Estava amassando uma banana com o garfo para o meu café da manhã, misturei linhaça e canela e pensei em tirar uma foto para postar no Instagram. Cogitei escrever na legenda algo como “bom dia!” ou “começando bem a terça-feira!”. A ideia era passar uma mensagem positiva de energia, de espanta preguiça, alguma coisa saudável – dessas que a gente cansa de ver por aí. Mas desisti.
ME SENTI UMA IDIOTA
Um dos motivos para minha desistência foi que minha banana tinha o aspecto de uma gororoba horrível, assim como toda banana amassada. Em nada lembrava essas fotos de comida com aparência irresistível que proliferam nas redes sociais. O outro motivo, ainda maior, foi realmente a reflexão mais profunda sobre a necessidade da exposição do meu café da manhã.
PRA QUÊ?
Eis uma indagação que tenho me feito bastante – e começou quando uma leitora de 14 anos perguntou à queima-roupa:
– Qual teu Snap?
– Meu o quê?
– Teu Snapchat.
– Não tenho Snapchat – respondi.
Silêncio.
– Para que serve um Snapchat – eu quis saber.
– Para a gente acompanhar a tua rotina – ela respondeu.
– E quem disse que eu quero? – pensei comigo
QUE MEDO DISSO
Fiquei com aquilo na cabeça e fui me informar melhor sobre a utilidade do Snapchat. Sabem o que é Snapchat? Como funciona o Snapchat? Para que serve o Snapchat? Pois eu continuo sem entender.
TÁ BEM DIFÍCIL
Resumindo: trata-se de um aplicativo em que você grava um vídeo de cerca de 10 segundos e compartilha com sua rede de amigos. Diferentemente dos outros aplicativos, seu vídeo não fica armazenado. Ele some da rede em 24 horas. Exemplo: gravo a minha banana sendo amassada e coloco no ar. Agora me diz: qual é o interesse do público na minha banana amassada?
QUAL PODE SER?
Passei a seguir pessoas tidas como “formadoras de opinião” para ver o que elas postam no Snapchat. Tive vergonha alheia. Elas gravam a si próprias acordando, elas contam piadas infames, elas mandam beijo para os fãs, elas falam de boca cheia, mostram que o papel higiênico do banheiro acabou – isso para ficar nas bizarrices menos medonhas.
QUAL A CONCLUSÃO, MARIANA?
Não estou preparada psicologicamente para ter um Snapchat. Não faz parte da minha geração, ou de como aprendi e gosto de viver e compreender o mundo ao redor. Entendo o Snapchat como meio de comunicação da chamada geração Millenials, nascida entre 1980 e 2000, cujo comportamento está baseado em imagens. Em “parecer” muito mais do que “ser”.
SABE ASSIM?
Para esta geração, não basta mais apenas ir a um show, desfile de moda, restaurante, festa ou afins. Não basta mais estar em algum lugar, se divertir e guardar aquela experiência para si. Tem que marcar presença nas redes sociais. Antes existia a cultura do “ver e ser visto”. Agora, ser visto (e apenas isso é importante). Sem entrar no mérito do certo ou errado, apenas não tenho idade para a brincadeira.
NEM EU
Acredito que para toda ação de comportamento extremo há uma reação. Acredito que a próxima geração, a pós-Millenials, a chamada geração Z, nascida em 1995, demonstre cansaço de tanta imagem para pouco conteúdo. Talvez, quando esse dia chegar, eu me sinta jovem de novo
NO MOMENTO, TÁ DIFÍCIL