Olha só a onda de filmes que surgem, a partir de 2010, sobre a vida de Yves Saint Laurent (1936-2008), que Chanel pouco antes de morrer declarou ser o seu herdeiro no reino da moda. Em 0 louco amor de YSL, documentário lançado no Brasil em 2010, com imagens de sua vida, ele aparece ao lado de seu companheiro Pierre Bergé que narra o filme, em que se vê também Catherine Deneuve. Ela foi grande amiga de YSL, que criou os figurinos usados por ela no filme A Bela na Tarde, de Bunuel. Em abril de 2014 viu-se Yves Saint Laurent, focalizado na sua vida pessoal, entrecortando as cenas mais pesadas de drogas e internações com imagens de desfiles. Muita gente sentiu falta de mais moda, mais desfiles, mas eu gostei muito.
Já está sendo produzido um novo filme baseado no livro escrito por Pierre Bergé, comentando as cartas trocadas entre os dois. Se anteriormente ele apoiou o documentário e o filme de sua relação amorosa com Yves, agora contesta a nova produção realizada pelo diretor Bertrand Bonello.
Impressões Parisienses
Houve um tempo em que, em Paris, eu visitava as maisons de alta costura dos grandes costureiros e recebia os dossiês com releases e fotos das coleções para aproveitar em matérias da Zero Hora. Nos anos 80, estive na maison de St.Laurent na Avenue Marceau, 5 . Às vezes, eu também entrevistava costureiros, como fiz com Louis Féraud para a então TV Gaúcha e o jornal impresso.
Só vi pessoalmente Yves Saint Laurent no palco da Ópera da Bastilha, em Paris, homenageado como criador de figurinos para teatro, após a exibição do musical Os Miseráveis. YSL criara bem antes, em 1965, os figurinos para Notre-Dame de Paris, um balê de Roland Petit, também inspirado na obra de Victor Hugo.
Fiquei impressionada com seu aspecto. Nada restara naquele senhor das feições do jovem que se deixou fotografar nu, em 1964, para divulgar o lançamento de perfume Y. Ele enfrentava o calvário de drogas e internações, tornara-se um senhor gordo e inchado, com olhar distante numa figura compactada, como um bloco de madeira.
Pierre Bergé
No filme Yves Saint Laurent, há uma cena no consultório do médico de um hospital. Ao dar o diagnóstico do paciente como maníaco depressivo, diz a Bergé que se ele tiver coragem e paciência poderá ainda manter o convívio com YSL. E assim foi, a relação íntima se mantendo até 1986, quando YSL permaneceu no apartamento dos dois na rua Babylone e Pierre Bergé foi morar numa suíte do Hotel Intercontinental.
Bergé vive muito bem hoje, administra o tesouro de obras de arte que ele reuniu com YSL. Expôs e colocou as peças à venda no Grand Palais em Paris. Aos 83 anos, tem sido visto na companhia de uma moça que corre pela internet estar grávida de um filho dele. O tempo dirá se não passa de boato.
Quem quiser ler uma boa biografia com o panorama da moda em Paris e Nova York e dos contemporâneos de YSL, sugiro que procure num sebo o livro Yves Saint Laurent, de autoria de Laurence Benaïm, edição de 1994, da Editora Siciliano.