É engraçado... Moro há muito tempo em Floripa, mas nos meses de verão a cidade muda tanto que parece outra. É como uma mulher, que durante 10 meses do ano é linda, mas usa pouca maquiagem e se veste com roupinhas básicas. Naturalmente bela. Até que, quando chega o fim de dezembro, se transforma numa mulher exuberante, matadora, de olhos muito pintados e boca escandalosamente vermelha. Ou seja, bela, porém, produzida demais.
A Floripa que vejo estampada nas principais revistas de turismo do Brasil e do exterior não é a mesma que frequentamos durante o ano ? pelo menos não nós, reles mortais assalariados. É como se existissem duas cidades: a dos moradores de sempre e a daqueles que a tomam de assalto pouco antes da virada do ano, e que por aqui permanecem até fevereiro.
Quando o fim de dezembro se aproxima, saem de cena os pescadores artesanais (que já são poucos, infelizmente) e entram os jet-skis, lanchas e iates. Os restaurantes, até então atendidos pelo Seu Maneca, pelo Carlão e pela vó Carlota, empregam atendentes uniformizados e criam cardápios em inglês e espanhol, para atender quem não fala o português. Os preços, óbvios, acompanham o up grade da freguesia.
Os estudantes, que enchem nossas ruas e calçadas de fevereiro até final de dezembro, saem de cena. Só o que se vê são carros. Milhares deles, para todos os lados e em todos os cantos, com placas das mais diferentes cidades, algumas delas que eu sequer supunha que existissem. Em algumas praias, desfila-se até de lumousine, pura ostentação.
E as festas, então? Quando vejo imagens dos "points" do verão, onde concentram-se os endinheirados do mundo e as "celebridades", tenho a nítida certeza de que existe mais de uma Floripa. Essa aí, fashion e para poucos, pode ser boa porque traz divisas para a cidade e coloca nossa Capital no rol dos destinos turísticos mais procurados do Brasil.
Mas a outra Floripa, das praias sossegadas, onde não se precisa disputar um espacinho na areia, que tem restaurantes bons e preços justos, supermercados sem fila e um trânsito ainda suportável, é a minha preferida. É dessa que eu gosto. Simples, sem afetação. Bonita pela própria natureza.
Em março, saem os espumantes e volta a cervejinha gelada. Que bom.