O formato já havia sido testado em 2013, quando a jornalista Juliana Sana estrelou o programa Na Pele, no canal a cabo Multishow. À época, a gaúcha formada na PUCRS mostrou o cotidiano de pessoas vivendo a mesma rotina que elas, de sem-teto a stripper. Assim, transformou-se na funkeira “Juliana Puma”, mergulhou com tubarões, dirigiu uma cena pornô entre outras empreitadas ora excitantes, ora aterrorizantes, mas sempre inusitadas.
Em 2016, ano olímpico, Juliana e o método radical de jornalismo migraram para o Esporte Espetacular, da TV Globo, no quadro mensal Mulheres Espetaculares, sob direção do marido catalão Salvador Llobet, que ela conheceu ao longo dos oito anos estudando documentário nos Estados Unidos e Espanha. Depois de vivenciar a rotina de atletas olímpicas e paralímpicas, a segunda temporada tem foco em celebridades em busca de transformação.
Na estreia, Juliana acompanhou a amiga de adolescência Fernanda Lima na tentativa de executar uma desafiadora série de yoga em frente a uma mestre na Índia. O papo com Donna, por telefone, foi às vésperas do episódio do domingo passado, em que acompanhou o treinamento em jiu-jitsu de Paolla Oliveira (foto abaixo) para viver uma policial na próxima novela das nove, A Força do Querer.
De onde a ideia de viver na pele de personagens das reportagens?
Foi ao perceber, lá no início da carreira, que as reportagens e os próprios entrevistados ficavam mais interessantes depois de desligar a câmera. Por mais atenção que a gente dê ao entrevistado, passe duas, três horas com ele, quem ele é de fato não aparece. Aparece depois de um tempo. Para ser mais precisa, em geral no terceiro dia de convivência. E a outra razão é ser essa a melhor forma que eu, Juliana, encontrei para mostrar como são certas coisas. Por mais que entreviste, que filme, não tenho como saber como é estar em uma cadeira de rodas, por exemplo.
No programa do Multishow, a maioria dos episódios era com mulheres. Agora, na Globo, são exclusivamente mulheres. O que elas têm em comum?
Todas, pobres ou ricas, da funkeira da favela à medalhista olímpica, querem ser amadas pelas suas famílias e sonham com algo para as próprias vidas que elas consideram maior. E o curioso é que o sonho, às vezes, nada tem a ver com o que estão fazendo. Uma das funkeiras do grupo em que me inseri sonhava ser cantora gospel. A stripper não gostava da imagem sensual que projetava, mas realizava o sonho de viver da dança.
Como foi a transição de pessoas com profissões inusitadas para as mulheres atletas?
Fui ginasta dos seis aos 17 anos, então conseguia ao menos vislumbrar o sacrifício que ser atleta exige. Mostrei uma patinadora, por exemplo, que precisa treinar, se alimentar, mas não podia em hipótese alguma passar de 50 quilos. E não é porque ela era obcecada. Era porque, acima de 50 quilos, o salto dela não saía. É física. Um desafio era mostrar que toda esportista é esportista para ganhar, mas que bem poucas ganham. É muito perrengue, e inúmeras vezes a medalha não vem. Mesmo entre as que venceram, até lá elas perderam muito mais do que ganharam. Em meio a isso, elas são mães, elas são casadas, às vezes são deficientes... Então, imagina só.
E difere a estratégia para abordá-las?
Atletas são pessoas muito disciplinadas. Por vezes, solitárias no treinamento. Então, procuro chegar de mansinho. Com muita conversa, humildade. Isso de vivenciar o mesmo que elas serve como um facilitador. Quando te enxergam sofrendo o que elas sofrem – até mais, porque não sou praticante do esporte –, se solidarizam e se abrem com mais facilidade.
Agora, com celebridades, ficou mais fácil?
Por um lado, sim, porque costumam ser pessoas mais acostumadas com atenção, com câmeras ao redor delas. Agem com mais naturalidade a isso. Por outro, são mais reservadas em relação à vida pessoal. Tem um lado bacana que é mostrá-las como pessoas normais, sem maquiagem, sem papéis. A Paolla Oliveira, por exemplo, é uma menina supersimples.
O quadro deve exigir um grande investimento de tempo, de preparo físico e de produção imenso.
De fato. Entre a aproximação com a personagem, as semanas de filmagem e a edição, vai cerca de um mês de produção. E tem ainda a minha recuperação física. Não pensa que é fácil mudar da yoga pro jiu-jitsu (risos). O principal retorno é de pessoas que se sentem inspiradas por ele. Não necessariamente a praticar o esporte. Elas dizem: “Poxa vida, essa menina paraplégica está pedalando deitada em uma rodovia. E eu sem problema algum, aqui triste, sentada em casa. Obrigado por me fazer levantar”.
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