Fotos: Felipe Carneiro/Agência RBS Na festa em que celebrou 10 anos de casamento, Anaía posa ao lado do marido Jeco e dos filhos Joaquim (no colo) e Antônio. Foto: Marcelo Schmoeller/Divulgação
O sol de junho dá as caras em formato quase veranil na manhã deliciosa de segunda-feira, como se as manhãs deste dia da semana pudessem levar o adjetivo impunemente, quando Anaía Brognoli abre a porta de sua charmosa casa instalada em um dos condomínios do Rio Tavares, em Floripa. Dali, com apenas 15 minutos de caminhada por uma trilha é possível chegar à mítica praia da Joaquina. Zé, o simpático golden retriever que se aproxima dos estranhos pedindo chamego, logo é retirado de nossas vistas. Ele é "muito carente", diz a dona da casa.
Na residência da família, é fácil identificar elementos que integram a vida desta empresária de 35 anos. No dia a dia, ela comanda o departamento de aluguéis da Brognoli, a imobiliária criada pelo avô e que ao completar 60 anos em 2015 se mantém como uma das mais atuantes do setor na capital do Estado. Os elementos referidos são pilhas de CDs, coleções de vinis, violões, guitarras, baixos, bateria e um piano, posicionado em uma espécie de palquinho para os shows que hora ou outra surgem depois de um almoço ou um jantar mais animado. Na parede fotos de estrelas do porte de Elis Regina, misturadas aos registros do clã, decoram o ambiente.
– Mas eu não toco nada – dispara Anaía, já no tom bem-humorado que caracteriza nossa entrevista.
A música é o tema principal do bate-papo porque, além das seis décadas do empreendimento familiar, neste domingo há outra comemoração. Às 20h, a 11ª edição do Acústico Brognoli celebra os 10 anos do projeto com um tributo ao rock recebendo no CIC convidados, colaboradores e público em geral para um show com músicos como Grego Meintanis, vocalista da banda DasAntigas; Adauto Charnesky, baixista da Dazaranha e Guilherme Ledoux, baterista da Os Skrotes, entre outros. Como praxe, a apresentação conta com participações nacionais. Desta vez, também sobem ao palco Luíz Carlini, ícone da guitarra, e Paulo Miklos, do Titãs.
Anaía pode não ter desenvolvido nenhum tipo de coordenação nos incontáveis instrumentos que a cercam, mas cresceu envolta num ambiente musical, primeiramente pelo pai Marcelo, um dos criadores do acústico e presidente da empresa, e nos últimos 10 anos pelo marido Jeco, conhecido produtor musical da cena florianopolitana. "Quem não se apaixona por um cara tocando violão?".
– A música nos alimenta, ela sempre fez parte, a gente sempre ouviu muito rádio, aquela coleção de CDs é dele – aponta para um canto da sala onde repousam as relíquias do pai.
– A cultura sempre foi muito presente na nossa família, meu avô era pintor, esse quadro na parede é dele. Meu avô, formado em Direito, sempre foi muito estudioso, daí a gente entrou na música patrocinando eventos. Começamos com um chamado Grandes Nomes, Grandes Espetáculos. Houve um retorno muito grande, trouxemos nomes como Chico César e Djavan – relembra.
Para dar mais forma ao Acústico, se uniram à produtora Eveline Orth, grife estabelecida na área em Santa Catarina.
– Eveline tem boas sacadas, tem uma equipe que abraça, que compra a ideia. Ela também sempre fez questão de dividir a verba em cachê, camarim, essas coisas... Se pesa em nosso orçamento? Sim, pesa, mas é sempre gratificante. E aí, vamos fazer de novo? A gente nunca deixou morrer. Temos que vender pro presidente, que é mais fácil pois é meu pai, para os sócios, para os colaboradores – comemora.
