A atriz Juliana Lohmann, que em julho publicou uma carta aberta na revista Cláudia relatando ter sido estuprada por um diretor quando tinha 18 anos, falou, em entrevista à colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo, que a decisão de trazer o passado à tona é parte de um processo de autoconhecimento - que envolve, entre outras questões, a aceitação do próprio corpo. À publicação, relembrou a vez em que perdeu cinco quilos em 10 dias.
— Desde que comecei a formar corpo, com 15, 16 anos, as pessoas já falavam para emagrecer. Isso aconteceu em vários trabalhos. Era muito usado o termo "fecha a boca". Acho muito simbólico, tem duas conotações. A mulher sempre tendo que fechar a boca para atingir seus objetivos. Lembro que uma vez emagreci cinco quilos em 10 dias. Fiquei tão mal. Tinha pesadelos de fome. Na época, só precisava emagrecer o quanto antes para trabalhar. Hoje penso que era absurdo me submeter àquilo — contou.
Para a artista, essa mentalidade no ambiente profissional está mudando.
— Muita coisa tem sido discutida ultimamente. Muitos corpos vêm sendo vistos. Vivia angustiada e insegura, achando que não ia pegar trabalho porque estava com cinco quilos a mais. Agora não penso mais nisso. Se quiser emagrecer, vai ser por uma coisa positiva, porque comecei a me alimentar de tal maneira e fluiu naturalmente. Não porque é uma obrigação profissional. Claro que, se surgir uma personagem que peça, sim. Mas estamos falando meramente de estética — refletiu.
Por fim, contou alguns detalhes do projeto "Mulher Manifesta", que reunirá em um site relatos de mulheres que passaram por situações de assédio e estupro. A plataforma, que será lançada em breve, contará com um parecer da advogada especializada em direito das mulheres Marina Ruzi para os relatos, além de uma análise feita por uma psicóloga.
— Estou em processo de finalização da estrutura visual do site. A gente vai ter não só os relatos, mas também conteúdos produzidos pela advogada Marina Ruzzi, falando sobre os ciclos da violência e a evolução das leis, e textos informativos da psicóloga Maria Migliari. A previsão é que em meados de janeiro esteja no ar. O Mulher Manifesta pode ser um ponto de encontro ou de retorno, no sentido de nós, mulheres, voltarmos para nós mesmas, para nossa potência e para nosso poder — concluiu.