Estava dentro do carro, presa num engarrafamento, escutando música. Enquanto esperava o trânsito fluir, fiquei observando o céu azul e algumas árvores. O dia estava lindo e Domingos Oliveira estava morto. Um homem essencialmente emocional, que tinha um olhar encantado pra vida, que dirigiu filmes, escreveu peças e deixou registrado em livros sua convicção de que nada é mais importante do que os encontros e desencontros, os desejos e as dilacerações que caracterizam a nossa humanidade. Eu o admirava tanto, e quando ele se foi, não pensei "que perda". Pensei apenas que ele mereceu morrer em casa ao lado das pessoas que mais amava, e que tudo havia sido um ganho, então, sem drama: só restava dizer "obrigada, Domingos, obrigada, obrigada, obrigada".
Vida
Quando eu me for, deixarei uma impressão positiva sobre minhas atitudes e pensamentos?
Se ao cair do pano, ninguém tiver nada a nos agradecer, de pouco serviu ter vivido
Martha Medeiros
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