Há algum tempo, de bobeira e assistindo TV em casa, me deparei com a imagem de alguns blocos de gelo em uma praia de areia preta. Fiquei fascinada e prestei mais atenção ao programa, em um canal de esportes. Descobri que aquele lindo lugar ficava na Islândia. Aquela imagem ficou gravada em minha cabeça, pois era algo completamente diferente, com aquele lindo contraste das ondas bravas batendo contra o gelo e a areia preta.
Mais dicas da Luciane Garcia?
Para minha surpresa, um tempo depois recebi um convite: visitar os principais pontos da Islândia de forma expressa, com 6 noites de viagem e 2 dias em trânsito, para ir e voltar. Com filho pequeno em casa, fiquei no maior dilema: vou ou não vou. Decidi ir, por ser um destino desconhecido para mim e que despertava cada vez mais curiosidade.
O sobrevôo de chegada em Reykjavik já mostrava o que viria em seguida: lindas imensidões, com água e montanhas sem fim. Gente? Quase nada. O país tem pouco mais de 300 mil habitantes, sendo metade deles na encantadora capital. Do aeroporto, o primeiro passeio que quase todos fazem é seguir direto para a Blue Lagoon. Isso mesmo, a dica é levar uma roupa de banho na mala de mão! O belo e icônico ponto turístico Lagoa Azul começou com a construção da usina geotermal, que pode ser vista por quem está dentro da lagoa.
Na época, foram feitos buracos muito profundos para extrair água extremamente quente e pressurizada das profundezas da terra (e também rica em minerais). A água produz eletricidade ao mover turbinas a vapor. A água que corre, ainda muito quente, era considerada muito salgada para prover aquecimento às residências, por isso foi jogada na lagoa, escavada no campo de lava. A cor da água, meio azul, meio esbranquiçada, é resultado de uma combinação de algas, sílica e outros minerais. Um belo dia, um islandês que sofria de psoríase resolveu tomar um banho lá, percebeu uma melhora imediata nas condições de sua pele e daí em diante o marketing falou mais alto - e a fama do lugar se fez. Um spa e uma super infra estrutura foi construída no local, que hoje é uma das principais atrações do país. Em breve o local vai inaugurar o melhor hotel 5 estrelas do país.
Com a visita à Lagoa Azul fiquei revigorada do jet lag da viagem e rumamos à cidade de Reykjavik. Que graça de lugar! Acho que moraria ali tranquilamente. Trata-se de uma cidade pequena e super charmosa, com um centrinho lindo, cheio de bares, restaurantes e ruas que convidam ao passeio. A viagem foi em maio deste ano, e nesta época já anoitece super tarde (na verdade nem anoitece de verdade, uma claridade fica no céu mesmo no meio da madrugada). Assim os dias são longos e se aproveita muito. A hospedagem é relativamente simples, sem hotéis 5 estrelas. Na primeira noite fiquei num hotel super charmoso, cheio de design nórdico (que eu sou apaixonada), o 101 Hotel O jantar não podia deixar de ser um menu degustação no restaurante Kjallarinn Kitchen Bar. Simplesmente uma delícia.
No dia seguinte, muitos passeios. Na porta do hotel nos aguardava um carro nos aguardava, que nos levou ao vale de Thorsmork (dizem que o deus Thor nasceu aqui. Rodeado por geleiras em três dos seus lados, é um local de difícil acesso, onde cruzamos rios e um terreno realmente acidentado. Aqui é a área que foi mais afetada pelo vulcão Eyjafjallajokull, que entrou em erupção em 2010 e fez uma bagunça enorme na malha aérea da Europa.
O visual é de tirar o fôlego. No retorno à cidade, formos recepcionados no hotel por um coquetel da operadora que montou a viagem. Foi então que algo chamou minha atenção: o design nórdico em cada canto, que simplesmente adoro! Para mim, as peças mais lindas de decoração são as escandinavas. Simples e belas. No meio do coquetel foi servida uma “iguaria” da Islândia: carne de baleia. O dilema foi comer-ou-não-comer. Ok. Experimentei. Estranho, forte. Não quero mais.
