Em 2015, Camila Queiroz estreava na TV com um papel que lembrava um pouco sua própria trajetória. Na novela Verdades Secretas, da TV Globo, a atriz deu vida a Angel, uma jovem sonhadora que iniciava a carreira de modelo e deparava com a realidade de quem precisa conquistar um lugar nesse universo tão concorrido.
Quatro anos depois do début na TV – e de deixar as passarelas –, a atriz comemora a boa repercussão de sua primeira vilã da dramaturgia, a Vanessa da trama das sete Verão 90 – que recebeu, inclusive, a disputada nota 10 da colunista de televisão Patrícia Kogut, do jornal O Globo.
Depois da estreia em uma novela de alta carga dramática, Camila se mostrou preparada para encarar novos desafios. Na sequência, esteve em Êta Mundo Bom! (2016), também escrita por Walcyr Carrasco. O sotaque de Ribeirão Preto, que chamava a atenção em Angel, teve de ser intensificado para dar vida à inocente Mafalda. Ao contrário do que se poderia pensar, foi difícil adaptar seu jeitinho do interior para os da caipira da novela, que arrancava boas risadas do público.
Não demorou para que ficasse natural. Mas o que era positivo para a atuação fez soar um alerta para Camila. Em entrevista a Fátima Bernardes, na época, ela afirmou que tentava “não se apegar” porque, um dia, queria abandonar o sotaque.
Seu papel seguinte foi uma oportunidade para realizar o desejo com a carioca Luiza, de Pega Pega (2017). Reproduzir o chiado carioquês foi um enorme desafio, e a atriz chegou a ser criticada nas redes sociais. Mas, com uma maturidade que nem todo artista tem na sua idade, não se deixou abalar.
Hoje, Camila Queiroz abandonou não somente o sotaque caipira, mas também o cabelão que lhe dava um ar mais menininha e assumiu o desafio de interpretar sua primeira vilã.
A personagem Vanessa Dias, de Verão 90, novela que está em sua reta final, é uma alpinista social que sonha em ser VJ – função que, desde os anos 1990, perdeu força com a ascensão do YouTube. A novela aposta na nostalgia dos anos 1990, e é cheia de referências da cultura pop e da moda da época. Vanessa é a mais estilosa da trama e, como a moda anos 1990 nunca saiu completamente de cena, a atriz diz que muitos dos figurinos usados pela antagonista têm espaço no seu guarda-roupa, como a calça de couro.
A paixão por moda, aliás, é talvez o maior ponto em comum da atriz com a personagem que vive no folhetim das sete. Herança que vem da época em que Camila era modelo.
Mas, na vida real, ela garante fazer um perfil mais básico e que preza sempre pelo conforto. Ainda que quem veja o perfil dela no Instagram não consiga imaginar aquela musa que fotografa superbem vestindo um look tão corriqueiro assim.
– Gosto de jeans e camiseta para o dia a dia. Quando vou a uma festa ou evento, invisto na produção. Gosto de brincar com a moda e me visto também de acordo com o meu humor – contou em entrevista à Donna.
Se a carinha de menina ingênua ficou para trás lá em 2016, com o fim de Êta Mundo Bom, ao menos uma herança a novela deixou para Camila: o relacionamento com Klebber Toledo, com quem fazia par romântico na trama. No ano passado, os dois se casaram, e um adotou o sobrenome do outro.
Depois do romance na comédia, o casal se encontrou em Verão 90, em cena gravada em março – Camila disse que ficou muito nervosa e que foi a cena mais difícil de fazer.
Em 2018, eles tiveram a chance de trabalhar juntos fora da telinha. Klebber assinou a direção artística do musical Isaura Garcia, ao lado de Rick Garcia, neto de Isaura, e Márcia Martins. Escrita por Júlio Fischer, a peça conta a história da cantora que é considerada uma das maiores intérpretes da música brasileira, morta em 1993. Camila fez uma participação especial na última exibição da peça no Rio de Janeiro. Foi sua primeira vez no palco, experiência que quer repetir.
Nesta entrevista, a atriz fala sobre sua trajetória na dramaturgia, a vida de casada, moda, beleza e sua imagem nas redes sociais – Camila tem mais de 13 milhões de seguidores no Instagram. Feminista, a artista comentou ainda sobre questões sociais, temas que, às vezes, aparecem em suas contas virtuais:
– Gosto de falar sobre as coisas que acredito e defendo. Assim é que crescemos como sociedade, debatendo sobre as questões que nos cercam.
A seguir, confira a entrevista:
Como tem sido o retorno do público com a sua vilã em Verão 90? Seu papel tem sido superelogiado.
Estou muito feliz! Apesar de todas as armações de Vanessa, o público torce por ela. Acho isso bem divertido. E ela é uma vilã que também se dá mal, como quando Larissa (Marina Moschen) descobriu que Vanessa estava aprontando para separá-la de Diego (Sérgio Malheiros) e foi tirar satisfações com ela, sofre por amor... Acho que a humanização da personagem faz com que o público também torça por ela, o que é muito legal. Estou adorando o retorno nas ruas e nas redes sociais.
Você está na sua quarta novela desde que estreou na Globo, em 2015. Como avalia sua evolução como atriz?
Estou trilhando um caminho do qual me orgulho muito. Tive a sorte de encontrar personagens diferentes, que me desafiaram de formas diversas e me fizeram crescer como atriz. Isso me dá fôlego e energia para seguir adiante, continuar trilhando meu caminho e me preparando para novos desafios.
