Somos 10 amigas do colégio, um grupo que atravessou todas as etapas de formação – passamos juntas pelos primeiros namoros, dores de cotovelo, viagens, vestibular, casamentos, filhos, separações, crises profissionais, perda dos pais e agora começam a chegar os netos. A gente se conhece profundamente, o que não significa que pensemos da mesma forma ou que levemos uma vida parecida, ao contrário, as estradas se bifurcaram. A Alice mora nos Estados Unidos, a Karin é professora do Estado, a Ana está quase se formando em Nutrição voltou para a faculdade depois que se aposentou. Este é o ano em que todas completam 60, e, para celebrar, havíamos combinado, com bastante antecedência, de alugarmos uma casa por uns dias a fim de recordar a época em que pegávamos a estrada, tocávamos violão na praia, dormíamos em barracos de pescadores – jovens do exército do surfe, como cantava a trupe do Asdrúbal.
Só que não sou fã de imersões. Quando chegou a hora, amarelei. Estava lotada de trabalho e de demandas pessoais: como abrir espaço na agenda só para dizer bobagens, comer, beber e pegar sol? Quando ameacei dar pra trás, fui chamada na “chincha” por uma delas, que me convenceu com um discurso comovente sobre a importância desse resgate afetivo e da confirmação dos laços, mas o argumento irrefutável foi: “Ninguém sabe como estaremos aos 70”.
Alugamos uma casa em Paraty Mirim, com acesso apenas por barco e um visual de dar inveja a balineses e tailandeses. São Pedro fez a parte dele, nos presenteando com um céu azul de doer, e a gente fez a nossa: não paramos de rir, desde o encontro no aeroporto, no trajeto de van até Paraty e a chegada ao local do confinamento, uma residência de três andares envidraçados, instalada no meio do mato e de frente para o mar, projetada para se integrar com a natureza e garantir dias de sonho aos seus locatários. Sonhamos, mas dormimos pouco.
É para vocês, minhas irmãs, essa coluna.
Se eu não tivesse ido, teria perdido o privilégio de azeitar ainda mais essa intimidade tão longa e rara. Fiz muitos outros amigos no decorrer da vida, alguns com quem tenho até mais afinidade, já que, ao amadurecer, a gente vai filtrando, selecionando, escolhendo quem caminhará ao nosso lado, mas entre mim e vocês foi explosivo, um Big Bang. Éramos crianças entrando na adolescência. Não havia papo cabeça, ninguém sabia o que seria quando crescesse, era só intuição, farra e amor, como toda amizade que brota sem interesse, por cisma do destino. Bendita escapada em meio ao caos, em plena pandemia, com o mundo de pernas para o ar. Ter aberto esse parêntese para a nossa alegria juvenil, mesmo que por uma lasquinha de tempo, é que nos impulsionará para os 70 com o mesmo pique (otimismo, sisters!) e as mochilas feitas.