Já se falou que um romance, para engatar, precisa acontecer entre pessoas que tenham muitas afinidades. Outros defendem que os temperamentos é que têm que combinar. Outros, ainda, dizem que não pode haver tanta diferença de idade, ou situação financeira discrepante. Amor à distância? Ele em Rondônia e você em Floripa? É dar muito crédito ao Cupido, melhor esquecer e procurar algo mais perto do seu quintal.
Falam, falam, falam. E quanto mais se fala, menos escutamos. Mergulhamos fundo em relações caóticas, o que quase todas são, pois dificilmente dois seres humanos se reconhecerão como almas gêmeas, esse troço que dizem que existe, mas que aqui em casa nunca bateu a campainha.
O jeito é virarmos experts no gerenciamento do caos. E lá vamos nós amar, sofrer, viver em êxtase, viver aos prantos, apaixonados e desapaixonados, tontos pelos altos e baixos dos nossos desejos, os explícitos e os secretos. É isso ou sair do jogo, resignando-se à única relação que realmente pode durar para sempre: você com sua (bendita ou maldita) solidão.
Todo esse preâmbulo não é para desanimar ninguém. Sou da turma que diz: vá! Tenta com o bonitão e com o feioso, com o surfista e com o tiozão, com o socialista e com o neoliberal (quer tentar com a bancada evangélica, sorte aí). Vá ao encontro dos seus iguais, e também diga sim para os que você pressente que, após duas semanas, nunca mais. O amor pode estar encruado onde você nunca imaginou encontrá-lo, então use as ferramentas que te deram e boa sorte na extração. Não conheço outra aventura na vida mais educadora e mais estimulante – muitas vezes, mais frustrante também, mas qual é a alternativa?
Desistir de amar não é uma alternativa, é apenas uma estratégia para se proteger de futuras decepções.
O amor dá certo até quando dá errado, pelo simples fato de ter acontecido, mas se você pleiteia a eternidade conjugal, lembre que ficha corrida (“inteligente, bonito, divertido”) não garante nada. O sucesso depende apenas de algo que em bom português se chama timing: surgir na hora certa.
Os dois se encontram quando ambos já demitiram o tal Cupido, esse impostor. Os dois se encontram quando programaram os mesmos filmes para assistir até o fim dos dias. Os dois se encontram quando têm problemas parecidos que nunca serão resolvidos e tudo bem. Os dois se encontram quando a libido continua tão valorizada quanto o cérebro. Os dois se encontram quando ambos já abriram mão de suas idealizações, mas ainda gostam de conversar sobre elas. Os dois se encontram com as malas feitas e os passaportes em dia, só aguardando a chamada para o embarque. Esses dois abençoados estão aptos para o amor eterno pela simples razão de terem se conhecido quando desejavam a mesma coisa da vida. Querer o mesmo é que dá match.