Ela é uma fashionista que sabe tudo de moda, dona de uma carreira sólida em 20 anos de trabalho como jornalista. Mas Mônica Salgado foi além.
No cargo de diretora de redação da revista Glamour Brasil, a paulistana de 39 anos conquistou visibilidade e status e reinventou a forma de se relacionar nas redes sociais. Foi uma das primeiras jornalistas de revista a usar seu próprio perfil no Instagram (@monicagsalgado) como forma de quebrar o gelo e se aproximar do público.
Parece simples, mas foi assim que Mônica cativou as leitoras e hoje contabiliza mais de 330 mil seguidores em sua conta na rede social. Esse foi o estalo que faltava para que ela mudasse de rumo.
No ano passado, Mônica decidiu deixar a redação em nome de uma nova experiência profissional. Foi quase como iniciar uma carreira do zero: migrou para a televisão, mídia que pouco conhecia, e se lançou como empreendedora, aproveitando a popularidade como influenciadora digital.
– As pessoas dizem que foi um ato de coragem. Para mim, foi um passo adiante e óbvio, o único que fazia sentido naquele momento – afirma a jornalista.
No comando do quadro Selfie da Verdade, exibido no programa global Vídeo Show, Mônica mostra seu lado comunicadora. Nas entrevistas com celebridades, tenta desmistificar o mundo dos famosos e mostrar que eles são “gente como a gente”. Também tem rodado o país com palestras sobre moda, lifestyle e empreendedorismo, assunto que passou a dominar depois de emplacar licenciamentos com seu nome, de itens como bolsas, óculos, sapatos e, recentemente, uma linha de bodies com a Shop2gether. Tudo isso sem deixar de abastecer seu Instagram.
Embora pareça que a carga de trabalho aumentou, foi a mudança profissional que despertou Mônica para o lado pessoal. De workaholic convicta, ela passou a administrar melhor sua rotina e não abre mão de dedicar um (bom) tempo ao marido, o cantor e produtor musical Afonso Nigro, e ao filho, Bernardo, de sete anos.
– É difícil equilibrar, mas dá. É questão de tempo. Já viu maternidade dar errado? É um amor que te consome, cada uma acha seu jeito.
Não são todas as pessoas que se jogam em áreas totalmente novas depois de uma carreira consolidada. Como foi deixar a Glamour e se lançar em uma nova carreira?
Para mim, era um passo seguinte bastante óbvio que eu teria de dar se quisesse continuar sendo eu mesma. Não combino com zona de conforto, para o bem e para o mal. Porque também nunca paro quieta, nunca está bom. Mais do que coragem, exigiu coerência com quem eu sou. E quem eu sou não é aquela pessoa que vai estar lá achando “aqui domino tudo, estou aconchegada, aqui que eu vou ficar”. Não sou essa pessoa. Para mim, foi um passo adiante e óbvio, o único que fazia sentido naquele momento.
O que essa mudança de vida trouxe de mais positivo?
Recebia muitos convites para fazer palestra, e não podia por conta do meu cargo. Vi que havia uma demanda por mim. Consegui construir uma rede de relacionamentos muito bacana na minha fase de Glamour. Algo de que me orgulho é de ter conseguido boas relações com atrizes, agentes, agências... Com toda a rede que se forma. Foi uma sorte grande minha. A nível pessoal, foi a melhor coisa que poderia acontecer. Passei 10 anos maluca, trabalhando muito. Vi meu filho crescer em um estado de trabalho muito feroz, intenso. Não gosto de dizer que perdi coisas porque tentava me equilibrar da maneira que era possível fazer, como todas as mães fazem. Poder almoçar com meu filho e meu marido praticamente todo dia, que é como acontece quando a gente consegue fazer a nossa agenda... Como ele é músico, também não tem horários fixos... Conseguimos construir nossa agenda, na medida do possível, em torno do Bernardo. Isso é uma coisa tão maravilhosa para uma mãe que trabalha... Conto nos dedos as vezes que fui levar e buscar na escola. Agora, colocar isso na minha rotina, e não deixar de viver com ele esses momentos, que minha mãe viveu comigo, é muito importante para mim. Me faz sentir privilegiada por ter escolhido esse caminho.
