"Não critique uma mãe que decidiu amamentar por mais tempo, que ainda se priva de coisas para correr pro seu rebento. Também não julgue a mãe que, por não poder ou por opção, não o fez. Deixa a mãe em paz".
Esse trecho, quase que um desabafo, faz parte de um dos “textões” que Sheron Menezzes compartilhou com seus mais de três milhões de seguidores do Instagram no @sheronmenezzes. O post, feito no início de julho, viralizou com mais de 300 mil curtidas e virou notícia em portais pelo país. Mãe do pequeno Benjamin, de apenas um ano e 10 meses, a atriz encontrou na rede social um canal para trocar experiências e dividir reflexões sobre maternidade, sem julgamentos, segundo ela conta:
– Se você não se cercar de uma rede de apoio, você vai ficar sozinha. Se você pode ter uma babá, se você pode ter a sua mãe do lado, ótimo. Ou procura (apoio) nas redes sociais. Eu tenho grupos de mães, estou em vários. E sou muito grata a elas, porque nos momentos pesados, era para onde eu ia e era ali que eu recebia muito colo – disse à Donna, durante uma visita a Porto Alegre.
De volta à TV após quase dois anos, Sheron, 35 anos, estrela sua primeira novela após o nascimento do primeiro filho, em outubro de 2017. Ela está no ar como a vilã Gisele de Bom Sucesso, nova trama das 19h da Rede Globo, em que se faz de amiga da chefe Nana (Fabíula Nascimento), mas tem um caso com o marido dela, Diogo (Armando Babaioff).
Foi durante um trabalho, na pele de Diara da novela Novo Mundo, em abril de 2017, que a atriz revelou que esperava o herdeiro, fruto do relacionamento com o empresário Saulo Bernard. Sem querer abrir mão de nenhum momento da experiência inédita, a gaúcha decidiu viver intensamente a maternidade. Após o fim do folhetim, deixou a TV de lado – um privilégio para poucas, ela reconhece – e dedicou-se por inteiro a essa fase da vida.
– Fiz exatamente o que queria fazer. Fiquei (afastada) o tempo que eu queria ficar, do jeito que eu queria ficar. E agora preciso voltar, voltar o foco para mim – afirmou.
Embora tenha se afastado dos estúdios e holofotes, Sheron não se escondeu. Pelo contrário, continuou trabalhando para marcas como garota-propaganda e mostrou ainda mais de si nas redes sociais. Mãe coruja assumida, admite ser muito apegada ao filho e comete o que, para alguns, pode ser considerado um exagero: acompanha a rotina do pequeno na escola por câmeras. Sente-se culpada em estar longe e nem sempre chegar em casa a tempo de colocar o menino na cama.
– Eu que precisei cortar o cordão. Para ele foi fácil.
O pequeno Benji já nasceu influencer. O perfil @benjimenezzesoficial, criado logo após o nascimento do menino, soma mais de 50 mil fãs.
– Toda mãe acha seu filho incrível, mas meu filho é realmente incrível – diverte-se Sheron.
Em sua passagem pela Capital, para um evento de maternidade organizado pela Novalgina e Sanofi, a atriz bateu um papo franco com a Revista Donna. Revelou o frio na barriga para retomar a carreira após o nascimento do herdeiro e comentou o desafio de criar um menino em meio a discussões sobre machismo e direitos das mulheres:
– Quero criar um homem de bem, sabe? Um homem que entende que as pessoas são iguais, que as oportunidades têm que ser iguais, a divisão de tarefas também – pontua.
Você diz que foi mãe 24 horas por dia até o primeiro ano do Benjamin. Como foi o processo de se separar do seu filho, ele indo para a creche, você voltando a trabalhar?
Foi tranquilo. O Benji é um bebê muito tranquilo. É uma criança que vai com todo mundo, nem chegou a fazer adaptação na creche. Uma criança que come bem, não chora, então é fácil ficar com ele. E tive um ano para me preparar para isso. Passei meses grudada no meu filho. Mas agora, por exemplo, que ele está na creche, eu posso olhar pelas câmeras. Passo lá para dar um beijo, enfim, eu tenho essa coisa com ele, mas ele é tranquilão. Eu me adaptei porque fiz muitos trabalhos nesse ano em que pude levá-lo. Fui cortando o meu cordão. Eu que precisei cortar, para ele foi fácil. E quando vi que para ele estava tudo bem, entendi.
