Monica Iozzi conversou com Donna em um dia de muitos Amei e poucos Grrrr nas redes sociais. Naquele final de tarde, a atriz da série Vade Retro estava feliz e empolgada após um mês do movimento #MexeuComUmaMexeuComTodas, uma mobilização iniciada por funcionárias da TV Globo depois que a figurinista Su Tonani revelou ter sido assediada por um dos galãs mais longevos da emissora, José Mayer.
"Você não tem que ficar calada, constrangida ou até culpada (!) por ser vítima de uma violência sexual, moral ou física. Mulheres, nós não precisamos de julgamentos por parte umas das outras, nós precisamos de UNIÃO", dizia o texto da atriz naquele 4 de maio, no Instagram.
Quem acompanha a carreira de Monica desde que ela superou 28 mil concorrentes e entrou para o programa CQC, da Band, em 2009, sabe que opiniões ora provocativas, ora debochadas, mas sempre contundentes, são a tônica nas redes sociais. Mesmo trocando a cobertura ácida do Congresso pelas novelas da Globo, para onde a paulista formada em Artes Cênicas pela Unicamp migrou em 2013, a atriz continuou opinando sobre feminismo, sobre política - tema pelo qual sempre se interessou - e sobre o que mais lhe desse na telha.
Nas redes, ela já reivindicou e comemorou a queda do hoje ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, participou do viral "bela, recatada e do lar" e arrumou encrenca com um ministro do Supremo Tribunal Federal. No ano passado, Gilmar Mendes a processou por ela ter usado a palavra "cúmplice" ao questionar o habeas corpus concedido pelo ministro ao médico Roger Abdelmassih, processado por estupro. E para quem não vê com bons olhos o lado provocativo de Monica, a própria dá a letra: "Talvez você não tenha reparado, mas o mundo está ao avesso! Desculpe por não postar apenas selfies e looks do dia", dizia o texto publicado em 11 de maio.
Isso até o dia 12 passado, uma sexta-feira, quando a atriz se manifestou contra uma propaganda usando o nome da ex-primeira dama, Marisa Letícia. A repercussão foi tanta que, ao final do dia, Monica suspendeu suas contas no Twitter e no Instagram. Logo ela, que revelou a Donna usar seus perfis para divulgar o que há de relevante em meio a um oceano de fofocas sobre a sua vida pessoal:
– Se quer saber sobre mim, sobre a minha vida, vai nas minhas redes sociais. Lá está quem eu sou, e pelo material que está lá eu me responsabilizo.
No Facebook, a única rede social em que seu perfil segue ativo, Monica explicou a decisão, e desde então segue em silêncio: "Porque de vez em quando, por mais que ainda exista esperança, nos cansamos de repetir e defender o óbvio. Não significa desistir. Significa respirar fundo e esperar até que a alegria em lutar retorne. E, sim, ela há de voltar! Mas não agora..."
Volta logo, Monica.
"Minha vida não é novela pra ninguém"
Há pouco, antes de ligar para você, vi seu post comemorando o primeiro mês do #MexeuComUmaMexeuComTodas. Que balanço você faz do movimento nesse tempo? Continua firme?
Seguimos firmes e fortes, e com um grupo cada vez maior. A gente quer fazer um movimento não só para denunciar casos de assédio, mas principalmente para dar apoio às mulheres que sofrem. Levantar essa discussão, mostrar para a sociedade que isso acontece. É importante conversar entre a gente para ver como podemos nos ajudar. Depois de funcionárias da Globo, atrizes e diretoras (se mobilizarem em apoio à figurinista Su Tonani, que revelou ter sido assediada por José Mayer), vieram mulheres que não fazem parte da emissora, sequer fazem parte do meio audiovisual. É um grupo de discussão e de mobilização de 900 mulheres. A gente se apoia, discute, vai atrás de instituições que deem apoio a quem sofreu algum tipo de assédio. Estamos em contato com advogadas para dar orientação, fazendo reuniões com psicólogas, filósofas... De tudo.
E como esse movimento começou dentro da Globo? Partiu de quem?