Mônica, você vai completar 20 anos de relacionamento e 13 de casamento com o Afonso. Como é manter uma relação há tanto tempo, com essa rotina?
A gente se conheceu muito cedo. Eu tinha 18 anos. Nos conhecemos numa boate superconhecida de SP, a Banana Banana, quando ele fazia uma novela. Mas eu reconheci porque ele teve uma fase da carreira muito forte em espanhol. Eu gostava desse tipo de música latina. Lembrava dessa época e fui falar com ele. Estava com minha melhor amiga, e apostamos que eu ia! Quando ele me conheceu, eu era um ser humaninho em formação. Tinha acabado de entrar na faculdade, tinha um monte de sonhos. Ele acompanhou cada fase minha de desenvolvimento, de moldagem, profissional, virando mulher, pagando as minhas próprias contas. E ele sempre foi um cara muito precoce, começou a trabalhar cedo em novela, no Dominó. Ele viveu comigo uma juventude que ele não teve, entre aspas, normal. Isso criou um laço entre a gente, uma conexão. Quantas vezes não chorei no colo dele dizendo que eu nunca conseguia um emprego e não sabia por quê, perguntando o que tinha de errado comigo. Foram 10 anos vivendo esse drama, de não me achar. Quando entrei na Vogue, me achei, mas demorou. Ele me acalmava, sempre me deu muito apoio. Sempre disse que ia rolar. Foi muito importante ele acreditar em mim nas épocas que nem eu mesma acreditava. A gente já teve milhões de crises, já quase nos separamos. Acho que é como todo casal, não é de mentira, é um relacionamento de verdade, queremos estar felizes. Já chegamos em extremos, de realmente quase. Mas acho que a gente não ia (risos). São muitas histórias juntos, muitas histórias significativas. Não consigo imaginar minha vida sem ele, nossa vida de família é muito saudável.
Você teve o Bernardo em um momento de ascensão na vida profissional. Teve medo de como isso impactaria na sua carreira?
Eu engravidei em uma época que planejamos, tirei o DIU e começamos a tentar. Achamos que era o momento, e foi bem rápido. Mas, quando estava com cinco meses de gestação, começaram os boatos de que haveria mudanças na revista, que mudaríamos de prédio, de esquema, e tudo mais. Daí comecei a ficar tensa, porque contratar uma grávida... Eu estava com sete meses quando fomos para a Globo, ia trabalhar um mês e pouco e sair de licença-maternidade, lidando com as mudanças da nova Vogue. Mudei toda a rotina e ainda mudei de casa, tinha que atravessar a cidade para trabalhar. Minha gestação foi confusa nesse sentido, mas estava superbem cuidada. Foi um período de incertezas, de apreensão. Foi punk. Mas o Bê nasceu bem, demorou para sair de dentro, teve que ser arrancado (risos). Junto de tudo, ainda tinha as incertezas que acometem uma mãe de primeira viagem. Tudo o que a gente conhece de si mesma muda. Nada mais vai ser igual do dia para noite. O Bê nasceu em dezembro, era um período mais calmo, pessoal em férias, ainda bem. Tive o medo clássico de que não ia dar conta, já não tinha tempo para nada, como vou encaixar uma criança em uma rotina caótica? Mas sempre dá certo, vai encontrando seu jeito de fazer. Vai colocar mais cedo para dormir, vai acordar mais cedo para ficar com o bebê. Acho que não precisa perder nada, nem o filho, nem o trabalho. É difícil equilibrar, mas dá. É questão de tempo. Já viu maternidade dar errado? É um amor que te consome, cada uma acha seu jeito.
Você teve algum constrangimento por ser mulher na carreira, algo relacionado a assédio e igualdade salarial?