Você não abre mão desses momentos de vocês, não é?
Não abro. Vamos sair? Vamos, mas só depois que ele dormir.
Você voltou à TV em Bom Sucesso. Como está sendo essa nova fase?
Fiz exatamente o que queria fazer. Fiquei (afastada) o tempo que eu queria ficar, do jeito que eu queria ficar. E agora eu precisava voltar, voltar o foco para mim.
O que a maternidade mudou na Sheron?
Tudo. Sou outra pessoa, completamente. Não posso dizer “mudei isso, mudei aquilo” porque mudei inteira, por completo. E para melhor, acredito. Me sinto uma pessoa mais paciente, mais tranquila, mais calma e que aprendeu a delegar. Pouco, mas aprendi (risos). Nunca deleguei, sempre fiz tudo. Mas como diz o meu marido, “ele está vivo, ele está bem”. Estou aprendendo a fazer isso, e está sendo gostoso para mim.
Como a relação com a sua mãe refletiu na mãe que você é? Mudou também a forma de se criar uma criança hoje em dia, não é?
Minha mãe sempre trabalhou fora, então lembro muito do meu pai me cuidando. Dele penteando meu cabelo e me levando para a creche. Fui criada em creche também, é como quis fazer com meu filho. Gosto dessa coisa de não ter babá, de ser eu, ele, a creche e pronto. A vida conta em casa, eu acho.
Quero criar um homem de bem, sabe? Um homem que entende que as pessoas são iguais, que as oportunidades têm que ser iguais, a divisão de tarefas também.
Como tem sido a relação do seu marido nos cuidados com o Benji? Vemos a sociedade mudando a relação dos homens com os filhos, o cuidado com a casa... Como você percebe isso?
Acho incrível! Acho que sempre deveria ter sido assim. Mas a gente vive numa sociedade que sempre foi machista e que agora se abriu para entender mais. Não vamos dizer que é igual porque não é 50% a 50%. Um bebê precisa da mãe de outras maneiras. O bebê fica muito tempo na nossa barriga, ouvindo nossa voz 24 horas por dia, então demora um pouquinho mais até ele virar e dizer “pai, pai, pai”. Mas o pai tem que se fazer presente, sim. Acho que se tiver 70% a 30% já está ótimo. Tem muitas coisas que o pai pode fazer, como dar comida, dar banho, trocar fralda, levar, buscar na creche. Meu marido que leva o Benji na natação. A gente divide, sim, porque eu tenho que ter meu momento, né? Só não é mais dividido por uma questão minha, sou presente demais.
Você usa bastante as redes sociais e compartilha com seus mais de três milhões de seguidores sua experiência com a maternidade. Como é essa relação?
É um público que acompanha a maternidade, mas também acompanha o meu trabalho. É que nesse momento o Benji me mudou muito, me deu outro público que eu não tinha e com ele eu aprendi a escrever. Quando eu escrevo esses textos, as pessoas gostam de ler porque é real. Eu acordo de madrugada, às vezes, chorando de cansaço, escrevo e posto.
E como uma adepta dos “textões” de rede social, você consegue interagir com as pessoas? Rola uma conversa a partir dali também?
Gostaria de interagir mais, juro. Leio tudo que escrevem. Às vezes, não consigo responder. Mas é muito interessante o retorno, o jeito que as pessoas falam, como se identificam com aquilo. Queria debater. Penso nisso, em ter um lugar em que possa botar a cara mesmo, talvez ler meu texto ao vivo, não sei. Tenho pensado nessas coisas para que consiga aproximar mais o público de mim. Talvez fazer um ao vivo no Instagram mesmo. Do tipo “gente, vem, vamos conversar”. Tenho pensado nisso.
E você gostou de desenvolver esta habilidade de escrita?
Se tu me perguntar agora, eu não sei escrever (risos). É meu coração em palavras. Sempre falo que, no dia que o Benji nasceu, eu transbordei em lágrimas e em letras. Não consigo pensar no que escrever, só vem.
Você também criou um Instagram para ele, que já tem mais de 50 mil seguidores. Por que você quis criar a conta e como tem sido compartilhar a rotina dele também?
