres) a reconstruir a vida com um processo de coaching, recuperação da autoestima e da autoconfiança.
– A separação é um dos traumas mais subestimados da nossa sociedade. Acreditamos que o tempo vai curar as nossas feridas e resolver tudo. Mas o trauma precisa ser olhado, cuidado e curado apropriadamente – afirma ela.
Ao investigar o assunto, a psicóloga descobriu que a superação do fim de um casamento é um processo que costuma levar, em média, de três a cinco anos. Em alguns casos, porém, esse período pode se estender por décadas.
– Há pessoas que entram no programa depois de 16 anos separadas, por exemplo. E há quem, depois de um ano, já está vivendo uma nova fase. Depende da estrutura emocional e dos recursos que cada um tem à disposição para lidar com uma mudança tão traumática.
Veja as dicas de Lisandra para passar pelo período com a integridade emocional preservada.
1. CUIDE DA AUTOESTIMA
É praticamente impossível passar por um processo de separação sem ter a autoestima fortemente abalada. De acordo com Lisandra, esse sintoma atinge a totalidade das mulheres que se separam. E, via de regra, a perda temporária do amor próprio está associada a um papel de vítima que leva as mulheres a sentirem pena de si mesmas. Lisandra recomenda tirar o foco do outro e coloca-lo na sua própria vida, assumindo o que lhe diz respeito e de que maneira você participou para que a separação ocorresse. Em paralelo a isso, reserve um tempo para cuidar de si, resgatando hábitos que lhe fazem bem, procurando a companhia da família e dos amigos e buscando autoconhecimento.
– É a fase da vida na qual você mais precisa cuidar de você. É preciso olhar para a dor da perda e transformar isso em algo positivo para que você se torne um ser humano mais forte para a vida e para os futuros relacionamentos – explica Lisandra.
2. PRESERVE OS FILHOS
Os filhos tendem a sofrer tanto ou mais que os pais durante o processo de separação. E cabe ao casal ter consciência e maturidade emocional para não usá-los como moeda de troca ou para se informar sobre o que está acontecendo na outra casa. Respeitar a integridade dos filhos neste momento vai fazer a diferença na maneira como eles vão lidar com a situação, independentemente da idade.
Por isso procure fazê-los entender que o casal não existe mais, mas o pai e a mãe vão continuar a seu lado. Lisandra aconselha estimular os filhos a expressarem o que pensam, como sentimentos de medo ou de raiva.
– Costumamos subestimar a capacidade de compreensão dos filhos. É preciso dar pistas e ajudá-los a entender o que está acontecendo para conseguir tirar esses fantasmas de perto deles – afirma.
Uma boa maneira de se aproximar é dando a chance de que eles também sejam ouvidos, questionando o que têm a dizer sobre a situação:
– Na maioria das vezes em que fazemos essa pergunta, nos surpreendemos com as respostas – diz a psicóloga.
3. CONTATO ZERO
Seguir os passos do ex-marido, procurando estar a par de suas movimentações ou de seu estado emocional e afetivo é das características mais comum entre muitas recém-separadas. Trata-se de uma tentativa (às vezes, inconsciente) de manter o vínculo afetivo, afirma Lisandra:
– Isso só dificulta ainda mais o processo de separação, além de colocar a pessoa em um lugar de vítima. Ela fica pensando "e se", em um círculo de pensamento obsessivo. Procurar saber do outro pelas redes sociais, nas quais se publicam apenas momentos felizes que nem sempre fazem jus à realidade, pode levar a uma interpretação equivocada do momento e só piorar a situação, dando a entender que o outro está superando essa fase melhor do que você.
Por isso, a recomendação é de contato zero, interrompendo ou, pelo menos, minimizando o máximo possível a interação com o ex-companheiro nos primeiros meses após a separação.
– Esse vai ser o jeito mais fácil de enfraquecer o vínculo até rompê-lo. Se você mantém o contato, isso te enfraquece e você não consegue cortar a relação – explica a psicóloga.
4. CALMA COM UM NOVO ROMANCE
O senso comum diz que só um amor é capaz de curar o outro. Mas uma relação amorosa iniciada imediatamente após o término de outra pode ser uma grande armadilha. É possível que você esteja se envolvendo por carência afetiva e para mostrar ao ex (ou à ex) que você está bem. A tendência de entrar em relações tóxicas ou abusivas tende a ser maior nessa fase, segundo Lisandra.
– A relação que vem sem você estar pronta causa mais estrago do que a separação em si. O melhor, então é passar pelas fases do luto, permitir-se uma cura apropriada de fato, resgatar a sua identidade, fortalecer-se emocionalmente e reestruturar a sua vida. Aí sim, quando você estiver inteira de novo, encarar um novo relacionamento pelos motivos certos, e não como uma muleta. A tendência é entrar em relações tóxicas e abusivas. Geralmente é um desastre – recomenda a psicóloga.
5. FOQUE NO TRABALHO E MUDE ROTINAS
A dificuldade em cuidar das atividades profissionais e da rotina é uma queixa recorrente no período pós-separação. Por isso, Lisandra recomenda ser paciente e acolher suas dores e suas angústias, mas sem descuidar do desempenho no trabalho. Procure focar no trabalho, aceitando a sua situação atual sem descuidar do futuro e lembrando de tomar as atitudes necessárias para levá-la até onde você deseja estar pessoalmente e profissionalmente.
– Tente separar o pessoal do profissional e trabalhar. Uma dica é tentar fazer uma rotina diferente da que você fazia com o seu marido – diz Lisandra.
Se quando você chegava do trabalho, jantavam juntos, mude isso, faça uma coisa que te dê prazer, crie um novo ritual e uma nova rotina na qual você se sinta fortalecida, respeitando a fase que você está vivendo.