Chá verde, branco, preto, de alcachofra, de amora... Normalmente vistos como remédios milagrosos para curar ou aliviar sintomas de doenças, os chás passaram a ser consumidos com frequência. Hoje, o chá branco, indicado como substância emagrecedora e desintoxicante, substituiu o chá verde, que reinou absoluto por vários anos na lista de preferência dos brasileiros. Vez por outra, algumas pesquisas mostram que, apesar do reconhecimento dos benefícios dos chás, é necessário cuidado com os excessos. Quem está na berlinda agora é o chá verde, que contém componentes capazes de anular o efeito do bortezomib, medicamento quimioterápico usado para tratar mieloma múltiplo (tipo de câncer que ataca os ossos) e linfoma do manto. Os resultados são de uma pesquisa publicada na edição online do periódico Blood, da Sociedade Americana de Hematologia.
Os pesquisadores buscavam um resultado e obtiveram outro. Queriam avaliar como um composto antioxidante do chá poderia aumentar os efeitos do medicamento, mas constataram que a substância bloqueava a ação da droga, mantendo as células tumorais intactas. Muitos pacientes usam o chá verde para combater os efeitos colaterais da quimioterapia.
Por isso, eles sugerem que pacientes em tratamento evitem usar suplementos, extratos e infusões de chá verde. As substâncias do chá verde podem deslocar a medicação das proteínas que carregam a droga no sangue e acelerar seu metabolismo no fígado, diminuindo a ação farmacológica.
– Levanta-se uma questão importante, já que, se há corte do efeito, é muito prejudicial ao paciente. O bortezomib é um remédio eficaz, tornou-se recentemente a primeira escolha contra o mieloma múltiplo – diz Rene Gansl, oncologista do conselho de médicos da International Myeloma Foundation e do Hospital Albert Einstein.
Para o nutrólogo Celso Cukier, o estudo alerta quem deseja aderir aos modismos alimentares. Segundo ele, uma alimentação saudável supre as necessidades de uma pessoa consumir antioxidantes, presentes em frutas, legumes e cereais.
– Apenas grupos específicos, como maratonistas, precisam de suplementos para combater os radicais livres – diz o médico.
Culkier aprova o uso dessa bebida, mas com cautela.
– O uso exagerado segue uma tendência vista anteriormente com outros produtos: cogumelos do sol, fibra de maracujá. Agora é a vez do chá branco. Ninguém deve substituir uma medicação ou adotar uma substância sem o conhecimento do médico – diz o especialista em nutrição clínica.
Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os fabricantes não podem divulgar possíveis propriedades terapêuticas do produto.
– Eles são registrados como alimentos. As pesquisas científicas ainda não confirmam efeitos farmacêuticos – esclarece Fabrício Oliveira, gerente-substituto de medicamentos fitoterápicos da Anvisa.
O curioso é que o chá verde e outros similares têm os seus benefícios alardeados por profissionais de saúde. O nutricionista Rodrigo Vallim explica que o chá verde, assim como o branco, é rico em polifenóis, uma substância capaz de neutralizar os radicais livres produzidos pelo corpo.
– Eles também apresentam bons resultados como auxiliares em dietas de emagrecimento, pois aceleram o metabolismo – diz Vallim.
Mas ele critica o uso abusivo do produto, que não deve passar de quatro a cinco xícaras por dia.
– Acima disso, pode ser prejudicial. E nada de fazer grande quantidade e deixar guardado na geladeira. O chá deve ser feito e tomado no mesmo dia – alerta o nutricionista.
A esteticista Sueli Maestri consome chá verde há um ano, por indicação de um médico ortomolecular.
– Queria emagrecer e perdi 11 quilos. Hoje, incorporei o chá verde ao meu dia-a-dia. Sempre tenho uma garrafa no meu trabalho – diz Sueli, que aprendeu a tomar chá com o marido, descendente de japoneses.
Para ela, a bebida ajuda a diminuir a retenção líquida, mas deve ser consumida com moderação.
Três em um
O chá verde, o branco e o preto são derivados da mesma planta, a Camellia sinensis, rica em catequimas, uma substância antioxidante. A diferença está na manipulação de cada um. O chá verde é obtido por meio do murchamento das folhas com vapor que, em seguida, são secas, fase na qual ocorre a inativação de uma série de enzimas, chamadas de polifenóis oxidases. As folhas permanecem verdes e não sofrem qualquer tipo de alteração na sua composição.
O branco, por sua vez, é produzido com a coleta dos brotos. Durante a maturação, os brotos são protegidos contra a ação do tempo e do sol e a colheita é realizada antes que ocorra a síntese de clorofila nas folhas, quando ficam verdes e começam a abrir. Nessa fase, a folha tem uma coloração prateada, devido à fina penugem branca que recobre os brotos, daí o nome chá branco. O preto nada mais é do que o extrato seco da planta em sua fase madura. Um alerta: os três contêm cafeína na composição.
Excesso de chá verde pode causar problemas
Redação Donna
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