O sol se escondeu, o dia virou noite e em seguida a chuva veio com força. Sem raios, sem trovões ou vento. Apenas água, muita água que descia em pingos pesados, daqueles que fazem barulho quando batem no vidro da janela.
Colei meu nariz na vidraça para olhar a chuva - hábito que tenho desde menina. Puxei o ar com força para ver se conseguia sentir o cheiro de terra e de grama molhadas, que tantas lembranças boas me trazem dos tempos de criança. Felizmente, o cheiro de chuva chegando, depois de um dia de calor, continua o mesmo.
Se eu tivesse 10 anos agora, pegaria minha bicicleta, chamaria os amigos e iríamos pedalar na chuva, entrando em todas as poças de barro que houvesse pelo caminho. Foi isso o que pensei naquele momento e, por frações de segundos, foi como se voltasse no tempo. Me vi na soleira da porta de casa completamente encharcada, de pés descalços e cabelos desgrenhados, arrepiada de frio mas feliz da vida, pedindo para a mãe me alcançar uma toalha.
Ah, os banhos de chuva, que delícia, que alegria naquelas tardes de verão! Era só o céu começar a fechar, ficar cinzento, para a garotada já organizar a farra e ir correndo em casa perguntar:
- Mãe, posso tomar banho de chuva?
A gente sempre podia, desde que estivesse calor e fosse só água, sem tempestade com raios ou ventanias. Hoje dificilmente vejo uma criança brincando na chuva. Será que perdeu a graça? Se for isso, é uma pena. Eles não sabem o que estão perdendo. Posso garantir que é bem melhor - pelo menos aos 10 anos de idade - do que se fechar no quarto para jogar videogame ou ficar horas a fio navegando na Internet.
Sinto saudade daquela época, mas o que me deixa feliz é poder olhar para trás e saber que eu aproveitei - e muito - o meu tempo de criança. Quanto aos banhos de chuva, ainda hoje de vez em quando saio para caminhar - ou diminuo o passo, se já estou na rua - quando começa uma bela chuva de verão. Com certeza, ela continua refrescando meu corpo e a minha alma.