Os meus mercados sempre foram muito femininos, acho que eram oásis no deserto. Porque são mercados essencialmente femininos, as mulheres eram escutadas. Afinal de contas, éramos os targets do negócio. Nunca passei por nada significativo ao longo da minha carreira. Algumas coisas pontuais por ser muito intensa, sempre foi assim nas minhas reações. Já fui chamada de histérica por alguns homens, quando se impõe com ênfase você é chamada de histérica. Se fosse um homem, ia ser alguém forte e determinado.
Hoje, as influenciadoras vêm conquistando cada vez mais espaço. O que torna uma pessoa, de fato, influente?
Acho que esse conceito está mudando. Tem muitas microinfluencers. Tem aquelas de 10 mil até 100 mil, atuando de maneira muito nichada. A blogueira plus size que só mostra moda para mulher com curvas, ou uma influenciadora só de uma cidade, um nicho geográfico. Mas, de maneira geral, a influenciadora tem um estilo de vida com que a gente se identifica ou que eu aspiro, é uma inspiração enorme. Entre o sonho e a realidade. Acho que a influenciadora joga com as duas coisas, o red carpet, e ao mesmo tempo você vai se identificar com o desabafo sobre a dificuldade conciliar carreira e filhos. A influenciadora é o pacote completo, foge do clichê da perfeição. Tem os momentos de glamour, mas também se preocupa com as questões mundanas.
Que influencers você vê como cases de sucesso, com um trabalho consistente?
Olha, a pessoa que mais amo e sempre cito é a Eva Chen. Ela é um jornalista que trabalhou como editora de beleza na Teen Vogue. Depois, assumiu uma revista que se chamava Lucky. Sempre me inspirei muito nela, nas cartas da editora, foi uma superinspiração. A revista fechou, e ela virou diretora de parcerias de moda do Instagram. Ela é americana de origem chinesa, tem uma vida glamurosa, frequenta as principais festas, está sempre com as modelos, nas semanas de moda. Mas, por outro lado, o que ela mais curte instagramar, passar da vida dela, é a convivência com os filhos. Ela tem dois filhos superpequenos, e a vida de americana é bem diferente, ela não tem babá, está sempre fazendo lanche para as crianças, a casa é um caos (risos). Essas agruras do dia a dia fazem eu me identificar com ela. Acho legal que, apesar de ela ter essa vida dos sonhos, de trabalhar com moda no Instagram, mantém os pés no chão e valoriza coisas legais. Ela é interessante por isso, mais do que pelo glamour.
A gente nota que o mercado de influencers ainda encontra mais ressonância com as mulheres mais jovens. Você acha que isso está mudando?
Está ampliando, sem dúvida. Tem pesquisas sobre isso. O Facebook já é uma plataforma que atrai gente mais velha. As mães e as tias estão lá, e a turma mais jovem inclusive quer sair do Facebook, se sente vigiada. Então, acho que é a prova de que existe gente mais velha acessando, interessada, com poder de consumo. As marcas já sabem disso, tem um mercado se abrindo. E hoje a gente vê também nas revistas e nos desfiles a preocupação de abraçar a diversidade não só de raça e gênero, mas também de idade. Muitas revistas bacanas estão fazendo capas com mulheres mais velhas, uma coisa impensável alguns anos atrás. Nas passarelas, também tem campanhas com mulheres mais velhas. O mercado está aquecido.
Em um dos licenciamentos mais recentes, você apareceu sem retoques para a campanha de moda praia da New Beach. Como foi a repercussão? E por que você escolheu fazer sem Photoshop?
