Garrafa PET que vira tecido. Paraquedas transformado em jaquetas. Restos de tapumes de obras como acessórios de design.
Descartes que poderiam ir para o lixo, mas tornam-se matéria-prima para confeccionar roupas, acessórios e sapatos com pegada fashionista. Repensar como a roupa que você usa é feita e consumida: essa é a proposta do movimento global Fashion Revolution, que incentiva mais transparência, sustentabilidade e ética na indústria.
O que é o Fashion Revolution?
O movimento foi criado após uma das maiores tragédias da indústria da moda. Foi em 24 de abril de 2013 que o complexo de edifícios Rana Plaza desabou em Bangladesh, deixando mais de mil pessoas mortas, além de cerca de 2,5 mil feridos. Entre os trabalhadores, estavam funcionários de diversas confecções que produziam peças para grandes redes de moda – muitos deles, em condições de trabalho análogas às de escravos.
A catástrofe acendeu o debate sobre uma moda mais ética e sustentável com o movimento mundial Fashion Revolution, que busca despertar a consciência de consumidores e indústria sobre o que está por trás das peças que vestimos.
No editorial abaixo, clicado no centro de reciclagem Aparas Guarise, em Porto Alegre, veja como a moda pode ser mais consciente:
Sim, já deu para perceber que (quase) tudo que pensamos ser lixo pode ser transformado em moda. Inclusive paraquedas usados! A Envido é uma das marcas gaúchas que trazem no DNA o upcyling, técnica que prega o reaproveitamento de matérias-primas já existentes. Em parceria com o Centro Gaúcho de Paraquedismo, a grife das irmãs Lívia e Mariana Duda passou a reaproveitar os tecidos de paraquedas que não poderiam mais ser usados – já que os equipamentos têm validade determinada para a segurança dos esportistas.
O material foi ressignificado em peças como a jaqueta da foto acima, que integra a coleção Voa.
• Vestido Envido, confeccionado com tecido de garrafa PET e algodão reciclado.
• Jaqueta Envido, produzida com tecido de paraquedas reaproveitado.
• Brincos Sexto Caracol, fabricados a partir de madeira de descarte.
Tapumes de obras, sobras da indústria moveleira e o que mais a criatividade mandar. Sim, restos de madeira também podem virar acessórios que prezam pelo design, sem deixar de lado a consciência ambiental. É essa a premissa da Côté, marca gaúcha criada pela arquiteta Priscila Elisa Berselli que dá nova vida a material de descarte e resíduos de produção industrial.
A madeira é coletada em pequenas reformas locais ou em fábricas de mobiliário, enquanto a borracha vem de sobras das fábricas parceiras do Estado. Na hora em que cada peça é desenhada, leva-se em conta sempre o máximo aproveitamento da matéria-prima.
• Blusa Seeds, confeccionada com material do Banco de TecidoShorts Mudha, feito com tecido de garrafa PET e algodão reciclado.
• Turbante Clau Stampas, com tecido 100% poliéster reciclado de PET.
• Calçado Ipadma, produzido com reaproveitamento de couro da indústria calçadista e solado de borracha reciclada.
• Colar Côté, feito com resíduo de tapumes de obras.
Folha de butiá que vira bolsa? Essa é a proposta da Apoena, marca que nasceu no município gaúcho de Giruá, na região Noroeste, conhecido pelas plantações da fruta. Foi a partir disso que a grife de Maiara Bonfanti passou a criar suas bolsas artesanais. Tudo começa com a colheita das folhas, que precisa ser feita na lua cheia ou na crescente. Depois, passam por um processo de secagem que dura quatro dias. As folhas viram palhas que serão trançadas e modeladas de acordo com cada peça – tudo feito manualmente.
• Vestido Envido, com tecido de garrafa PET e algodão reciclado.
• Colares Sexto Caracol, feitos com tampinhas plásticas em parceria com a Likso Brasil.
• Calçado Sapato Sem Nome, produzido com sobras da indústria calçadista – incluindo a sola.
• Bolsa Apoena, confeccionada com folhas de butiá e estruturada com caixa de pizza.
Iniciativas como o Banco de Tecido ajudam a evitar desperdício de matéria-prima – e, consequentemente, lixo na natureza – e diminuem os custos das marcas, o que pode impactar diretamente no preço da etiqueta de sua roupa. Nascida em São Paulo, a iniciativa ganhou uma filial em Porto Alegre, no Vila Flores. A ideia é ser uma ponte entre quem precisa de pequenas metragens de tecido e quem tem esses cortes sobrando e não vai mais utilizá-los. Basta ir até a loja e depositar o tecido disponível para virar correntista. Se você deposita 100 quilos, por exemplo, deixa 30 como comissão e fica com 70 de crédito. Todo tecido é computado por peso. Caso você não tenha nenhuma sobra para deixar no estoque, também pode escolher aquele retalho que falta para confeccionar sua peça. É assim que pequenas marcas conseguem oferecer mais variedade e diminuir os custos e, claro, o impacto ambiental.
• Camisa Shieldmaiden, confeccionada com material do Banco de Tecido.
• Short e quimono Clau Stampas, produzidos com tecido 100% poliéster reciclado de PET.
• Colar Côté, feito com madeira de reaproveitamento.
• Sapato Par, com tecido PET reciclado.
Você sabia que as garrafas PET podem se tranformar em tecido? Marcas como a Mudha usam o que seria lixo em matéria-prima de peças como o vestido da foto ao lado. Funciona assim: primeiro, as garrafas plásticas são derretidas e transformadas em fios, um material que é 100% poliéster. Para fazer um tecido que seja mais confortável, a fibra plástica é misturada com algodão reciclado, que é feito a partir de sobras de tecidos ou de roupas que já foram descartadas. Depois, o material é separado por cores e desfibrado. Os fios de algodão reciclado são misturados aos fios de PET para compor esse tipo de tecido, um dos preferidos das marcas de moda sustentável.
• Vestido Mudha, feito de tecido de garrafa PET e algodão reciclado.
• Casaco Witte by Clássica, de tecido de reaproveitamento de sofá.
• Colares Marília Capisani, com borracha de câmara de pneu.
• Tênis Villaget, confeccionado com PET reciclado.
FICHA TÉCNICA
Fotografia: Raul KrebsProdução de moda: Mariana Duda e Thais Faggion
Assistentes de produção: Desiree Do Valle e Maiara Bonfanti
Assistente de fotografia: Geo Cereça
Assessoria de imprensa: Tatiana Csordas
Beleza: Daniele Wickert e Ana K
Modelos: Andreza Schmitt, Calu e Desirê Prates (Agência People)
Making of e vídeo: João Paulo Rodrigues e Geo Cereça