Queria mesmo era escrever um poema nesta manhã de domingo gelada e silenciosa (tenho consciência que você pode estar em condição oposta, de pés descalços na praia ou preso a um congestionamento em que todos buzinam — mesmo assim, talvez consigamos nos conectar).
Ainda tocada pela leitura do livro Uma Hora de Fervor, de Muriel Barbery, me encontro quieta e reflexiva, que é o estado ideal para as depurações. Há certos dias em que o excesso nos consome. É tudo muito, demais. Vulgaridades, agressões, gritaria, exibicionismo, postagens. Noites curtas de sono, longas horas de espera, a saúde precária, os olhos tristes. A alegria fajuta dos programas de auditório e de campeonatos infinitos de futebol. Domingo pela manhã talvez seja um bom momento para descansar de tanta "vida" e preparar um chá, recostar-se numa almofada e olhar para o céu.
É quase impossível conversar consigo mesma cercada por tanto ruído. Não escutamos ninguém, ninguém nos escuta, e os desejos e dores que trazemos dentro ficam falando sozinhos. Surdez universal em meio ao caos. Agora entendo o fascínio que minha filha mais velha sente pelo Japão, onde ruas lotadas de pedestres são percorridas em baixo volume e qualquer pequeno jardim traz sua própria imensidão.
Aos 33, minha filha não é velha em idade, mas velha em sabedoria. Quero ficar tão velha quanto ela, a fim de abandonar o meu aflitivo aumento da aposta: querer mais, ir mais longe, saber tudo, esses ralis pessoais de esgotamento mental. O reencontro com a nossa essência é o grande prêmio de uma existência prolongada. Só perto do final é que se aprende a ser mínima e finalmente se enxerga o que sempre se manteve inteiro em nós. Ainda não cheguei lá, mas estou a caminho. Haja desapego para contrariar os alto-falantes que nos ensurdecem com suas palavras de ativamento.
Arte, amizades e filhos (se os tiver). Os três fios condutores da vida plena. Alimentos para o espírito, a mente e o coração. Alavancados pelo amor, que não precisa de palco e plateia, transcende nos bastidores. As aventuras que nos distraíram até aqui continuam sendo bem-vindas (viagens, festas), mas não precisam mais ser tantas e tão ofuscantes. Desacelerar não é desistir. É voltar a prestar atenção no que importa.
O domingo silencioso logo vai terminar e dar lugar aos frenéticos dias úteis, aqueles em que a poesia só consegue se infiltrar clandestinamente, e em que escutar a si e aos outros vira tarefa de titã. Ainda é difícil, para mim, abdicar da fúria ocidental que, mal a manhã inicia, me faz galopar até a noite, as horas sucedendo sem controle e as folhas do calendário caindo umas sobre as outras. Mas resolvi tentar. Até o fim do ano eu fico zen. Até que a vida acabe eu viro japa.