A ideia surgiu porque a gente está numa era digital. E hoje em dia, tem muitos fakes. Eu fui fazer a conta e já tinha uma! Tentei falar com a pessoa, mas ela nunca me retornou e nem posta. A pessoa simplesmente criou só para eu não ter. Mas pensei em fazer o perfil porque um dia ele pode querer ter a conta dele e vai estar ali, já é dele. Só que foi legal porque ele começou a ganhar seus seguidores. Tudo que eu não posto no meu perfil, mas que é dele, coisas engraçadas, caretas, essas coisas, eu posto no dele. E as pessoas gostam! Toda mãe acha seu filho incrível, mas meu filho é realmente incrível.
Como tem sido educar um menino em uma sociedade ainda machista?
É um desafio. Mas penso muito sobre isso, converso com o meu marido. Quero criar um homem de bem, sabe? Um homem que entende que as pessoas são iguais, que as oportunidades têm que ser iguais, a divisão de tarefas também. É o que eu pretendo. Mas ele é um ser humano, uma pessoa com suas próprias vontades. Vamos ver como que vai ser porque a partir de agora, tudo muda. Ele convive com outras crianças, outros pais...
Você chegou a pensar nesses desafios quando soube que ia ser mãe de um menino?
Sempre quis um menino, mas sempre pensei que tipo de menino queria ter. Tenho bons irmãos, tenho um bom marido e tenho bons amigos, então acho que ele vai estar nesse meio, cercado, vai ser gostoso. A geração que está vindo, essa de 12, 13 anos, são crianças que já têm outra cabeça. Uma cabeça mais aberta, de que todo mundo é igual mesmo. A minha geração já é diferente da dos meus pais, então acho que vai indo e está tudo certo, vai melhorar.
Você se preocupa com a questão da carreira x maternidade? Muitas mulheres sabem que o mercado de trabalho pode ser cruel com mães.
Para fazer isso acho que temos que ter um grupo de apoio muito forte. Uma rede de apoio em casa. Tem uma mãe que falou comigo uma vez e disse uma coisa que eu fiquei pensando muito e é algo que eu sempre falo. Ela me disse que antigamente havia muitas pessoas numa mesma casa, eram famílias grandes onde todas as mulheres se ajudavam. Os homens não, eles eram apenas os provedores. Mas você tinha aquele colo de outras mulheres. Se teu filho estava chorando, a outra já pegava ele no colo pra te ajudar. E você, quando via, já estava também com o filho de outra no colo e assim por diante. Hoje em dia a gente está muito sozinha, sabe? Se você não se cercar de uma rede de apoio, você vai ficar sozinha. Se você pode ter uma babá, se você pode ter a sua mãe do lado, ótimo, ou procura nas redes sociais. Eu tenho grupos de mães, estou em vários. E sou muito grata a elas, porque nos momentos pesados, era para onde eu ia e era ali que eu recebia colo. Muitas mulheres não sentem a dor da maternidade e não conseguem se colocar nessa posição. A gente tenta, né? Ter empatia, mas se você não é mãe, é diferente. E é importante ter um grupo, se cercar de pessoas que possam te ajudar.
Você já mencionou que há críticas à maternidade. E que você leu livros quando engravidou, em busca de ajuda, de respostas, mas que aquilo caiu por terra, e que a maternidade é diferente, acontece na prática. Não existe manual, é isso?
Eu achei a maternidade até mais fácil do que nos livros (risos). Nos livros é tudo muito didático e você tem que entender que cada bebê é um bebê, e se você quiser aplicar aquela técnica no seu não vai dar certo, porque ele é outro bebê e não o do livro.
Você é madrinha da Semana da Amamentação do Ministério da Saúde. Estamos no Agosto Dourado (Mês do Aleitamento Materno) e o assunto fica muito presente. Nem todas as mulheres conseguem amamentar, e algumas sofrem com isso. O que você diria a elas?
Se você consegue, se você pode, se você tem essa oportunidade, faça. Mas se você não tem, busque outras maneiras de encontrar essa conexão com seu filho. Que seja dando a mamadeira. Mas criar a conexão é muito importante. É tão gostoso o olho no olho que a gente tem nesse momento. Mas não se sinta mal se você não pode, entendeu? Cada mulher é uma mulher e a gente tem que aprender a respeitar isso.