Jes Baker, reprodução
Esses dias veio um homem com esse papo.
Postei, em meu Instagram, uma foto de maiô com um texto falando sobre como corpo é pra ser aproveitado e não rechaçado, não odiado e que todos os corpos são corpos para estarem em todos os lugares.
O cara vai lá e manda: “Já que expôs o produto, pergunto: isso gera desejo? Aceita o mainstream pois ele é quem dita como você é percebida pela maioria”.
Eu ri e respondi que
1. Meu corpo não é um produto;
2. Dane-se o seu desejo;
3. O mainstream vai ter que nos engolir.
Todos os corpos geram desejo.
Nenhum corpo é unanimidade.
Há quem sinta tesão em corpos magros. Há quem sinta tesão em corpos médios, bundas grandes, peitos pequenos.
Claro que a pessoa admitir isso passa por outro processo. O que não é socialmente aceitável e causa desejo é assunto pra outra coluna, pois há pessoas que escondem seus relacionamentos com mulheres gordas, transexuais, travestis, para evitar julgamentos da sociedade, e isso pode vir a culminar em violência e abusos. Claro também que o desejo não é apenas algo que brota; é também uma construção. Os nossos desejos não nascem do vácuo, não surgem como ervas daninhas; são construídos desde cedo com o que nos dizem ser bonito, aceitável, com o que nos é vendido como ideais de felicidade e de normalidade. Sobretudo de normalidade.
Mas, sim, todos os corpos despertam desejo em alguém.
Porém, há apenas um corpo sendo majoritariamente representado na mídia, na televisão, nas revistas.
Apenas um corpo é aceito sem questionamentos ou sem ser vendido como “exótico”.
O problema é justamente o tal do mainstream. Se apenas um corpo é exaltado como ideal, como é que uma garota fora desse padrão vai se sentir representada? Sim, aos pouquinhos isso está mudando, mas isso ainda vai demorar.
Uma blogueira gringa, Jes Baker, do incrível site The Militant Baker, certa feita questionou o porquê das pessoas se incomodarem quando mulheres fora do padrão se sentem bem com seus corpos.
“É mais ou menos assim: somos ensinados, enquanto sociedade, que SE atingirmos o corpo ideal que vemos na mídia tradicional (e nunca antes), então obteremos amor, valor, sucesso e, finalmente, felicidade. É o que todos queremos, certo?”
Pra isso existe toda uma indústria. Da dieta, da plástica, de cremes, de chás, de mil coisas para “arrumar” nossos corpos imperfeitos. Pra”nos ajudar” a alcançar a felicidade, ora, pois a felicidade só chega com o corpo perfeito.
“E ENTÃO, depois de tudo isso, quando uma mina gorda – que não passou pela trabalheira, que não tentou arrumar seu corpo, que não tem interesse algum no evangelho em que acreditamos, levanta e diz: SOU FELIZ… Nós surtamos.
Porque: essa vaca quebrou as regras. Ela furou a fila. Ela simplesmente tirou o sentido das nossas vidas.”
Amor-próprio incomoda. Não é esse o combinado. O combinado é que só as magras podem ser felizes, só as mulheres dentro do padrão podem ser amadas, só elas podem mostrar seus corpos e dizer: sou gata e lide com isso. Mas não pode ser muito magra também, né, que homem gosta de ter onde pegar. Como se vivêssemos em função de agradar aos homens. Como se todas as mulheres fossem heterossexuais. Como se alguém ainda aguentasse essa patacoada.
O corpo fora do padrão gera desconforto. Como pode essa mulher se achar bonita? Isso não cabe no meu livrinho de regras!
Ora, meu bem; sugiro que faça uma edição ampliada das suas regras, porque vai ter, sim, cada vez mais mulheres fora do padrão rebolando sua autoestima por aí. E não há comentariozinho de internet de anônimo indignado que vá frear isso.
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