Se eu tivesse que escolher uma frase que define minha filosofia de vida, com certeza seria essa: não se compare a ninguém, pois sempre existirá alguém melhor e alguém pior do que você. Eu a mentalizo cada vez que algo me acontece, nas mais diferentes situações, e isso me acalma, conforta e me dá forças pra seguir adiante.Foi assim quando descobri um câncer, há seis anos. Poderia ter pensado, como tanta gente que sente pena de si mesmo: porque justo eu? Mas não nasci para sentir pena de mim. As barreiras estão aí para serem derrubadas, como se fosse uma corrida de obstáculos. Então, naquela ocasião, eu pensei: tanta gente tem câncer. Por que eu não teria? A aceitação, acredito piamente nisso, é o primeiro passo para a cura.
Minha primeira reação, aquela vez, foi pensar na sorte que tive de descobrir a doença a tempo de poder tratá-la. Sim, tem gente que nunca teve nem terá câncer. Sorte a deles. Mas para milhares de outras pessoas o diagnóstico chega tarde, quando nada mais pode ser feito nem pelos melhores médicos do mundo para restituir a saúde. Então, fiquei feliz pela chance de ficar boa, fiz o tratamento e deu tudo certo. Outros probleminhas de saúde, bem menos graves, teimam em aparecer, e cada qual a seu tempo vão sendo eliminados, com a mesma perseverança.
Mas por que trazer este tema aqui, para a Revista Donna? Porque me impressiona como nós, de maneira geral, gostamos de nos fazer de vítimas e queremos que os outros sintam pena das nossas dores e dissabores. Tendemos sempre a olhar pelo lado mais negativo das coisas e achar que nosso sofrimento é maior do que o dos outros. Mas não é.
Uma amiga descobriu aos 50 anos que é diabética. Está inconformada. Eu a aconselhei a seguir meu mantra: que bom que você descobriu agora, e que pode controlar a doença e viver bem. Outro amigo infartou e se considera a pessoa mais sem sorte do mundo. Ah é? E tantos que sofrem infartos fulminantes, sem nem terem chance de um tratamento? E aqueles que morrem nas filas dos hospitais públicos porque não podem pagar um plano de saúde?
Tudo isso passou pela minha cabeça hoje, ao sair de um hospital, após conversar com o anestesista. Em breve vou passar por um procedimento para a retirada de cálculo renal. Desci no elevador ao lado de uma moça muito magrinha, que estava em uma cadeira de rodas. Pela falta de cabelos, percebi que faz quimioterapia. Ela me olhou, deu um sorriso muito doce e disse:
– Aperta no térreo pra mim, por favor. Dói até para levantar o braço.
Eu devolvi o sorriso e, já na saída, desejei-lhe boa sorte no tratamento.
Um jovem e um menininho vieram encontrá-la. Provavelmente, seu marido e filho. Me deu um nó na garganta. Novamente pensei: não tenho motivo algum para me queixar da vida.