Era a noite de formatura de uma turma de ensino médio. A garotada tinha entre 15 e 17 anos. Eles entravam no salão desfilando por uma passarela, cada um ao som da música que tinha escolhido para o grande momento. Eram 38 jovens, com certeza cada um carregando seus próprios sonhos e planos para o futuro. Fisicamente, porém, pareciam cópias xerox um dos outros, de tão parecidos. As meninas, quase todas, usavam cabelos longos escuros, lisos, com a franja tapando um olho e vestiam longos justos, marcando o corpo alto e esguio, equilibrado sobre saltos altíssimos. Os meninos, de cabelinho arrepiado, pareciam desconfortáveis com a gravata, terno e sapatos sociais.
Cada um que era chamado pelo mestre de cerimônias entrava na passarela ao som de música, palmas e assovios da plateia. Fiquei reparando como todos ? ou quase ? faziam questão de estarem o mais parecidos possível com o restante da turma. A semelhança começava nas músicas escolhidas ? a grande maioria optou por canções pops americanas, dessas que tocam nas rádios e na MTV o dia inteiro. Dois meninos escolheram pagodinhos (soube depois que eles tocavam em grupos de pagode), e uma menina entrou na passarela ao som de Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça.... Todo mundo estranhou. Eu achei muito original.
? Como assim? Que coisa mais brega ? comentou um casal que estava sentado na fileira atrás da minha.
O desfile era em ordem alfabética. Juro que, na metade da turma, eu já estava entediada, porque era tudo muito igual: as músicas, as roupas, as palmas, o jeito de desfilar. O que variava, às vezes, era a cor do vestido das meninas ou do sapato dos meninos ? alguns, mais "rebeldes", trocaram o sapato social preto por um tênis da mesma cor.
Até que, enquanto eu suspirava pela falta de originalidade da meninada, que tem muito medo de fugir do padrão pré-estabelecido pelo grupo, o mestre de cerimônias chama uma garota: Teodora. Entra na passarela uma jovem com um visual e uma postura muito diferente dos outros, e a plateia quase vem abaixo, de tantas palmas e assovios. Ela ganhou o público!
Teodora ? até o nome dela foge aos lugares-comuns ? tinha cabelo rosa pink, curtinho. A maquiagem, se é que havia, era mínima. O vestido, curto, simples, escuro, enfeitado por uma gravatinha rosa de cetim. E nos pés, uma botinha preta, sem salto. A menina caminhou pela passarela acenando e atirando beijinhos, com sorrisos escancarados de pura simpatia. A imagem perfeita de quem se sentia segura e feliz sendo quem é, sem precisar seguir modismos ou copiar os outros para se sentir integrante da turma.
Não quero dizer com isso que as meninas precisam ter cabelos cor de rosa, ou usar vestidos simples e coturnos nos pés para serem verdadeiras e terem personalidade. Longe disso. Acho que cada um ? e cada uma ? deve usar o que gosta, o que lhe cai bem, o que tem vontade. O que não acho legal é abrir mão daquilo que realmente curte ? seja roupa, cabelo, música ou o que for ? por medo de ser diferente da maioria. Nenhuma roupa da moda, nenhum salto 15 ou cabelo alisado com chapinha é mais bonito do que uma personalidade marcante e única.