O título deste texto entrega: rapazes, o assunto é com vocês, pois mulher, quando ronca, é em baixo volume, sem perturbar as relações conjugais (ok, em tese). O ronco masculino é de outra categoria: a dos rugidos aterrorizantes que fazem a gente ter certeza de que dorme ao lado de uma fera que foi esfaqueada na jugular e está nos estertores da sobrevivência, berrando sua ancestralidade primitiva.
Passados muitos anos após o fim do meu casamento, admito que adoro meu ex-marido, mas já o desejei matar inúmeras vezes enquanto dividíamos os lençóis, e o assassinato só não foi efetivado graças a um dispositivo chamado divórcio, que não dá cadeia. Essa alternativa pacífica – o divórcio – ainda traz uma vantagem, mesmo que pouco honrosa: a vingança. O ex terá uma nova namorada, é evidente. E ele se apaixonará por ela e esquecerá a anterior, que agonizou por anos a seu lado na cama. Pois. Enquanto os amigos desejam felicidade eterna ao novo casal, é uma satisfação secreta imaginar que, após algumas madrugadas juntos, a felicidade eterna dos pombinhos estará por um fio. Quá quá quá.
Porém, mistério: a fera esfaqueada na jugular começa um novo relacionamento e simplesmente deixa de roncar. Ao menos deixa de roncar daquela forma vulcânica e perversa que impedia que se pregasse o olho a noite inteira. Não é justo. Depois que meu ex-marido e eu nos separamos, ele disse que nenhuma outra namorada se queixou do ronco dele. Nenhuma. Que elas até achavam bonitinho o ronronar dele. Ronronar!!! Quando estava comigo, o querido virava um ogro selvagem assim que pegava no sono, e agora as namoradas dele dizem que nunca escutaram nada que justificasse estrangulá-lo. Eu pergunto a ele: e sua apneia? O que elas dizem a respeito? Nunca comentaram nada, ele responde. COMO ASSIM, NADA? Você quer me deixar louca? Era desesperador. Era infernal.
Aí me ocorre que, depois de separar, eu também tive namorados. E, pensando bem, nenhum deles roncava. No máximo um ronronar – pois é, um ronronar. Quando eles reclamavam que suas ex-mulheres enchiam a paciência por causa de seu ronco, eu, a santa, tomava o partido deles, lógico: era implicância, amor, você dorme feito um anjo.
Por favor, especialistas, ajudem a decifrar esse enigma. Estou prestes a declarar que os homens começam a roncar só depois de um ano de relação, por aí. Talvez exista algum mecanismo que os impeça de soltar aquele som cavernoso no comecinho do romance. As vias respiratórias dos homens apaixonados talvez não fiquem obstruídas. Ou, sei lá, toda mulher em fase de encantamento é ligeiramente surda. Depois se acumulam os anos de convívio, vem a rotina, o hábito, o tédio e o ronco, nessa ordem. Será?
Estou preocupadíssima. Em início de namoro. Ele ronrona, apenas.