No terceiro dia de viagem visitamos o Círculo Dourado, talvez a região mais visitada do país, e fizemos um passeio de snowmobile. Começamos pelo Parque Nacional de Thingvellir, local onde foi fundado o primeiro parlamento do mundo em 930 D.C. Fora isso, o parque também é famoso por ser possível ver a junção das placas tectônicas americana e europeia. Há a possibilidade, inclusive, de se mergulhar em Silfra, uma fenda marítima que possibilita ver 'in loco' o distanciamento entre duas das principais placas tectônicas que formam a crosta terrestre. Essa é considerada a única região do mundo onde é possível ver este feito.
A fenda aumenta cerca de 2,5 cm por ano e está situada dentro do Parque Thingvellir, e a distância entre as duas placas é tão grande, que pode-se mergulhar e nadar entre elas. Ao contrário do imaginário popular, as placas tectônicas não ficam necessariamente a centenas de metros abaixo do solo. Em Þingvallavatn é possível encontrá-las a 25 metros de profundidade, porém há regiões em que elas estão até 60 metros abaixo d’água. Foi uma experiência inesquecível.
De lá uma surpresa: um almoço tipo picnic em meio a um bosque com muito peixe e vinho local. Um charme, com peles de rena espalhada pelos bancos e o som da natureza nos fazendo companhia. Nem dava vontade de continuar o dia. Mas havia muito ainda para conhecer e seguimos para a área de Geyser, onde observamos o maior dos géiseres da região, chamado Strokkur, jorrar suas águas quentes e sulfurosas a quase 40 metros de altura, e também a Gullfoss, impressionante cachoeira vizinha.
Para finalizar nosso dia, snowmobile no glaciar de Langjokyll. Só o caminho até lá já valeria o passeio, com nosso super jeep montanha acima, a paisagem foi se tornando cada vez mais branca e deserta, com muita neve caindo. De repente, uma cabana onde colocamos nosso equipamento e vários snowbiles nos esperando. A paz e o silêncio do lugar… uau!
Antes de seguirmos para o famoso Ion Hotel, onde dormiríamos aquela noite, visitamos um tipo diferente de acomodação naquela região: casas super luxuosas que são alugadas com todos os serviços de hotel, como a Trophy Lodge (nesta, por exemplo, Beyonce fez uma festa de aniversário para Jay Z). Muita mordomia em uma viagem cheia de aventura, afinal quem não gosta de muito conforto depois de um dia cheio de atividades junto à natureza?
No dia seguinte, fizemos o passeio que era o ponto alto para mim: a Ice Lagoon e as praias de areia preta.
Primeiro, um passeio pela lagoa e seus lindos e enormes icebergs. O bote, diferente dos barcos que levam dezenas de turistas, era só para o nosso pequeno grupo de 8 pessoas. A calmaria da água e a grandiosidade daqueles monstros de gelo fizeram do passeio um momento único. Seguimos então para a praia. Uau, que imagem linda! Blocos e mais blocos de gelo na beira da praia e as ondas esculpindo um a um. Infelizmente a chuva começou a cair, pois minha vontade era de sentar ali por horas apreciando o espetáculo.
Era nosso último dia no país e conhecemos ainda a ilha de Westman, um dos segredos da Islândia. A ilha conta com um pequeno vilarejo de onde saem passeios de barco para visitarmos diversas cavernas e observarmos os ninhos do Puffin, pássaro símbolo do país. Passamos também por um dos mais belos campos de golfe do mundo, que fica em cima da cratera de um vulcão adormecido. De lá, seguimos para a geleira de Solheimajokull, onde caminhamos sobre ela. O passeio foi lindo, com direito a visita a uma caverna de gelo.
Minha impressão sobre a Islândia é que ela oferecer uma mistura de atrações que lembram Patagônia e Nova Zelândia, mas com um algo a mais. O país é super receptivo, tranquilo e fácil de chegar. São menos de 6hs de vôo de NY (sim, uma ótima opção para ser conjugada com os EUA!) e 3hs de Londres. Com certeza voltarei para explorar o país com mais calma e mais tempo, e conhecer a região norte, ainda mais remota.