Para quem está cedendo a pressão e pesquisando lugares para a compra de um coelho de verdade, segue aqui algumas considerações que precisam ser levadas em conta antes de aumentar a família pet.
É muito caro ter um coelho?
Caro não é. Se comparado aos outros pets, roedores e lagomorfos são animais que não vão à petshop tomar banho e a alimentação é bem mais acessível se comparado aos cães e gatos. O caro é a gaiola, que não é pequena e pode comprometer um espaço importante onde antes ficava a roupa para passar, por exemplo.
Coelhos comem o quê?
Essa é a parte engraçadinha de mostrar para os filhos. Um coelho atracado em uma cenoura é uma cena muito fofa que acompanha a gente para o resto da vida. Mas aqui é que começa o problema.
Crianças podem querer alimentar o coelho várias vezes ao dia para apreciar aquela boquinha mimosa comendo rápido um vegetal sem o auxílio dos dedos. E, por conta disso, oferecem pepinos, tomates, salsa, alface, repolho e até comida industrializada para os mascotes.
Apesar da cultura popular ser a de que esses animais comem de tudo, saiba que existem vegetais que podem dar um dor de barriga terrível no coelho podendo ser necessário até mesmo auxílio veterinário para reverter a situação.
Saiba também que existem rações prontas para alimentar coelhos, o que facilita bastante a vida da gente.
Adoece?
Sim, eles ficam doentes. Aliás, dependendo do criatório, eles até podem ser comprados doentes, pois são trazidos ao mundo com pouco ou nenhum cuidado no que se refere à higiene e alimentação.
Locais com pouca higiene, coelhos com patas sujas e pelo sem brilho são um reflexo disso. Nós, veterinários, sabemos quando um coelho está magro, o que significa alimentação insuficiente ou inadequada, mas para os leigos aquela bola de pelo está sempre gordinha e esses detalhes passam desapercebidos.
A verminose é uma questão pouco abordada nesses animais de procriação irresponsável, assim como é sarna. É, tem essa também. Coelhos podem vir com sarna, e uma sarna silenciosa, pois está presente dentro dos ouvidos e você não a vê. Alguns animais também podem estar contaminados com protozoários no intestino e precisam de tratamento medicamentoso.
Outra situação comum que faz com que o coelho adoeça é justamente a alimentação.
Tem que tomar vacina?
No Brasil não.
Coelho morde?
Sim, coelhos podem morder, e essa é uma das causas de desistência depois de alguns meses. Pior é que não dá para prever se seu coelho vai ser um bichinho mordedor. Não é por maldade. Às vezes, até mesmo por curiosidade, eles "mordiscam" os tutores, mas independente da força da mordida isso é um hábito pra lá de desagradável porque corta aquele momento legal de interação com seu pet.
Coelho se pega pelas orelhas?
Não, coelho se pega pela pele do pescoço atrás da nuca, mas há quem já consiga pegar seu mascote pelas patinhas da frente quando o animal já está acostumado a isso. Embora seja um animal pequeno, coelhos podem se mexer freneticamente quando erguidos do solo e isso faz com que arranhem os braços de quem os pegou ou que acabem sumariamente no chão, pois são largados abruptamente pelos tutores que, assustados, seguem o instinto de soltar o animal, e isso pode feri-los.
Cheira mal?
Sim, coelhos precisam ter suas casinhas higienizadas diariamente ou o cheiro de urina pode ser sentido em toda a casa, outro motivo que faz com que as pessoas desistam de ter coelhos em apartamentos. A boa noticia é que o hábito de trocar o forro da gaiola reduz significativamente os odores.
Toma banho?
Banho debaixo do chuveiro não. Mas existem técnicas e produtos a serem aplicados para tratar a pele e o pelo do mascote. E é interessante o hábito da escovação, porque coelho solta muito pelo.
Coelho arranha?
Sim, eles podem arranhar, às vezes até de forma involuntária, pois as unhas são bem afiadas. É importante mantê-las curtas e isso é algo que pode ser complicado de se fazer em casa, pois coelhos odeiam se sentir contidos e podem se mexer muito.
Posso criar coelho solto no pátio ou dentro de casa?
