Pedro sempre a incentivou a voltar a estudar, mas Adriana, que nunca gostou muito de frequentar a escola, preferia ficar em casa. Depois que as crianças nasceram, então, aí sim desistiu de vez de fazer uma faculdade. Só que os filhos cresceram e ela começou a sentir que eles já não precisavam tanto dela. Era jovem ainda, e ter uma profissão fora de casa começou a fazer sentido na sua vida pela primeira vez. O marido, claro, exultou de alegria. Era o que ele sempre quis. Acreditava piamente que o casamento deles só melhoria de ela tivesse novos interesses, outros assuntos para conversar quando chegassem em casa à noite, que não fosse os filhos, as fofocas da vizinhança e as notícias que ela havia escutado na televisão durante o dia.
Adriana decidiu cursar gastronomia, tinha tudo a ver com o que ela gostava. Estudou muito, passou no vestibular. Adorou o curso, foi aluna exemplar. E Pedro ali, encantado com as transformações que via acontecer na sua mulher. Ela conseguiu um bom emprego _ os filhos já estavam grandes e independentes _ e deslanchou na carreira. Pedro, que sempre foi um empresário bem sucedido, no início gostou de ver sua mulher ser reconhecida como uma brilhante profissional. Mas as coisas começaram a mudar quando ela fechou um grande contrato. Adriana chegou em casa exultante, louca para contar a novidade a Pedro. Ele, bem sério, disse:
_ Acho que já está passando dos limites. Eu queria que você tivesse uma profissão para se distrair, para sair de casa. Não para ficar competindo comigo o dia inteiro.
Competição é uma palavra que nunca havia passado pela cabeça dela. Adriana, talvez ingenuamente, acreditava que o marido fosse ficar feliz e orgulhoso de seu sucesso. Não imaginava que sua independência financeira e emocional pudesse abalar tanto seu casamento. Mas a verdade é que abalou, e ela se sentiu injustiçada, porque quando ele fazia sucesso, quando a empresa cresceu e as filiais foram abertas, ela sempre vibrou junto com ele. “Ah, mas é diferente”, foi só o que ele disse. Tão diferente que o casamento de mais de 20 anos não aguentou.
Esta é uma história real, mas não é a única, nem a primeira e infelizmente não será a última. As mulheres vêm em um processo onde conquistam cada vez mais espaço na sociedade, como profissionais dedicadas e bem sucedidas. “O homem sempre foi ensinado e criado, desde pequeno, para ser o provedor e protetor da sua mulher. Então, se ele não se sentir útil a ela, ele não se vê como um homem autêntico, e isso pode abalar a relação”, explica a psicóloga Carla Ribeiro. Em pleno século 21, com tantas mudanças ocorrendo no mundo, já está mais do que na hora de acabar com este tipo de comportamento, arcaico e machista. Não precisamos competir, mas ter medo de fazer sucesso porque o namorado ou marido pode não gostar, aí já é demais. Melhor trocar de companheiro.