Quando começamos esse trabalho, nem era a ideia inicial. Mas quando eles falaram assim: “Olha, Mônica...”. Mas não é que eu sou “a pessoa”, adoro um filtro também. Como todo mundo que vai tirar uma fotinho, uma selfie, você já vai ali colocar um filtrinho para ficar mais iluminada, duvido que tenha alguma criatura do planeta que não use o filtro. Mas, enfim, quando me chamaram para fazer moda praia, eu disse: “Gente, não sei se eu quero, vou me sentir um pouco ridícula. Não estou na minha melhor forma, gostaria de uns três ou quatro quilos a menos, tenho 38 anos, vocês fazem campanha com a Sabrina Sato... Por que vocês querem fazer isso comigo?”. Eles disseram que queriam porque eu aproximava a mulher real. Então, já que vamos falar de mulher real, quero fotos descontraídas, acho que tem que ter algum vídeo de conteúdo, porque minha história é conteúdo, e vamos fazer sem retoque. Daí questionaram que ia ter biquíni, mas eu disse: “Cara, vamos fazer”. Eu não ia me sentir à vontade de posar de gatinha só, não é isso que querem de mim, nem a marca, nem as pessoas, nem o que eu me sinto à vontade. Tem uma foto que estou com a barriga dobrada, e as pessoas podem falar: “Ah, mas com essa barriga até eu”. Bom, é a barriga que eu tenho. Malhei a vida toda, não estou na minha melhor forma, mas tem memória muscular. Estou cheia de celulite, para dar e vender. Foi meio corajoso. Perguntaram se eu queria tirar uma veia, eu disse que não. Tenho uma veia em cima da sobrancelha com que implico, mas mandei deixar. Aí foi muito legal, as pessoas comentaram. Tem gente que disse: “Ah, com esse corpo”. Mas é o meu corpo, eu gosto dele. Acho que passou o momento do clichê de perfeição no Instagram. Acho que existe uma volta a uma coisa mais crua, mais real. Observo isso, que ninguém aguenta tanta montação.
E como foi sua entrada no programa Vídeo Show? Já pensava em trabalhar com TV?
Ah, está muito gostoso. Estou há um ano e meio, passou muito rápido. Essa história surgiu quando estava na Glamour e já sabia que ia sair. Eu conhecia o pessoal do Vídeo Show porque eles gravavam nossos making offs de capa. Já tinha feito reuniões. Dentro da revista, eu já trabalhava muito o lado B. O que eles não revelam, aquilo que é mais interessante: o defeito do que a qualidade, um trauma do que o sucesso. É isso que você quer saber, quando o ídolo foi humano. A versão estrela todo mundo conhece, daí eu andava obcecada. Aí pensei em levar isso para a TV. Tive a ideia de escrever para a Kizzy (Kizzy Magalhães, diretora do programa na época), mas achei que ela nunca iria me responder. Imagina quantas pessoas não escrevem. Achei que podia ser uma ideia nada a ver. Para a minha surpresa, ela respondeu. Disse que tinha achado a ideia interessante e que ia apresentar para o Boninho. Ele gostou, fiz o piloto e deu certo. Aí assinei com eles. A ideia era um bate-papo descontraído, mais próximo da pessoa, sem equipe, sem toda a produção de TV clássica. Queríamos algo mais aconchegante. Daí surgiu a ideia da Selfie da Verdade. Hoje, tenho feito várias coisas, faço tudo, externa, closet, matérias ligadas ao universo da moda. Está sendo muito gostoso mostrar que tenho versatilidade, estou recomeçando nessa mídia. É provar para mim também que posso falar com vários públicos, entrevistar gente da moda e também um cantor sertanejo, por exemplo.
Que dica você daria a quem está num emprego estável, mas quer dar essa reviravolta também?
É difícil falar porque isso envolve questões financeiras, as pessoas têm contas para pagar. Obviamente, a ideia não é a pessoa ser inconsequente. Eu tinha uma reserva inclusive da rescisão. E, graças a Deus, tenho meu marido aqui, nada de ruim ia acontecer com a nossa família porque ele estava aqui se precisasse. A pessoa não pode ser inconsequente, é diferente de ousadia. Ousadia é bem-vinda com planejamento. Não deixe de dar esse passo. Mesmo com o clichê, só temos uma vida. Para ser feliz, viver com propósito, fazer feliz quem a gente ama, ser produtivo. É uma vida para tanta coisa.