Já vi casos em que deu muito certo soltar um coelho na casa, mas vai da dinâmica familiar. Se você acha complicado conviver sentindo xixi de gato no tapete, saiba que xixi de coelho não fica muito longe disso. O problema é educar um coelho para fazer xixi no lugar certo. Há quem consiga, mas exige paciência.
Outra dificuldade que pode surgir ao criar um coelho solto no pátio é que ele rói tudo, mas tudo mesmo. Cadeiras, pés de mesa, friso de porta, roda de carro. Eu mesma já me descobri sem máquina de lavar roupa porque o coelho havia roído alguma coisa embaixo dela. Aliás, fios e tomadas devem estar em locais protegidos porque não tenha dúvida de que o coelho vai transitar por lá, e de repente, até mordiscar os fios.
Atenção também aos cachorros soltos pelo pátio e aqueles que percorrem a vizinhança. Um coelho em movimento pode deixar animais loucos, até cães bonzinhos podem matar um coelhinho. Não por maldade, mas porque queriam brincar. Gatos, em especial os de rua, podem ser outro problema com coelhos pequenos. Já vi coelhinho ser "roubado" por um gato de rua.
Outra questão que exige cuidados são as plantas que você tem no pátio e que o coelho vai ter acesso. Algumas podem se revelar tóxicas para ele, em especial aquelas cujo caule e folhas produzem um líquido viscoso, como as petúnias. E lembre-se: coelho é um bicho muito curioso e experimenta tudo. O que você pode fazer se quer dar um pouco mais de liberdade ao seu pet é supervisionar o passeio pelo pátio, mas saiba que deixá-lo sozinho é como deixar uma criança pequena descobrindo a textura de tudo que a cerca.
Posso ter um casalzinho para não criar sozinho?
Nem pense numa coisa dessas! Coelhos se reproduzem duas vezes por ano e podem ter dez coelhinhos ou mais em uma tacada só. É muita orelha para pouco espaço e as fêmeas podem se tornar agressivas quando estão com filhotes.
O que eu faço com o coelhinho depois do final de semana de Páscoa?
Por essas razões é que não recomendamos a aquisição de um novo membro pet para atender a uma finalidade especifica que é a Páscoa. Coelho não é brinquedo, e a falta de conhecimento pode trazer sérios aborrecimentos e a desistência da permanência do pet em casa. Contudo, havendo consenso na família, saiba que é importante para a saúde de seus filhos que seu novo pet passe pelo olho treinado de um veterinário para que a brincadeira não resulte em coceira nos braços dos pequenos. Sim, estou me referindo à sarna. E tem também a questão da nutrição adequada do coelho que é melhor explicada pessoalmente.
E se eu quiser um coelhinho só para o final de semana?
O que algumas pessoas fazem é "alugar" um coelho para a data tão aguardada, mas ainda assim existem riscos, pois um coelho é um bichinho assustado, tem unhas e pode se revoltar se mexendo no colo de quem tenta agradá-lo. Saiba que arranhadura provocada por um coelho pode ser profunda é bastante dolorosa.
E tem o outro lado também: as crianças podem ferir o coelho naquele frenesi de pegá-lo de qualquer jeito e fazer qualquer coisa com ele. Então nunca deixe um coelho "à deriva" junto com as crianças porque tudo pode acontecer.
Uma outra alternativa para se ter um coelho por um determinado período de tempo é já ter um acordo prévio com o tutor definitivo. Conversar com um colega de trabalho, sogros ou amigos a possibilidade de acolherem um coelhinho pós-Páscoa pode ajudar. Há quem fique com um coelho no final de semana e depois o entrega para uma família que acordou em recebê-lo de bom grado porque tem vontade e disposição para seguir cuidando dele. Digo isso porque de nada adianta depois da Páscoa empurrar porta adentro da casa da sogra um pet se ela já disse que não gosta de animais e não quer ficar com ele.
O importante é você saber que o coelho, como qualquer outro pet, exige cuidados e que nem tudo são flores. Absorvendo essa necessidade, segue sendo um animal dócil e silencioso, mas não por isso incapaz de demonstrar afeto e gratidão. Além disso, hoje em dia já é possível encontrar sites de apoio a quem está interessado em partir para essa nova companhia.
Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros "Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos" e "Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É", histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação.