No ambiente das novas dinâmicas profissionais, poucas habilidades são tão importantes quanto saber fazer networking. No entanto, manter uma rede bem informada sobre o seu trabalho e, ao mesmo tempo, cercar-se de pessoas que podem acrescentar a ele não é tarefa simples. Exige saber diferenciar o conselho da inconveniência, o elogio da bajulação, a oportunidade da pura perda de tempo.
Para ajudar na tarefa, Donna recorreu ao consultor Marcelo Miyashita, que desde 2003 formou mais de 5 mil alunos em cursos de networking e marketing pessoal, e chegou a 10 dicas para uma jovem profissional interessada em tecer uma rede de contatos bem-sucedida.
1. Amigos, amigos. Negócios à parte
Um pecado comum das jovens profissionais é levar para o início da vida profissional amigos e parceiros de faculdade. Aquela sua amiga pode ser descolada, inteligente e divertida para um happy hour, mas nenhum desses adjetivos indica que ela é boa profissional. Portanto, trazê-la para um job pode ser um erro. E ainda mais espinhoso caso você se obrigue a dispensá-la ou a dar um feedback negativo.
Outro problema é indicar uma pessoa em nome da amizade. Certifique-se de indicar profissionais cujo trabalho você aprecie, e não com quem você tem bom relacionamento. Caso não seja uma boa indicação, quem se queima é você. Lembre-se que nossa rede é dividida em níveis: familiar, amizades, relacionamentos e contatos em geral. Não há problemas em manter pessoas restritas a cada um desses grupos.
2. Diversifique seus contatos
Esse erro vem um pouco mais tarde na carreira. Alguns anos após a formatura, o profissional se vê cercado apenas de colegas da sua área. Isso traz problemas dos mais diversos: ele passa a acreditar que as opiniões de todo mundo são iguais às dos seus colegas, restringe suas possibilidades profissionais, não consegue pensar em um colaborador externo para um projeto e, consequentemente, tem uma tremenda dificuldade quando tenta empreender.
Procure, portanto, ter na sua rede profissionais diversificados. Para isso, a melhor dica é encontrar uma forma de manter pessoas cujo serviço você gostou. Isso vai desde pedir e guardar o cartão do eletricista até perguntar ao gerente quem decorou aquele restaurante que você amou.
3. Desconfie do "tomar um café"
Aqui os problemas vão desde perda de tempo a segundas intenções propriamente ditas. Miyashita aconselha especial cuidado às mulheres ao aceitar ou propor convites como "tomar um café" com um contato. Para não correr o risco de ver um meeting que você achou se tratar de uma boa oportunidade de trabalho virar um jantar romântico à meia-luz, é legal sempre estabelecer a pauta do encontro.
Se for convidada, pergunte o assunto e peça um pequeno briefing para ir tendo insights. Se for convidar um contato, deixe claro qual é seu objetivo. Proponha também um local propício para uma conversa profissional que possa ser abreviada a qualquer momento.
4. Apresente-se à/ao chefe
É o bom e velho quem não é visto não é lembrado. Começou a trabalhar em um local novo? Peça para ser apresentada ao responsável pela empresa ou ao menos pelo setor. Não há nada de inadequado em trocar cumprimentos, dizer seu nome, comentar como chegou até ali e o que fará dali para frente.
Se tiver algo a mencionar sobre alguma novidade da empresa (uma aquisição, uma mudança de estratégia, um comentário recente do chefe a algum veículo de imprensa), também não há problema. Só não force a barra elogiando o que você não gosta ou dando uma opinião sobre o que você não entende. O chefe saber quem é você e o que faz também fará com que ele fique alerta para o trabalho que você disse que desempenharia.
5. Mantenha sua rede informada
Ao longo de mais de uma década analisando networking, Miyashita observou algo curioso: o maior número de recomendações de um contato não vem da sua rede mais próxima, e sim das relativamente distantes. Faz sentido: se você nada entende de encanamento, vai se destacar aquele único encanador que você conhece e fez um belo serviço na sua cozinha.
Portanto, duas dicas: a primeira, e mais elementar, é fazer sempre um bom trabalho, independentemente de nunca mais ver aquele cliente. A segunda é manter-se capaz de ser rastreada. As redes sociais são uma boa forma de fazer esse marketing pessoal sem parecera exibida. Postagens esporádicas sobre o que você tem feito e onde está trabalhando ajudam a informar e também a ser lembrada.
6. Dê, além de receber
Tem coisa mais desagradável do que ver aquela caixinha azul do Facebook piscar com um "oi, tudo bem?" de um velho conhecido e ter a certeza de que duas mensagens à frente virá o pedido de um favor? Pois então, gostar ninguém gosta. Mas como volta e meia apelamos a esse artifício, ao menos seja paciente e se esforce em ajudar quem pede auxílio.
E sabe aquelas postagens desesperadas de alguém em busca de um cabeleireiro no bairro, de um mecânico, de um hotel para pets? Pergunte-se mesmo se você não tem alguém para recomendar. As pessoas lembrarão com carinho de quem indicou um serviço legal e os prestadores de serviço de quem se lembrou deles na hora de retribuir a indicação.
7. Distribua elogios (sinceros)
Talvez a forma mais agradável de aquecer um networking seja elogiar aos quatro ventos o que você efetivamente gostou. Seu ex-colega abriu um bar e você adorou, sugira aos amigos e mande um abraço por eles. O mecânico fez um bom serviço a um preço honesto, elogie-o em público. A funcionária a atendeu bem, saliente isto no balcão à gerente. Aquela amiga de infância que hoje é jornalista escreveu uma reportagem legal, chame-a no Facebook e mande um parabéns e um alô.
As pessoas se sentem lisonjeadas com elogios e, de quebra, lembram que você existe e está por aí. Esse bom sentimento a seu respeito pode ser útil um dia, e isso não faz dele menos sincero.
8. Cuidado com as redes sociais
Lembre-se da mulher de César: não basta ser honesta, é preciso parecer honesta. Se você tem interesse em fazer marketing pessoal, não adianta muito ser um bom profissional no trabalho e um reclamão nas redes sociais. Também não adianta divulgar que a inauguração de uma nova unidade do restaurante no domingo e, ao longo da semana, fazer um discurso político ofensivo àqueles que podem ser seus clientes ou parceiros.
Por mais que você opte por não fazer networking nas redes, tenha em vista que elas são um mural a seu respeito. Procure sempre imaginar o que possíveis contatos profissionais pensariam de você se abrirem seu Facebook, porque um segredinho: provavelmente eles irão fazer isso.
9. Mantenha-se ativo sempre
É verdade, as más notícias chegam rápido. Provavelmente, o momento em que você mais vai precisar de um networking aquecido é depois de um evento traumático, como uma demissão. Mas esta não é a melhor hora para começar a fazê-lo. Lembre-se de falar a respeito de si mesma também quando as coisas estão bem. Quando rolou uma promoção, quando você colocou na rua um projeto novo.
Um bom jeito de fazer isso de forma espontânea, aconselha Miyashita, é procurar falar sobre a sua área. É arquiteta? Fotografe e comente os prédios por onde você passar, poste esboços no Instagram, se possível se envolva em congressos e eventos na área e divida impressões. Projetando uma imagem ativa e especializada, você estar empregada é um mero detalhe para os seus contatos.
10. Peça conselhos e opiniões
Uma coisa é pedir um favor. Outra bem diferente é pedir um conselho ou uma opinião de quem você considera mais entendido do que você. Pedir um favor é fazer com que a pessoa saia da sua rotina para atender a uma solicitação sua. Pedir um conselho ou uma opinião, por sua vez, mostra que você admira e se interessa pelo conhecimento do seu contato naquela área.
Portanto, não se constranja de procurar aquele seu amigo que é fã de carros para se aconselhar sobre qual veículo comprar para a sua empresa. Seja breve e interessada. Além de opinar com gosto, talvez o amigo conheça uma pessoa legal na revendedora da marca daquele veículo – e é assim que o networking se fortalece.