Atualmente é o fado o estilo que costuma acordar a casa. Herança portuguesa de parte da família e de uma temporada de aventuras lá no finalzinho dos anos 1990 em que ela, ao lado dos irmãos mais novos, Marina – publicitária que mora em Nova York – e João, fotógrafo e videomaker responsável pelas imagens do projeto musical, acompanharam os pais em uma temporada em terras lusitanas.
– Meus pais sempre tiveram um lifestyle hippie, tanto que eu e minha irmã nascemos em casa. Quando fomos morar em Portugal, por um desejo de viajar e mudar de vida, lembro do violão que acompanhava meu pai. Ele tem até hoje.
Voltaram ao Brasil e Marcelo assumiu os negócios, criou os filhos no Continente e nos últimos tempos mudaram para esta casa bem próxima à Lagoa da Conceição, que hoje abriga, além de Anaía e Jeco, os filhos Antônio, 6 anos, e Joaquim, prestes a completar dois, além do irmão João. E, claro, o carente Zé, que assiste à entrevista e a sessão de fotos que acompanha este texto se espreguiçando no jardim, à beira da piscina, curtindo o outono atípico dos primeiros dias do mês. A decisão da mudança veio da mãe, que sabendo de um câncer que a levou há quatro anos, queria reunir toda a prole em um só ambiente.
Família festiva
Quando retomamos o assunto música, ela se declara apaixonada por Roberto Carlos. "Mas não da época da Jovem Guarda, da fase mais brega mesmo", dispara aos risos, se desdobrando em elogios ao Rei. Relembra que recentemente fez uma nova cerimônia de casamento, desta vez em casa, só para os íntimos. O casal trocou cartas de amor e ela foi ao encontro de Jeco no altar ao som de Proposta (Eu te proponho/ Nós nos amarmos/ Nos entregarmos/ Neste momento/ Tudo lá fora/ Deixar ficar...). Quis repetir a mesma música que a mãe escolheu quando casou. Caetano, Chico ("meu nome saiu do livro Fazenda Modelo, do Chico Buarque de Holanda, que na época meu pai estava lendo") e outros barões da música popular brasileira fazem parte de suas memórias, de suas histórias. Há uma edição do livro, inclusive na cabeceira, sendo revista. Quando adolescente fez balé clássico e jazz. Curtia Madonna, Prince, Marina Lima e George Michael.
Claro, com o marido imerso na música, é ele quem muitas vezes traz a novidade pra dentro de casa.
– Eu escuto muito a seleção dele, a música que toca (Jeco também é DJ), ele gosta muito de jazz, tenho muito isso de música clássica da infância, que ouvíamos nos finais de semana quando éramos crianças. Com ele me aproximei, inclusive, dos próprios músicos daqui. A gente teve uma época de namoro de MPB, ele tocava violão, eu cantava. Eu até me arrisco a cantar e adoro dançar – confessa, buscando na memória a vida noturna de lugares que o casal visitou mundo afora.
A mistura italiana e portuguesa resultou em uma família festiva. No mesmo piso da garagem, há um espaço batizado de Cave, uma espécie de boate para diversão onde cartazes de edições anteriores do Acústico Brognoli dividem espaço com guitarras Fender e pôsteres da Coca-Cola. Há ainda um balcão como num bar. Repousam baquetas e alguns brinquedos dos meninos, uma mistura que define um pouco do espírito de quem vive ali.
Antes de assumir um cargo na empresa, Anaía – que cursou Administração – apostou em uma paixão: a moda. Junto com a irmã criou uma marca de bolsas artesanais e circulou pelas feiras do Mercado Mundo Mix, evento multicultural que fez história na segunda metade dos anos 1990 reunindo música, moda e design. Foi criado em São Paulo, mas excursionou pelas principais capitais brasileiras. Quando já estava na Brognoli, fez MBA em Gestão de Pessoas. No trajeto entre a casa e a empresa, vai quase sempre ouvindo a rádio Itapema FM e isso define o ecletismo da personalidade. A trilha sonora pode ser calminha, voltada muitas vezes para a MPB, mas há um quê de rock'n roll correndo em suas veias.