(Emily Berl/The New York Times) (Emily Berl/The New York Times) (Emily Berl/The New York Times)
Por Sophia Kercher, The New York Times
Em uma ensolarada manhã no Sul da Califórnia, nas colinas de Hollywood, a eterna pin-up Pamela Anderson revela se teve ou não medo quando fez seu primeiro implante de silicone.
— Nem tive tempo de pensar no assunto. Foi feito em uma semana e pronto — disse ela em sua voz sussurrada de menina.
Pamela usava sapatilhas pretas e um vestido branco que, apesar de discreto, não escondia seu físico voluptuoso bronzeado.
— Era bem coisa dos anos 80. Uma época diferente — disse ela brincando com um dos botões da roupa.
Foi um tempo em que os padrões de beleza não eram os corpos macios de Botticelli, nem os magros como o de Twiggy, nem aqueles com a aparência meio andrógina que agora dominam as passarelas. Quando Pamela, a canadense de olhos grandes, com 22 anos, chegou a Los Angeles, as mulheres que a intrigavam eram as loiras peitudas dos videoclipes da MTV e as coelhinhas dos anos 80.
— Eu via todas essas garotas nas paredes da Playboy, e dizia: 'Olhe esses peitos, esses corpos. Como isso é possível?'
Agora com 48 anos, Pamela recentemente se divorciou de seu terceiro marido e se recuperou de uma luta contra a hepatite C. Seus dois filhos estão crescidos, com 18 e 19 anos. Este ano, foi a último modelo nua na capa da Playboy, antes que Hugh Hefner colocasse a mansão icônica à venda. A edição dupla de janeiro/fevereiro marcou a última vez que as coelhinhas iriam aparecer em toda sua glória nua – como um sinal dos tempos, a publicação acabou ficando para trás na era digital, com a pornografia que toma conta da internet.
Pamela disse que Hefner ligou para pedir que ela aparecesse nua na última capa.
— "Ele diz que não há mais ninguém de Marilyn a Pamela —, disse ela. Seus olhos, de um azul profundo, brilhavam. —Como poderia dizer não? Fotografamos na mansão. Tive que rolar pelo gramado da frente pela última vez – nua.
Há alguns anos, seus longos cabelos loiros receberam um corte chique, curto, e o decote foi tapado para uma matéria estilosa na Elle. A fotografia mostrou ao público o que muitos à sua volta já sabiam: talvez ela seja mais do que a imagem de boneca inflável e os relacionamentos com os bad boys – como quando filmou uma relação sexual com Tommy Lee e usou um biquíni minúsculo no casamento com Kid Rock.
Em 2014, a Fundação Pamela Anderson, dedicada aos direitos humanos, animais e ambientais, foi apresentada em Cannes, França. Durante o evento introdutório, Pamela revelou que havia sofrido agressões sexuais frequentes quando era criança. Confessou que havia sido molestada por uma babá dos 6 aos 10 anos, estuprada por um homem de uns 20 e poucos anos quando tinha 12 anos e sexualmente agredida novamente aos 14 anos por seu namorado e seis amigos.
Seu filho Brandon estava presente quando ela fez o anúncio surpreendente.
— Falei com ele antes; ficou meio abalado, mas é importante ser honesta com os filhos. Assim eles podem entender algumas das decisões que tomei e porque sou como sou.
Dizem que a Playboy transforma as mulheres em objetos, mas Pamela acredita que a revista lhes traz poder. Foi também uma maneira de controlar sua própria sexualidade? A artista plástica de Nova York, Marilyn Minter que, em 2007, cobriu Pamela com glitter e a mostrou em uma série de retratos oníricos, acha que sim.
— É impressionante como as pessoas a subestimam — disse Marilyn, cujo trabalho explora emoções culturais muitas vezes complexas e contraditórias em torno do corpo feminino e suas imperfeições. — Pam sempre me intrigou porque acho que ela agencia sua própria sexualidade. Ganha a vida sendo pin-up. É extremamente bonita e não é um Svengali. É o oposto de Anna Nicole Smith ou Marilyn Monroe.
Marilyn não é a única artista plástica no círculo de Pamela. Quando perguntada quem considera seus amigos em Hollywood, Pamela disse que tem mais amigos no mundo da arte. Foi musa de Jeff Koons, que usou várias partes do seu corpo em seu trabalho, e é amiga íntima do fotógrafo David LaChapelle, da estilista britânica Vivienne Westwood e do artista pop do Sul da Califórnia Ed Ruscha.
— Ela deixa uma sala radioativa — disse Ruscha quando perguntado sobre a estrela. E acrescentou que ela conhece bem o mundo da arte e a chama de "diamante bruto".
A atração de Pamela pelas artes influenciou seu filho mais novo, Dylan. Hedi Slimane recentemente o escolheu para a atual campanha de moda de Saint Laurent: criou uma declaração de amor à costa da Califórnia em um curta-metragem em preto e branco estrelado pelo rapaz, com uma prancha de surf em punho ou dedilhando um violão.
— Acho que ele vai ser artista um dia — disse Pamela.
Seu brilho inimitável recentemente chamou a atenção de James Franco, que escreveu o perfil da atriz para a edição da Playboy, e os dois esperam colaborar em um projeto. Também foi abordada pelo diretor Werner Herzog.
— Ele me escreveu uma carta dizendo: 'Sempre quis trabalhar com você, sigo sua carreira e sinto que tem algo de muito especial; é capaz de coisas que talvez nem saiba' — contou ela.
É o mesmo sentimento que atraiu o jovem cineasta e fotógrafo Luke Gilford, que a chama de "símbolo sexual de sua geração". Ele se aproximou dela depois que viu suas fotos com o cabelo recém-cortado.
— Eu a persegui e ainda faço isso", disse, com uma risada. Os dois trabalharam em projetos de fotografia e cinema desde então. São vistos juntos tantas vezes que os tabloides prestaram atenção, chamando Gilford de "homem misterioso".
Em fevereiro, o Milk Studios em Los Angeles exibiu a estreia do curta de Gilford, "Connected", estrelado por uma Pamela sem retoques, chique e poderosa e, em algumas cenas, vulnerável. Sua personagem está no centro do filme e luta com as mudanças de padrões de beleza e com a idade.
— Foi ótimo fazer esse papel e mostrar a mesma coisa pela qual estou passando na minha vida — disse ela.
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