Nada é mais estranho do que você entrar em um museu e sentir-se em casa lá dentro. Êpa, será que estou tão velha assim? Pois foi exatamente isso o que eu pensei, há algum tempo, quando visitei uma mostra de antigos meios de comunicação.
? Como assim, antigo? Isso aqui é da minha época! ? comentei com uma amiga.
E fiquei pasma de ver que sou, sim, antiga. Pelo menos se comparada a esta garotada que nasceu na era digital. No museu, olhei para o lado e vi uma cabine telefônica - os tradicionais orelhões - com um telefone que funcionava com fichas.
? Ué, por que isso está aqui? O que tem de antigo? Perto da minha casa tem um igual ? comentei.
? Nossa, como você é desligada. Há anos não existe mais telefone de fichinha. Hoje é só cartão, e olhe lá. Depois da popularização dos celulares, muita gente deixou de usar os telefones públicos.
Meu Deus, é verdade... Como eu nunca havia pensado nisso antes? Continuei passeando pelo museu e me deparei com uma televisão - daquelas com caixa de madeira, alguém lembra? - e seletor de canais. Igualzinha a que tínhamos na minha casa. Você girava o botão, fazia toc-toc-toc, e os canais mudavam de 1 a 13 (sendo que a metade deles estava ali só para enfeite). Hoje, são mais de 100 canais, do mundo inteiro. E em alta definição, 3D e sei lá mais o quê. Foi numa TV daquelas que vi meu primeiro desenho colorido. Inesquecível!
Comecei a me sentir peça daquele museu quando cheguei na estante onde estavam os gravadores. Juro que usei vários daqueles na minha vida de repórter!
A gente chamava de minigravador, naquela época, uma caixa que devia pesar mais ou menos meio quilo, com fitas-cassete que gravavam apenas meia hora de cada lado. Se o bate-papo fosse longo, voltávamos para a redação com várias fitas na bolsa, para depois ainda tirar toda a entrevista e passá-la para o papel, nas antigas máquinas de escrever. Ô meu Deus, estou me convencendo de que também sou uma peça de museu.
As máquinas de datilografia merecem um parágrafo à parte. Eram uns trambolhos enormes, pesados e barulhentos. Imaginem, então, vários jornalistas escrevendo ao mesmo tempo. Era o caos. Organizado, mas o caos. Desta época, porém, trago poucas lembranças, porque logo depois da minha formatura chegaram os primeiros computadores. Ah, uma delícia! Umas caixas enormes, com tela meio esverdeada e umas letras amareladas difíceis de ler. Lembro que a transição foi demorada. Nós tivemos que aprender do zero, bem diferente desta garotada de hoje, que já nasce entendendo tudo de tecnologia. As mudanças aconteciam aos poucos. Agora, tudo é rápido demais. Você compra um computador top hoje e amanhã ele está obsoleto.
A máquina fotográfica digital do Natal retrasado está virando peça de museu. O celular que só serve para telefonar ninguém mais usa. Falando em celular, dá pra acreditar que até estes aparelhos já viraram peças de museu? Eu tinha um que parecia um tijolo. E o carregador, então? Eram dois tijolos dentro da bolsa...
Ah, quer saber? Por mim, tanto faz se tudo anda rápido demais hoje em dia. Eu continuo no meu ritmo. Compro só o que preciso, e deixo as últimas novidades tecnológicas para quem não consegue viver sem elas. O que, definitivamente, não é o meu caso.