Foram funcionárias da Globo, mas não as atrizes. Produtoras, assistentes de figurino, de maquiagem. Foi ideia delas fazer uma camiseta para levantar uma discussão interna a partir do que houve com a Su (Tonani). Aí, uma delas procurou algumas atrizes - eu, a Camila Pitanga, a diretora Maria de Médicis - para pedir o nosso apoio, só para a gente postar. Elas queriam que postássemos a frase ou publicássemos nas nossas redes alguém vestindo a camiseta. Mas aquilo tocou a gente de uma tal maneira... Porque a maioria esmagadora das mulheres que eu conheço já sofreu assédio pelo menos uma vez na vida. Então, a gente conversou entre nós, atrizes e diretoras, e resolvemos entrar para o movimento também. Foi o primeiro passo de algo que a gente espera que tenha uma abrangência muito grande.
Quem acompanha você nas redes sociais desde o CQC não deve ter se surpreendido, né? A audiência estranhou quando entrou para o cast da emissora uma atriz com um perfil mais engajado nas redes, com opiniões sobre feminismo, sobre política?
Acho o contrário. Se eu mudasse a minha postura por estar na Globo, aí sim as pessoas estranhariam. Porque fiquei quatro anos e meio completamente mergulhada no universo do Congresso. E sempre fui muito interessada por política, desde muito nova. O que fazia eu querer entrar no CQC, lá em 2009, era o meu interesse por política e por achar o estilo da cobertura interessante. Eu nunca quis entrar no CQC porque "Ai, eu quero trabalhar na TV" ou "Poxa, que legal ficar na porta das festas entrevistando celebridades" (risos). Sempre quis entrar por causa da cobertura política.
Você foi a primeira repórter mulher do CQC e logo de cara foi cobrir Brasília, que é outro ambiente muito masculino. Como foi se inserir nesses meios?
No CQC sempre foi muito tranquilo. Acho que eles ficaram felizes com a minha entrada. Sentiam falta dessa presença feminina. Agora, o Congresso, além de ser extremamente masculino, é extremamente machista. Nas quatro, cinco primeiras vezes que trabalhei lá foi chocante, porque eu sentia o assédio direto mesmo. Era comigo a coisa. O deputado achar que podia começar uma entrevista me tocando, tentando colocar a mão na minha cintura enquanto eu entrevistava. Tem isso nas matérias. Eles me elogiando para desviar da minha pergunta. Então, no começo, foi muito pesado. Eu nunca tinha sofrido nenhum tipo de assédio até eu trabalhar lá. Depois de um tempo, eles perceberam que não era porque eu era uma mulher que teria uma postura diferente dos meninos do programa. Inclusive acho que, de todos os que foram para Brasília, quem pegava mais pesado era eu. Mas foi um processo complicado.
E trabalhar com humor em um momento desses, ajuda ou atrapalha?
Talvez passe a impressão de ser um complicador, mas o humor dava uma espécie de licença também. Eu podia chegar no Paulo Maluf com um vale-passagem de avião para ele ir para onde quisesse, no intuito de que saísse do Brasil e fosse preso (risos). Esse lugar da ironia, da provocação, me dava muita liberdade. Até para reclamar de uma mão boba, por exemplo. Acho que eu nem conseguiria ser uma jornalista nos moldes tradicionais. Meu nível de revolta sempre foi muito grande para ir lá perguntar alguma coisa, ouvir a resposta e ficar de boa. Mas nunca foi meu plano trabalhar com humor.
Ah, não?
Não, nunca me vi como humorista. Não foi uma coisa que eu busquei. Sempre fui essa pessoa mais leve, mais descontraída, na minha vida privada, mas nunca tinha pensado em trabalhar com isso. Fiz teatro durante muitos anos e nunca fiz uma comédia, por exemplo. O lugar do atrevimento, do nonsense do CQC, é que foi trabalhando isso em mim. Eu me considero uma atriz com uma certa facilidade para o improviso e, quando necessário, tento levar esse improviso para a parte cômica. Mas é muito intuitivo também. No Vídeo Show, por exemplo, eu não parava para planejar nada do que ia fazer. Nunca escrevi um texto de humor, um show de stand up. O humor veio vindo de uma maneira que nem sei explicar como.
Você foi para a Globo para ser apresentadora e virou atriz ou o contrário?
