Seja quais forem as circunstâncias, acordar em Paris é acordar em Paris. Pode ser mais longe, além da Boulevard Périphérique, o cinturão em volta do cartão postal, que é o meu caso. Fato é que acordar em Levallois-Perret, meu caso, é muito bom. Sem falar que o metrô acaba com qualquer distância, para o lado que for.
Acordar, a bem da verdade, não é exatamente a palavra, já que quase não tenho dormido. Além do trabalho que vim fazer, e que me faz voltar sempre tarde para a Rue de Grefulhe, o apartamento em que estou é de propriedade de uma gatinha, a Zoé.
E a Zoé se comporta como o que é de fato, a dona do campinho. Ignorante da vida felina, tomo um susto a cada uma das 2.875 vezes em que ela pula na cama durante a noite. Para dormir novamente, levo um tempo. E fico vendo as notícias daí.
Ciclone que passou foi menos intenso que o anterior. Autoridades alertam para um novo ciclone.
Acredito que, mesmo a pessoa tendo nascido em Paris, ela não se cansa de admirar a cidade todos os dias. Sujeito emerge do metrô e dá de cara com um prédio de 500 anos, um monumento de seis séculos, uma rua que parece saída de um livro de história. Tudo devidamente misturado com consumo, trânsito, muita gente, barulho e o que mais acompanha um lugar desse tamanho.
Quando cansar, basta sentar em um dos milhares de cafés e observar a vida que passa. Sabia que todo café é obrigado a servir pão, água e, me garante um amigo, manteiga de graça, mesmo se você não quiser nada do cardápio? Não sou tão muquirana, sempre peço um café. E aproveito para dar uma olhada nas notícias daí.
Sobre consumo, o que salva nessas horas é que a rua, por si, já sacia os desejos em Paris. Os olhos chegam a ficar empanturrados de tanta beleza. Mas mesmo com o meu firme propósito de não comprar nada, as livrarias e os brechós têm alguma coisa de magnéticos, só pode. Impossível passar sem entrar.
Foi numa dessas que vi pendurado em uma arara lotada de roupas um vestido de paetês prateados por 15 euros, menos de R$ 80. Eu preciso de um vestido de paetês prateados? Claro que não, mas sempre quis ter um – e ainda mais por 15 euros. Peguei sem nem experimentar.
Já estava no caixa quando reparei o forro branco do vestido manchado de cima a baixo... de sangue. Eu tinha um crime nas mãos. O grito saiu antes até de pensar, e em seguida saí eu da loja. Quem mandou ceder à tentação? Para recompor, um banco de praça e as notícias daí.
O Conselho Estadual de Cultura deixou a Feira do Livro de fora da LIC nesse ano. Será que o governador Eduardo Leite vai dar apoio para a Feira não minguar?
Uma das melhores coisas – entre as tantas que já rolaram nesses poucos dias – foi ir ao show do nosso Chico César, chamado de Chicô por essas bandas, em uma casa na área da Gambetta, que concentra salas de espetáculos, teatros, ateliês.
Muito legal ver a francesada da gema cantando as músicas do Chicô e dançando Mama África com o desgingado mais entusiasmado possível. Só por curiosidade, a baixista e a baterista da banda quebram tudo. Vale procurar: @simonesouoficial e @anakarinasebastiao. E as notícias daí?
Depois de cinco anos, as investigações sobre a morte da Marielle avançam.
Dessa vez, troquei o café por uma taça de vinho para brindar. Até que enfim. A água e o pão vieram de graça. Eu nem queria, mas não fiz a desfeita.
Tim-tim.