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Sábado, 05 de julho
Eu e meu excelentíssimo marido saímos de Porto Alegre, na correria. Uma semana fora exige um certo planejamento com prazos e compromissos, mesmo assim, muita coisa fica para última hora. Chegando em São Paulo, do aeroporto de Congonhas fomos direto para um “QG gauchês”, onde amigos faziam uma churrascada para assistir Holanda X Costa Rica. Tudo normal. Falamos de assuntos do dia a dia, discutimos polêmicas, tomamos cerveja.
Domingo, 06 de julho
Partimos para Porangaba, cidade a 1 h e 30min da capital paulista para o segundo módulo da pós graduação em Biopsicologia, no Instituto Visão Futuro, uma ecovila fundada e coordenada pela monja americana Dra. Susan Andrews. Uma semana de estudos sobre o corpo e a mente. Práticas de yoga e meditação duas vezes por dia, alimentação vegetariana, pouquíssimo acesso ao “mundo lá fora”. Um universo paralelo, onde uma semana equivale a um mês, um oásis em meio a uma vida cheia de “preciso de”, “tenho que”, “estou atrasada para”.
Além de todo o conteúdo do curso, um tempo para reflexão e discussão dos porquês da vida e da nossa existência. É como se fosse um parênteses, onde a cada respiro profundo, uma ruga saísse do meu rosto. (Falando nisso, olha que legal esse projeto sobre a mudança no rosto de pessoas que passam por longos períodos de meditação).
Uma grande pausa. Os ruídos diminuem junto com os pensamentos rotineiros e as pequenas preocupações. A alimentação vai deixando o corpo mais ativo e um bem estar toma conta. Começo com uma reflexão de porque não faço pausas mais vezes, não precisa ser de uma semana, pode ser um dia, ou algumas horas. Pode ser 5 minutos sentada na minha mesa de trabalho antes de começar um projeto. Não somos máquinas, mas, às vezes, achamos que sim.
Do despertador do celular que grita e treme na mesa de cabeceira, ainda deitados na cama vemos as atualizações e mensagens recebidas na madrugada. Academia, banho, trabalho, almoço, trabalho, algum compromisso que inventamos no início da noite, cursos, happy hours, inaugurações, lançamentos, jantares, casa, tv, cama, despertador. Entre uma variação e outra a vida vai correndo, acompanhando nosso ritmo. Pensamentos, angústias, dúvidas, ansiedade, estresse, desentendimentos, conversas duras, egos se relacionando com violência enrustida.
"Sim, o final de semana está aí e vou descansar". Mas nos vemos com a agenda cheia, marcamos presença em eventos pelo Facebook que acontecem no mesmo dia e horário, para não ficar de fora de nada, pelo menos, virtualmente. As pausas são escassas. Mesmo quando não estamos fazendo nada, estamos pensando em tudo. A mente não pára.
Isso vai gerando acúmulo. Uma poeira grossa em cima de um móvel envernizado, teias de aranha num ambiente úmido onde o pó cria uma névoa através da qual torna-se difícil enxergar. O rosto franze, as costas se arcam para frente, cabelos caem, unhas quebram, a gripe não passa, a lombar reclama, os ombros tencionam, os olhos carregam bolsas. No caminho para casa, ao invés da padaria, passa-se na farmácia. Um cálice de vinho e uma long neck são o supra sumo do relaxamento.
Domingo, 13 de julho
O sinal verde aparece, e em menos de 1 segundo alguém buzina para o carro da frente andar. A senhora na fila do bar da rodoviária xinga a própria bengala que caiu no chão numa hora imprópria, quando finalmente tinha chegado a vez dela de pedir um café e um pão de queijo. Chegamos de volta a capital paulista, onde um amigo nos levou para assistir Argentina X Alemanha num lugarzinho legal na Vila Madalena. Brasileiros raivosos torciam para a Alemanha ferozmente. Eu, ainda um pouco catatônica com a mudança brusca de “temperatura e pressão”, me sentindo um “estranho no ninho”, pensei que em breve serei sugada novamente por tudo isso. É, a Copa acabou.
Nesse ano que começa, que venham mais pausas, que elas façam parte da rotina, assim como escovar os dentes.