Você é uma atriz jovem que já conquistou espaços de destaque na dramaturgia brasileira. O que ainda você sonha em fazer como artista?
Tenho muitos sonhos! Quero fazer mais teatro. Estreei ano passado em Isaura Garcia – O Musical, dirigida pelo Klebber. Foi muito especial. E atuando ao lado de Rosamaria Murtinho. Aliás, tenho uma relação muito curiosa com a família dela porque fui dirigida pelo Mauro Mendonça Filho (filho de Rosamaria) em Verdades Secretas e contracenei com o Mauro Mendonça (marido de Rosamaria) em Êta Mundo Bom!. Quero também fazer cinema, série, mais novelas... Estou só começando.
Quem são as mulheres artistas que inspiram você?
Rosi Campos, Fernanda Montenegro, Marieta Severo, Ana Lúcia Torre, Drica Moraes e Iza são algumas delas.
A sua personagem sonha em ser VJ, uma profissão que fazia sucesso em uma época pré-redes sociais. Hoje, atrizes da sua geração têm de equilibrar o trabalho artístico junto com sua imagem em plataformas como Instagram. Como você concilia essas duas frentes?
Eu concilio as duas coisas de forma bem tranquila. Sou atriz e gosto de pensar no meu Instagram como uma ferramenta de comunicação. Uso muito como uma forma de compartilhar um pouco do meu dia a dia, inclusive do trabalho, mostrando bastidores, fotos com os colegas de cena...
Essa presença de artistas nas mídias sociais promete uma maior aproximação do seu público e mais transparência a essa relação. Por outro lado, o lifestyle de atrizes também é alvo de marcas. Como você gerencia sua imagem nas redes?
Sou muito transparente nas minhas redes. Gosto de compartilhar meu dia a dia, meu trabalho, as coisas que gosto de fazer. Quando é o caso de ser algum post de publicidade, sempre aviso que é assim, justamente para manter a transparência. E busco me associar também a marcas em que confio.
Hoje sua receita maior é como atriz ou modelo para marcas?
Quero também fazer cinema, série, mais novelas... Estou só começando".
Eu sou atriz. Eventualmente, faço alguns trabalhos como modelo.
Você já foi modelo e hoje é presença confirmada em eventos de moda. Como é o estilo da Camila? E sua relação com moda?
Tenho um estilo mais básico e confortável. Gosto muito de jeans, camiseta e tênis, isso para o meu dia a dia. Quando vou a uma festa ou evento, invisto na produção. Gosto de brincar com a moda e me visto também de acordo com o meu humor. No geral, priorizo o conforto.
E com beleza, como é a sua rotina? Que cuidados não dispensa diariamente?
Sempre retiro a maquiagem antes de dormir. Isso é importante para manter a pele saudável. Quando estou fora da gravação, busco deixar a pele sem maquiagem. E gosto de fazer uma esfoliação com uma mistura de gloss e açúcar nos lábios. Isso os deixa macios para receber o produto.
Você tem ambição de, um dia, tornar-se apresentadora, como tantas outras atrizes da sua geração?
Não estou fechada a nenhuma possibilidade. E foi bem divertido gravar como VJ em Verão 90. Se aparecer uma oportunidade legal, quem sabe?
Em entrevista à Donna em 2017, antes do seu casamento, você falou sobre o sonho de casar, ter filhos e conciliar trabalho fora com o doméstico. Nesse quase um ano de casamento, a realidade de dividir a casa atendeu às suas expectativas?
Atendeu. É muito bom dividir a rotina com quem a gente ama. Estamos muito felizes.
Você e Klebber adotaram o sobrenome um do outro. Qual o significado desse gesto para vocês dois? E que impacto você acredita pode ter para outros homens e mulheres?
No nosso caso, foi muito natural. Quisemos fazer isso porque a família que estamos começando tem esse sobrenome, um pouco de cada um de nós. Para nós, fez sentido que eu adotasse o sobrenome dele e ele, o meu.
Recentemente, você falou sobre a campanha de ajuda às mulheres do Xingu. Qual sua relação com as causas indígenas?
Temos que valorizar a cultura do nosso país e preservá-la. E isso passa pela valorização da cultura e dos povos indígenas. Devemos estar atentos ao que está sendo feito neste quesito, como no caso da demarcação das terras indígenas, e não permitir que essas pessoas sejam invisibilizadas.
Como você vê a responsabilidade de um artista brasileiro em relação a posicionamentos públicos sobre questões sociais?
Gosto de falar sobre as coisas que acredito e defendo. Justamente por acreditar que meu Instagram é um espaço de diálogo, gosto de ter essa troca, de trazer temas e reflexões que acho importante. Assim é que crescemos como sociedade, debatendo sobre as questões que nos cercam.
Você se considera feminista?
Sim, sou feminista. Acredito na igualdade entre homens e mulheres.
Em outra postagem em seu Instagram, você fala da importância da denúncia no combate ao assédio. Sei que é um tema delicado, mas gostaria de perguntar se você já passou por alguma situação de assédio, seja na vida particular ou profissional? Como lidou?
Nunca passei por uma situação dessa. Mas acho importante termos empatia e acolhimento com quem já passou. Especialmente, é fundamental que criemos espaços seguros para que quem passa por situações de assédio possa denunciar e falar sobre isso.