Criada em 1960 e distribuída no Brasil pela primeira vez em 1962, a pílula é a forma mais utilizada quando se trata de métodos contraceptivos. Ela é a opção número um de cerca de 23% das mulheres em idade reprodutiva.
Em paralelo a esses dados, é possível perceber o adiamento da gravidez, uma escolha muito comum das mulheres nos dias de hoje. O número de grávidas ou mulheres tentando engravidar, na faixa entre 30 e 40 anos, tem aumentado nos últimos anos. Pelo menos 20% das mulheres aguardam até os 35 anos para iniciar uma nova família. São muitos os fatores envolvidos na decisão de adiar a maternidade: a estabilidade profissional, a espera por um relacionamento estável, o desejo de atingir segurança financeira, ou, ainda, a incerteza sobre o desejo de ser mãe.
- E neste rol de motivos para adiar a maternidade, podemos citar também o advento da pílula anticoncepcional - explica o ginecologista Joji Ueno, ginecologista, diretor da Clínica Gera.
Segundo pesquisa da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), há uma tendência das mulheres usarem a pílula por um tempo cada vez maior devido à vida profissional e aos benefícios extra-contraceptivos do método, entre eles a redução do risco de câncer de ovário e de endométrio, a diminuição dos cistos e a melhora da pele e do ciclo menstrual.
A evolução da pílula também a tornou mais aceita. Cinquenta anos atrás, essa medicação tinha até dez vezes mais estrogênio e cerca de 150 vezes mais derivados da progesterona do que os contraceptivos atuais. Atualmente, temos no mercado uma série de produtos com as mais variadas doses e componentes.
Um passo para a liberdade
Com um ritmo de vida dinâmico, a mulher atual, a exemplo de alguns ícones femininos do passado, vive em constante busca por independência. Neste contexto, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década de 60, permitiu que a mulher passasse a controlar sua fertilidade, conquistasse liberdade sexual com segurança e praticidade e, mais recentemente, aliasse a contracepção a outros benefícios propiciados pela pílula.
Estudo realizado pelo Instituto Guttmacher, organização de saúde sexual dos Estados Unidos, revela que 80 milhões de mulheres utilizam a pílula anticoncepcional no mundo. O maior percentual de consumidoras reside na Europa e nos Estados Unidos e utilizam o método para planejar o tamanho da família, se dedicar aos estudos e à carreira. O estudo revela ainda que, na América Central e do Sul, cerca de 16 milhões de mulheres utilizam a pílula anticoncepcional, sendo que as brasileiras usam os contraceptivos orais durante um período maior: entre dois e cinco anos.
Paralelo ao surgimento e ao aprimoramento da pílula, as mulheres iniciaram uma revolução silenciosa e discreta.
- A taxa de fecundidade brasileira decresce da média nacional de 6,3 filhos, em 1960, para 5,8 filhos em 1970, chegando ao patamar de 2,3 filhos, em 2000. A região Sudeste foi a que registrou o menor índice de fecundidade, 2,1 filhos por mulher, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - diz o ginecologista Ueno.
Com a opção de controlar a fertilidade, a mulher pode escolher o momento ideal para ingressar no mercado de trabalho em busca de sua independência financeira. A expansão do ensino nas décadas de 60 e 70 permitiu que as mulheres aumentassem sua escolaridade e, com isso, passassem a pensar no desenvolvimento de uma carreira.
- A pílula anticoncepcional surgiu em um momento favorável à uma revolução de costumes, período em que a sexualidade humana ganhou importância própria, desvinculando-a da necessidade de reprodução.
Tradição x maternidade
Antigamente, os papéis sexuais tradicionais ditavam que as mulheres deveriam valorizar a maternidade.
- Após o advento da pílula anticoncepcional, a valorização da maternidade ainda se faz presente, porém, o momento nos parece de transição, pois, somado ao antigo papel de mãe e esposa, apresenta-se às mulheres, a chance de valorização da sua permanência no meio público através do exercício profissional - destaca o ginecologista.
Com informações da MW Consultoria.