O contrário. Apresentar foi outra surpresa na minha vida. De repente apareceu o Vídeo Show, que eu gostava muito de fazer. Era uma grande brincadeira, entretenimento puro. Não tinha nenhum outro intuito, senão entreter. Era muito divertido, eu me sentia muito à vontade, curtia muito fazer ao vivo. E criei um público que me queria muito bem. Brincávamos que era o programa preferido das donas de casa, das crianças e dos desempregados. Quero voltar a ser apresentadora, mas agora eu já estou com uma agenda bem cheia de dramaturgia até o começo do segundo semestre do ano que vem.
E a Celeste, de Vade Retro? Também há um humor mais ácido no texto da Fernanda Young?
Sim, mas é diferente trabalhar com o texto de outra pessoa. Talvez por vir do teatro, tenho um respeito muito grande por aquilo. O tipo de humor me agrada, porque é muito irônico, muito ácido. A minha personagem, se você for ver, não é engraçada. Alguns personagens e algumas situações são inusitadas, mas a personagem não é o engraçado da história. E também não acho que seja uma série de comédia. É uma série que tem comédia em alguns momentos, mas é uma história com suspense, que brinca nesse universo do extraordinário, do sobrenatural. Tem uma fotografia diferente, umas câmeras fechadas nos atores. E tem despertado curiosidade. Isso do Tony Ramos ser o "Abel Zebu", deixa as pessoas curiosas. O humor vem como uma pitada a mais.
Esse lugar da mulher que faz piada séria é seu espaço nessa nova geração de mulheres humoristas?
Pois é, como eu disse, não estava nos meus planos ser humorista. Mas muito me honra ser colocada ao lado de nomes como Tatá Werneck, Dani Calabresa, Thalita Carauta, enfim. Muita gente que trabalha com isso desde sempre. Acho que meu humor não é o da esquete nem o físico. É o do patético, de se colocar em situações absurdas. Acho que estou mais para Monty Python do que para Trapalhões. Mas não que eu não goste do mais escrachado. Eu amo tudo do Mussum. Adoro o Mr Bean. Só não sei fazer (risos). E pensando na minha infância, tenho lá minhas referências também. Lembro de eu criança vendo I Love Lucy na TV Cultura, de amar de paixão Nair Bello, Dercy Gonçalves, Fafy Siqueira, Claudia Jimenez.
Sabe que eu estava procurando algumas informações no Google antes de entrevistar você, mas foi difícil. Tive de pular umas três páginas de reportagens sobre você ter ficado com o Klebber Toledo. Como encara esse interesse pela sua vida privada?
(Gargalhada) Acho muito estranho, sabe? Talvez por não ser assim. Sempre fui fã de muita gente, mas nunca me importei se a Cláudia Abreu tinha filho, se era casada. Fui descobrir que o Chico Buarque era casado com Marieta Severo sei lá com quantos anos. Então, sempre tento deixar minha vida privada o mais privada possível. As pessoas têm um certo hábito de acompanhar a vida dos artistas como se fosse uma novela, e a minha vida não é novela pra ninguém. Aliás, não sou exemplo de nada. Levo a vida do meu jeito, do jeito que achar melhor. Então, se quiserem bater foto minha bêbada, se quiserem problematizar, aí é um problema das pessoas. Não vou deixar de viver o que eu quero porque as pessoas vão julgar. Agora, uma coisa eu te digo: passado esse tempo trabalhando em TV, não acredito mais em nada do que leio na internet.
É tanta fofoca assim?
Nossa! O que não é mentira é informação distorcida. Eu sempre penso: gente, se sobre a Monica Iozzi, que não é ninguém, inventam isso tudo, como vou acreditar no que publicam sobre a Madonna? Sobre a Ivete Sangalo? Sobre a Angelina Jolie? Fico um pouco triste, na verdade, porque me manifesto sobre tanta coisa, sabe? Já trabalhei tanto. Aí o que interessa sobre mim é o que eu fiz, com quem fiz. Então, sempre falo: se quer saber sobre mim, sobre a minha vida, vai nas minhas redes sociais. Lá está quem eu sou e pelo material que está lá eu me responsabilizo. E quando rola uma entrevista minha que acho que representou bem o que eu penso, faço questão de postar lá também.
Vai postar essa, então?
Vamos ver. Tomara. (risos)
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