Foi só dar uma saidinha da frente do computador para os e-mails acumularem novamente. Isso acontece toda hora, o dia inteiro. Decido não olhar, pelo menos não esta noite. Preciso descansar um pouco. Mas e se tiver alguma mensagem importante? Algo do trabalho, de um amigo ou notícias da família? Bom, se fosse alguma coisa realmente séria me telefonavam. Não vou abrir, nem olhar o WhatsApp e ponto final. Chega uma hora em que precisamos definir quem é que está no comando, se a gente ou a máquina. Confesso que às vezes até fico em dúvida.
Volto atrás. Ok, vou dar uma última olhadinha nas mensagens, para ficar despreocupada. Depois desligo tudo e retomo a leitura do meu livro, que estava tão bom e, por falta de tempo - maldito computador! - parei de ler antes de chegar à metade. E tem vários outros me esperando na mesinha de cabeceira.
"Você tem 22 novos e-mails", diz a mensagem. Vamos lá então. O primeiro: promoção de produtos eróticos via site. Não interessa. O próximo da lista é o de uma loja de roupas para crianças. Meus filhos já cresceram e os netos ainda não chegaram. Também não me serve pra nada. Outro: corrente de oração de uma igreja que nunca ouvi falar. Dietas milagrosas, viagens incríveis em tours personalizados para quem tem muito dinheiro (o que também não é o meu caso), curso de oratória, oferta de coaching para assuntos profissionais, apostilas para concursos públicos, novos esmaltes com as cores do inverno que não podem faltar na minha nécessaire, receitas de produtos sem glúten e de creme caseiro para espinhas, blá, blá, blá, blá, blá.
Nada importante. Aliás, quantos dos e-mails que recebemos diariamente vão parar na lata do lixo? No meu caso, com certeza a maioria. Prefiro nem contar o que deletei só no dia de hoje, para não saber quanto tempo precioso eu poderia ter investido em atividades bem mais prazerosas, como leituras e filmes.
São dilemas do mundo moderno, não dá mais pra viver sem internet, e-mail, mensagens instantâneas, celulares e toda esta parafernália eletrônica que criamos para facilitar a nossa vida, mas que nos toma um bocado de tempo e de energia. Não há mais volta, eu sei, mas às vezes dá saudade do tempo em que a gente só tinha um telefone em casa, geralmente na sala, e que as mensagens chegavam via carta ou telegrama. Pelo menos parecia que a vida seguia mais devagar, e que a gente tinha tempo pra fazer tudo nas 24 horas do dia.