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Segurava sempre na garganta a pergunta: “te fiz alguma coisa?”. A sensação era perturbadora não só pela antecipação de um problema, mas pelo silêncio do outro lado. Silêncio em palavras, que em atitudes as palavras surgiam aos borbotões. Mas como os segredos de alguém muitas vezes são a única coisa efetivamente sincera de uma pessoa, não há como se fazer muitas suposições. Há de se perguntar.
Do outro lado, não só da curiosidade, mas da vontade de entender o outro, o receio de “estar fazendo pressão” demais. “Acho que posso assustar a mina”, ele me diz. De certa forma, compreensível. Não é sempre que as pessoas estão 100% prontas para entrarem de novo no universo da confiança, entrega, desprendimento. A verdade é que, quando a gente se ferra muito numa relação, e é pego de surpresa com o coração batendo forte por outra, muitas vezes a gente se vê entre a cruz e a espada mesmo. Claro, é preciso sempre lembrar que: todos os nossos relacionamentos nunca, em hipótese alguma, serão iguais. Precisamos procurar muito e muito apaixonadamente alguém que tenha os mesmo defeitos e atitudes que nos fizeram encerrar um antigo relacionamento.
Mas a gente fica receoso mesmo assim. Não responde o “eu te amo”, por exemplo, simplesmente pelo receio de se expor de novo ao fio desencapado que é “amar”. Depois do “eu te amo”, não tem mais volta. É como retirar um pedido de casamento, simplesmente não tem como. Então as pessoas se seguram. Dão um tempo, esperam a coisa maturar ainda mais no peito. Olham com ternura e entregam o amor e a paixão de muitas maneiras que a boca não precisa expressar, mas que são faladas mesmo assim. Há, claro, quem ache que uma vida de medo é o pior tipo de vida possível. Essas pessoas se esquecem que esse tipo de bloqueio não se dissolve com um sorriso bonito e promessas de férias nas montanhas. Teremos sempre que enfrentar a nossa condição demasiadamente humana de preferirmos a zona de conforto, minimizar o conflito, superar momentos difíceis.
Ainda assim, é preciso compensar a balança aí. Ainda que o outro tenha direito a seus silêncios, distâncias e complicações, o lado de cá também pede um tanto de paz e agrado, de conforto - que nunca, nunca é luxo. Então como evitar a tal da pressão? “Sei que tu tem enfrentado umas broncas, que precisa de um tempo sozinha, que quer resolver isso contigo mesma, mas se por acaso tu quiser dividir, eu vou estar aqui”. Oferecer uma mão, estar disponível e presente é uma grande opção. Mas como fazer com que isso volte pra gente? Até onde vai o limite de dar?