Lembro que quando eu era criança e estava num lugar onde havia muita gente, tipo uma praia ou um ginásio, me diziam que, se acaso eu me perdesse, não deveria sair do lugar, pois só assim alguém me acharia. Ficava em pânico _ como assim me perder? Devia ser uma tática pra eu não me movimentar muito, e funcionava, grudava nos meus pais e nunca me perdia. Mas talvez tenha levado essa regra a sério demais.
Estudei sempre na mesma escola, do primeiro ano primário ao terceiro científico (hoje Ensino Fundamental e Médio). Morei dos 11 aos 25 anos no mesmo apartamento. Até hoje, meus melhores amigos são os da adolescência. Fui casada por 17 anos. Lanço meus livros pela mesma editora há 30. Sempre tive vocação para manter, preservar, insistir. Não me arrependo de nenhum desses investimentos afetivos, mas é preciso cuidar para não ficar fanática demais pela imobilidade. Ela cria uma ilusão de segurança, mas ninguém é mais criança e se acaso nos perdermos, outros caminhos se abrem.
Hoje a palavra movimento é que me define. Ficar parado no mesmo lugar por muito tempo engorda, engessa. Pessoas resignadas não renovam as ideias, acomodam-se às suas certezas, perdem a capacidade de encantamento, pesam com seu excesso de mesmice. A questão não é ser feliz ou infeliz _ qualquer um pode ser feliz sem jamais sair da própria rua. A questão é se a monotonia não acaba sendo meio letal, aquela história de morrer lentamente, mesmo respirando.
Sempre cabe mais gente dentro da gente, mais vida dentro de nós. Não é preciso abrir mão de amigos antigos para fazer novos, não é preciso abrir mão da profissão para testar-se em outras atividades, e há uma corrente que diz que nem mesmo é preciso abrir mão do seu amor para namorar terceiros _ taí o poliamor para quem é um ser elevado, eu não sou. Mas, de resto, topo conhecer, xeretar, ver qual é. Meus verbos se expandiram. Acredito numa existência larga, elástica, e se antes me sentia segura com o câmbio em ponto morto, agora digo "lá vou eu", e vou.
Pra onde estou indo? Pra uma aventura chamada canal no YouTube. Além das colunas de jornal, vou dar pitacos em vídeos curtos que serão renovados a cada quarta-feira na internet. O nome do programa: M de Martha. É só assinar e me seguir, o primeiro episódio irá ao ar dia 26. Se acaso detestar, não me conte, pois sou muito sensível. Eu mesma terei a decência de recuar caso essa mídia não for a minha. Mas, se der certo, te cuida, Felipe Neto.
Que essa coluna sirva como estímulo pra quem tem a mesma cara de pau e anda a fim de dar uma agitada na rotina. Quanto às crianças que se perdem de seus pais, vale à antiga regra: que fiquem paradas até que alguém as encontre. Movimento é para os grandinhos que podem assumir riscos.