Dia das Crianças. O parque está lotado de pais e mães com seus filhotes, todos exibindo seus brinquedos novos. Passa por mim uma menina, usando capacete, joelheira, cotoveleira e uma roupa acolchoada. Tudo isso para protegê-la de um possível tombo. Nos pés, um reluzente par de patins novos. A menina dá uns passos largos, outros meio desajeitados, e cada vez que parece que vai cair os braços do pai estão ali, para dar equilíbrio e coragem.
? Vamos, filha. Você consegue. Tente olhar para a frente e manter o equilíbrio ? diz o homem, todo preocupado com a segurança da garotinha.
E lá vai ela, até que consegue seguir por um bom tempo em linha reta, sozinha. Uma vitória que os dois comemoraram depois, comendo um churros de doce de leite.
Prossigo minha caminhada. Um pouco mais adiante encontro uma menina empurrando um carrinho de bonecas, com um ursinho de pelúcia azul dentro. Como conheço a mãe, cumprimento as duas e pergunto para a pequena, apontando para o carrinho:
? Ué, cadê a filha?
Ela me olha bem séria e dispara:
? Ela estava teimando muito hoje. Não quis comer fruta no café, e aí ficou em casa de castigo. Por isso eu trouxe o João (o urso) pra passear.
Ela tem toda a razão. Não comeu fruta, não sai de casa. Se eu tivesse feito isso com meus filhos quando eles eram pequenos, talvez os hábitos alimentares deles fossem bem melhores hoje em dia.
Um garoto numa bicicleta vermelha com rodinhas amarelas quase me atropela. Ele berra:
? Sai da freeeeente! Não sei paraaaaaaaaaar!
A mãe dele vem um pouco atrás, e explica que ele acabou de ganhar a bicicleta, no Dia das Crianças, e estava eufórico. Agora, ela e o marido precisarão se revezar para ensinar o guri a andar sem as rodinhas de apoio. Ah, que fase boa... Acho que ninguém esquece a como é gostosa a sensação de andar de bicicleta sem rodinhas pela primeira vez...
Canso de caminhar e sento num banco perto da pracinha infantil onde há uma caixa de areia para os pequenos. Reparo num garotinho, de uns três ou quatro anos, no máximo, brincando com alguns carrinhos de plástico, daqueles bem comuns e baratinhos. Ele estava distraído e era observado pela mãe, sentada ali perto. Uma mulher humilde, de chinelos e roupas desbotadas. Imagino que deve ter sido com algum sacrifício que ela comprou os carrinhos pro filho.
De repente, chega um outro menino, ainda mais pobrezinho. Pede pra brincar junto e pega um dos carrinhos. O diálogo que se seguiu me deixou emocionada.
? Você não tem um carrinho? perguntou o dono dos brinquedos.
? Não. Só uma bola de borracha. Carrinho não.
? O que você ganhou de presente hoje?
? Uma caixa de lápis de cor.
? Brinquedo não?
? Não.
O dono pegou os carrinhos na mão, estendeu os braços e disse:
? Escolhe um. Eu te dou de presente e a gente brinca junto.
A mãe apoiou a generosidade do filho, com um aceno de cabeça e um sorriso.
E eu, ganhei o meu dia. Meu presente de Dia das Crianças.