Em uma entrevista de emprego ou em uma apresentação formal, falamos de nós mesmos, de maneira geral, através das nossas profissões. "O que tu é?" ou "O que tu faz?", sou designer e tenho um escritório de design de negócios. A resposta parece responder a pergunta - só que não. Eu sou muitas coisas além de ser designer, e desempenho tantas outras atividades fora do meu escritório. O conhecimento dito formal, aquele pelo qual ganhamos títulos, diplomas e certificados parece ser sempre mais importante do que conhecimentos adquiridos da experiência do dia a dia, uma bagagem que vamos construindo, quase que sem querer, guiada pelo nosso instinto, nossa vontade, nossos gostos e sonhos. E por que não valorizamos?
Uma vez uma cliente me procurou para desenvolver um negócio na área da moda, com foco no público infantil, principalmente meninas. Ela era formada em direito e estava passando por um grande dilema, pois iria abrir mão da profissão para entrar em um novo negócio, cuja área ela não tinha formação. Perguntei de onde tinha surgido a ideia e porque tinha escolhido esse ramo. Ela prontamente me respondeu que tinha três filhas e sempre via a dificuldade de achar algumas coisas e tal. Será que ela não tinha formação? Convivia com três meninas em casa, todos os dias, há muito mais tempo do que os 5 anos de uma faculdade de direito. Por que isso não pode estar no nosso currículo?
Sabe aquela nuvem que fica na nossa cabeça cheia de dilemas e dúvidas de qual caminho seguir e como fazer? Esses tempos eu estava com uma tempestade. (pensando rápido sem respirar)Tinha terminado o mestrado e estava em dúvida em fazer o doutorado, mas também seriam 4 anos e nesse meio tempo eu iria querer ter filhos e eu teria que fazer a prova que já tinha passado a data, mas também em que área eu faria. E será que era isso mesmo? Uma trabalheira do cão tudo de novo, acabei de entregar esse mestrado que acabou com meus finais de semana de maneira atropeladora (inspira). Ahhhhh.
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Fui falar com a minha mãe. A gente sempre volta pro colo da mãe, ainda mais a minha, que nesse tipo de situação, é expert! A nuvem foi se esvaziando. Ufa. Segui os conselhos dela de não fazer o doutorado, pelo menos naquele momento em que eu não sabia que área e assunto estudar, e ir atrás de cursos mais rápidos em áreas diversas, para ampliar meus horizontes. Depois que encontro o caminho, sou rápida. No mês seguinte, estava inscrita em uma pós graduação e dois cursos mais alternativos de desenvolvimento de projetos. Foi uma decisão muito boa, conheci coisas bem diferentes, muito aplicáveis no meu dia a dia. Minha mochila ficou um pouquinho mais cheia.
Às vezes não nos damos conta do quanto a experiência pode nos ajudar. Por isso é legal prestar atenção nas conexões que fazemos, às vezes até meio sem querer. Por exemplo, por um tempo fiz aula de francês, inclusive morei em Paris. Isso aconteceu há uns 10 anos atrás. Parei de estudar e esqueci o idioma, falo muito pouco. Já fiquei me remoendo "por que eu não continuei estudando e blá blá blá", mas se começo a pensar, eu amo o estilo francês de viver! Pego muitas referências de lá para o trabalho, ouço músicas, adoro os filmes e admiro a educação das crianças. Ou seja, tá dentro de mim. Faz parte do meu repertório e provavelmente influencia no meu estilo.
Honrar. Essa palavra está muito latente pra mim ultimamente. Ouvi num grupo de estudos que devemos honrar o medo, pois ele faz parte do processo. Penso que devemos honrar também nossas experiências, sem pensar se erramos aqui ou ali. Tudo faz parte da construção de nossa bagagem. E, quanto mais experimentarmos, conhecermos, formos curiosos, aumentaremos nosso repertório. Já ouvi também que o erro é uma das únicas maneiras de fazermos algo realmente autêntico pois, ninguém erra que nem a gente e nós, provavelmente, não repetiremos, exatamente, o mesmo erro. Achei muito boa essa definição. Cabe a nós termos um olhar positivo para isso, para conseguir se apropriar desse erro e seguir adiante. Poderemos escolher outros caminhos, ou até, entender e reverenciar o caminho que escolhemos. Aos poucos vamos conseguindo juntar os pontos.
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Foi a minha mochila que me trouxe aqui. Minhas experiências e minha maneira de viver relatadas no meu blog e Facebook chamaram a atenção do Donna, que buscava, justamente, alguém que falasse de estilo de vida saudável, sem ser da "área". Eu nunca tinha pensado nisso, os pontos se conectaram, as coisas fizeram sentido e estou eu aqui, bem feliz com esse novo caminho que está se abrindo. Sigo aumentando a minha bagagem, tentando construí-la com coisas que eu acredito e deixando o acaso complementar e colocar o temperinho necessário, aquele que às vezes nem nos damos conta, mas que faz toda a diferença.