Brian McElfatrick conquistou o Prêmio Sesc de Literatura do ano passado na categoria conto, com Contos de Mentira. Caio Vento venceu o Prêmio Sesc este ano na categoria romance, com Quiçá.
Brian McElfatrick e Caio Vento são a mesma pessoa: Luisa Geisler. Conquistar, com dois pseudônimos diferentes, o mesmo prêmio, em dois anos consecutivos, em duas categorias diferentes, seria um grande feito para qualquer autor estreante. Mas o nome de Luisa só caiu na grande mídia na semana passada, quando foi escolhida para integrar a coletânea de contos da consagrada revista britânica Granta, dedicada a talentos de até 40 anos. Aos 21, Luisa é a mais nova da lista de 20 selecionados.
- Meu nome tem circulado muito. Tem gente de tudo quanto é canto me adicionando no Facebook. Afinal, é a lista de uma revista de renome, que não incluiria uma guria de 21 anos sem um bom motivo - comemora a autora do blog as pessoas gostam dos meus e-mails e colunista da revista Capricho.
Depois do lançamento do primeiro livro, Luisa foi parar na página final da Capricho. O nome da coluna? Do Nada. Entrou no lugar de nomes que muitas gurias de 21 anos admiram: Lili Prata e Meg Cabot.
Lili Prata, que escrevia na revista a coluna Desneurando, é autora do livro juvenil O Diário de Débora. Meg Cabot é a autora norte-americana dos 10 volumes do best seller mundial O Diário da Princesa. Brian McElfatrick, o pseudônimo (uma exigência do concurso), é o nome de um dos designers dos quadrinhos Cyanide & Happiness. É esse o universo pop-teen de Luisa:
- Gosto dos clichês jovens. Gosto dos meus amigos, de beber com eles, conversar com eles, fazer uma janta legal. Sou bem mais fã de um pub do que de uma festa. Gosto de ler, ver filmes, ouvir música, cozinhar, jogar videogame, dormir, viajar, estudar idiomas. Sei lá, não tem nada muito inovador nos meus likes.
No universo eclético de Luisa, geração tudo-ao-mesmo-tempo-agora, cabem também Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, O Original de Laura, de Vladimir Nabokov, e O Encontro Marcado, de Fernando Sabino, do qual ela destaca o trecho preferido: "Últimos dias do ano. Andava no ar uma agitação insólita, todos indo e vindo, se encontravam, se separavam. Pela manhã, depois de mais uma noitada insone no bar ou em casa de alguém, Eduardo se interrogava ao espelho: um dia mais velho. Que estou fazendo da minha vida? - se perguntava, e saía para o trabalho - e isso era tudo".
Luisa mora com a mãe e o irmão em Canoas - também mora "parcialmente" na casa do pai, em Porto Alegre. Namora Leandro, 22 anos - "que é bancário, graças a deus". O graças a deus, ela explica, tem a ver com o fato de Leandro ser bastante compreensivo com a rotina maluca da estudante de Ciências Sociais na UFRGS e Relações Internacionais na ESPM, bolsista de iniciação científica em Economia na ESPM, colunista, escritora, falante de inglês e francês, estudante "independente" de alemão, espanhol e italiano, e "multitasker inveterada" - ou seja, uma guria multitalentos. O cotidiano corrido, ela observa com olhar tranquilo, e escolhe o lado bom do lado de fora e do lado de dentro:
- Fora de casa, gosto do Trensurb e do ônibus. Por ter que passar tanto tempo neles, acabo ouvindo música e sempre consigo pensar em coisas mais tranquilas do que na minha rotina. Gosto do Campus do Vale da UFRGS, tem muito espaço aberto. Dentro de casa, gosto do canto onde escrevo. Lá, fica minha escrivaninha, minhas tralhas de viagens. É onde eu escrevo, estudo, leio. Como a cadeira é confortável, pego no sono por lá também.
O livro Contos de Mentira surgiu de uma reportagem que Luisa leu a respeito da quantidade de mentiras que as pessoas contam por dia: seriam oito - a mais repetida: "Está tudo bem". Luisa se autoquestionou e achou que não mentia tanto assim. Quiçá, o romance, é a história de uma menina de 11 anos, que vê sua rotina mudar quando o primo de 18, suicida fracassado, vai morar com ela e os pais.
O que inspira Luisa a escrever?
- Detalhes. Não gosto de pegar temas imensos, tipo "vou escrever sobre o amor". Gosto de escrever sobre momentos específicos, porque sei que em "o amor" tem muita coisa. Ninguém está só feliz ou só triste. As ideias ficam complexas, as pessoas se revelam. Ninguém se revela porque usa "um vestido azul". Mas um vestido azul com um decote imenso, isso diz muito.
O Prêmio Sesc consiste em lançamento oficial da obra na Academia Brasileira de Letras, publicação pela Record (e a consequente distribuição nacional por uma das maiores editoras do país, ambição de todos os jovens escritores que editam seus em pequenos selos locais) e divulgação do livro em diversas unidades do Sesc no país:
- A gente acaba viajando para vários cantos do Brasil. Quantos jovens gaúchos de 21 anos podem dizer que conhecem Roraima? Quantos podem dizer que vão voltar lá este ano? Poucos! (Risos)